Mural do Veaco
Quando da época em que a rede Globo esteve realizando filmagens, integrando as comemorações do aniversário de vinte anos da emissora, ouvi muitas histórias de como a pequena Paredão de Minas, distrito de Buritizeiro, virou de pernas pro ar. E de todos os casos, o que mais me chamou atenção foi porque o nome de Tony Ramos foi incluído no SPC Rural.
Paredão de Minas virou de pernas pro ar, sim, mas não por pouca coisa. A filmagem da minissérie "Grande Sertão: Veredas" trouxe para o noroeste do Estado, nomes de peso como Tarcísio Meira, Bruna Lombarde, Mário Lago, Tony Ramos e muitos outros. Daí que, pessoas de toda região, seja de carro chic, a cavalo, bicicleta, carona ou a pé, rumavam, aos montes, pra lá, na ânsia em ver de perto os Globais ou, como pensavam os da região, tentar uma participação, seja ela na tela ou na terra!
Entre um e outro, Paredão de Minas atraiu de políticos à pescadores, gente de mamado a caducando, atingindo a soma fantástica de mais de duas mil pessoas, quando sua população não passava de 1.000 habitantes. Por isto, se o talento não fosse reconhecido, serviço pipocava outro lado! Tinha lugar pra todo mundo. E foi com a mente neste ganho, que o fotógrafo, que aqui chamarei de Roberto, achou uma forma de tirar uns cobres a mais.
Entre um e outro, Paredão de Minas atraiu de políticos à pescadores, gente de mamado a caducando, atingindo a soma fantástica de mais de duas mil pessoas, quando sua população não passava de 1.000 habitantes. Por isto, se o talento não fosse reconhecido, serviço pipocava outro lado! Tinha lugar pra todo mundo. E foi com a mente neste ganho, que o fotógrafo, que aqui chamarei de Roberto, achou uma forma de tirar uns cobres a mais.
De Olympus Modelo Md-35 - Made in Japan, partia, todos os dias, de Buritizeiro pela tortuosa estrada de areião e cascalho, rumo a Paredão. O seu alvo eram os conhecidos; gente que aparecia vestido de jagunço ou quenga, de boca retocada pra realçar as falhas na dentição. Daí, saiu assim; clicando daqui e trocando rolo de filme dali. Depois, com as fotos reveladas, expostas em um painel gigantesco, aguardava o reconhecimento do cidadão.
No início, até que deu certo. De fato, uns reclamavam, eu não pedi pra tirar foto de mim!, mas ele não dava assunto: tem que levar! É ocê ou num é?, e botava tudo no preço, incluindo traslado, comida, cigarro, pinga e o trocado, fora o salário do mês. Nesta conta ai, bateu foto de Deus e o mundo. Agora sim, num dou nem dois mês, já tou de Opalão! E chupando um palito de fósforos, rodado na boca de um canto a outro, o Clark Gable Sertanejo acreditou estar vivendo seu sonho dourado. Seguiu assim: ora vendendo, ora guardando foto nas caixas. Mas, um dia, descobriu: as fotos estavam encalhando. Isto por que teve gente que não foi buscar a foto. Não adiantou o menino chamar, os recados atrevidos, nem carta de cobrança. Tinha fotografia, há tempos, engavetada!
Por isto, pra salvar o prejuízo, Roberto fez o mural dos maus pagadores, onde pregava as caras dos que não reconheceram seu trabalho. E pra reforçar sua ira e revolta - apertar o sujeito mesmo! - deu o nome do painel de:
VEACO
Obviamente, isto deu algum resultado. Muitas pessoas da cidade, no desespero em retirar a cara do SPC Rural, correram e pagaram pela foto não encomendada. Porém, muitos, nem thum!, inclusive Tony Ramos.
Por ser solícito, amável e normal, Tony Ramos circulou, naquele período, por entre os moradores, tranquilamente. Tamanha descontração do moço atraiu simpatias e proximidades do povo ribeirinho. Era gente de casa, gente da gente, e não era perseguido; era normal! Por isto, Roberto dera um clique nele! E incluiu, deliberadamente, o Toninho, entre aqueles que tinham obrigação em comprar suas mal-fadadas fotos! Acreditei que era gente boa, esbravejou. Por isto, colocou a foto do bom moço no mural dos maus pagadores. E ela ficou um bom tempo lá, ao lado de tantas outras, até que, desbotada, foi dada como conta perdida.
Daí, resolvi escrever estas linhas, pra quem sabe,o Toninho ou Tony Ramos, possa ler. E saber que em Paredão, a cidade que ainda guarda Sidraque, Dona Nadir e um tanto de gente, tem as lembranças e os corações cheios de saudades!
Quanto ao Mural do Veaco, preocupa não. A foto, fui lá, conferi: expirou!
Quanto ao Mural do Veaco, preocupa não. A foto, fui lá, conferi: expirou!
Olá minha bela e doce Valéria,
ResponderExcluirQuerida amiga, você sabe que amo seu jeito gostoso de escrever.
Deliciei-me com o conto.
Quando a gente vai lendo, já vai imaginando o final e me enganei com uma palavra, pois, do modo como sou, não querendo deixar um artista tão famoso envergonhado, terminaria assim: "Quanto ao Mural do Veaco, preocupa não. A foto, fui lá, conferi"... e comprei...rsrs...
