tag:blogger.com,1999:blog-52171167316169855722024-02-19T04:29:32.831-08:00O Caso das HistóriasValéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.comBlogger30125tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-13578868138964284852012-01-30T17:00:00.000-08:002012-11-09T07:51:47.089-08:00Lembranças, açucar e pimenta<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7V7CxXiK9A1FnSvo1Yvry-jDw4wteKwa8nOlahZc3tQkIctU2-rrSqiv6jlOocJvCxhvs7JJmqINpY0cDiUi9ozneUOReXcJ5LLwGKeQM4ZrgUnYV-ywlIsk2jLzjOa5wCVGWUi6OiVif/s1600/lembran%C3%A7as.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7V7CxXiK9A1FnSvo1Yvry-jDw4wteKwa8nOlahZc3tQkIctU2-rrSqiv6jlOocJvCxhvs7JJmqINpY0cDiUi9ozneUOReXcJ5LLwGKeQM4ZrgUnYV-ywlIsk2jLzjOa5wCVGWUi6OiVif/s320/lembran%C3%A7as.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Para fazer vidro de pimenta, é preciso
selecionar as mais maduras e, sem os talos, coloca-las em vidros limpos, imersos
numa boa aguardente. Se quiser que arda mais, é bom acrescentar azeite. Óleo
de pequi da um toque diferenciado. Acrescenta uma pitadinha de sal e pronto.
Tampa o vidro e o deixa esquecido um tempo. Dependendo da pimenta que escolheu,
poderá arder muito ou pouco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ontem, fiz dois vidros. Um de arder de
verdade com a pimenta picada na faca, e outro, mais ameno, para as visitas, com as vermelhinhas inteiras. Só
não sabia que as minhas mãos iriam ficar pegando fogo, logo após o processo. Com a
cidade sem luz, passei horas com as mãos imersas em água com açúcar. Olhando pro nada, lembrei-me de Chiquinho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Um poodle que dei de presente para
minha filha que queria um Vídeo Game de quase 2 mil reais. Ora esta, pensei
diante do preço, pra que uma moça, quase Polícia Federal, graduada e de faixa
escura do <i>Jiu-Jisu</i> e <i>Muay Thai</i> e com uma agenda lotada, age
assim? Dai, em uma destas andanças pelo rio São Francisco, eu vi um rapaz vendendo um cachorrinho caramelo: era o
bebê Chiquinho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Coloquei o bichinho nos braços dela, em
meio à festa. “<i>Presente é pra quem ta sem
assunto</i>”, disse-lhe diante do seu olhar maravilhado. E ele, ao lado dela,
virou mais um morador de apartamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Arrojado, petulante e metido, Chiquinho
tornou-se membro da família. A gente só não entende o que ele fala, porque não
aprendemos “<i>au-au</i>”. Mesmo assim, nos comunicamos bem. E o peludo não se faz de rogado: arrasta a sua coberta,
na hora de dormir. Carrega a vasilha na boca, pra mostrar que a água acabou.
Mas é só um cachorrinho. Mesmo que, às vezes, eu ache que ele não entenda bem
isto.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwb5jeL35aUFozy0SEgvSql10WeKCt6Vrzk6kerO4KB3f_VgNkIdbedWGntdt0TOLeRdqj8qpJgnLyR0vySWtgj9pnbFkHDZhOfIKap8LakZca_iAhs8VO4AXVVsQzaqc8VsgDe27Xpz9b/s1600/chiquinho+de+olho+no+verde+do+