Você é uma escritora maravilhosa. Te amo querida e fique com a paz e a proteção de Deus.
Carinhoso e fraternal abraço,
Vovó Lili
Faz isso com o cara não. Ele é meu xará. Ainda bem que já expirou... então tá limpinho de novo.
ResponderExcluirLendo a história dá pra ver o quanto uma novidade muda o ritmo de uma cidade inteira e a vida das pessoas.
Imagino o quanto o Amores no Velho Chico não vem mexendo com a vida das pessoas. Revolucionando é a palavra mais apropriada.
Como diria alguns irreverentes cariocas: "é nóis na fita!"
Cada vez que vejo as onze horas abertas parece que tem um pouco da Valéria no canteiro.
Parabéns pelo post!
Abraço do amigo ausente, mas presente na lembrança.
kkkkkkkkkkkkkkk.. comédia hein Valéria.
ResponderExcluirNossa que displante dele sair tirando fotos e querer obrigar os outros a comprar..kkkk Sem noção de tudo ele......Mas realmente uma história digna de ser contada e compartilhada. Claro você deu show de bola a parte narrando ela, como sempre. Aliás ontem escutei uma coisa que é verdade, o que faz uma boa história é a maneira como ela é contada, isso sim faz toda a diferença.
Beijos no coração miga!!!! Te adoro viu!
Márcia Canêdo
ah, Valéria! como gosto dos teus causos!
ResponderExcluirEu também, como Lilian, pensei ...ela comprou!mas você é criativa demais! Olha, tua história me deu uma idéia, afinal gosto à bessa de tirar fotos...será que vou presa aqui, se fizer isto? kkk..........(certamente!)
Beijos
Vera.
Valeria,
ResponderExcluirEu to aqui rindo dos comentarios.... o do xará então... e viu?! debaixo d'água ele é capaz de comentar fazendo gracinhas! kkkkkkkkkk Bom, o final que Vovo Lili deu é bem interessante! Se fosse uma novela, já tinha algumas opções!
Queria contar uma coisa, depois de tantos anos... expirou mesmo! kkkkkkkkkkkk
Beijos
Querida Valéria 1000.
ResponderExcluirQue maravilha este conto minha amiga!
Da realidade para ficção ou
vice-versa, sua narrativa é sensacional!
Eu fiquei curiosa com o título, e valeu muito ter vindo aqui, me diverti muito !
Adorei!!!
Beijos mil
Ah, mas que delícia de história!
ResponderExcluirAo ler, até viajei para Paredão...
Abraço
Ele quis dar a "volta" e deram uma "revolta" nele. Boa história.
ResponderExcluirJC
Legal, Valéria, essa do Veaco. É bom recordar historietas. Traz a cada um de nós que lê, outras... lá do fundo da memória.
ResponderExcluirGrande abraço!
Que Post Fantástico!
ResponderExcluirAmiga Valeria:
A sua Crônica além de hiper interessante traz a doçura e registra um acontecimento notável. Revirou, revolucionou e contagiou tantas pessoas, e a Olympus Md35 deve ter sido a sensação dos rapazes, moças e tantos que aproveitaram a novidade para fazer um lindo postal. Fiquei aqui imaginando quanta alegria contagiou o povo e demais artistas.
Agora essa do Mural do Veaco é sensacional!
Parabéns por mais um magnífico Post!
Abraços fraternos,
LISON COSTA.
Achei!
ResponderExcluirFiquei meio confusa por uns tempos...
Não sabia se era o blog era do Velho Chico, ou seria o Velho Chico e você, como uma unidade indissolúvel...
Só sei que tenho por ti o maior carinho e respeito desde que li a sua entrevista no Arte e Café!
Grande beijo.
Que história incrível!
ResponderExcluirCertamente, não havia nenhum fã do ator global por lá, mas tudo bem, vestido de jagunço, nem compraria a foto rsrsrsrs
Abs
Olá, Valéria!
ResponderExcluirMais um belo e informativo texto, parabéns!!!
Bjs!
Rike.
Compartilho com a Lilian o "Olá minha bela e doce Valéria"!
ResponderExcluirEstava aqui estressando, querendo ler uma boa história. E nada melhor do que recorrer às linhas delicadas da querida Valéria Melo.
Adorei a história do Paredão de Minas. Há um tempo, a Globo esteve no pequeno distrito de Santa Rosa de Lima e, imagino eu, deve ter acontecido causos semelhantes. Vou pesquisar para contar detalhes para vocês... rs
abs,
Valéria, que história deliciosa! Ainda estou aqui a rir dessa figura ímpar.
ResponderExcluirBeijos!
Ááá´whuá há háá´´ mas que cara de pau, eççe "retratista", rs! Agora, falando sério, o que ele fez, ou faz, mesmo num evento público, é crime ou, menos pior, é muito errado; usar ou expor imagens sem autorização, é ilegal. Ele deu sorte, que não encontrou para enquadrar, um "Lampião moderno", senão, estaria enrolado, rs!
ResponderExcluirAdorei o texto, muito bom!!!
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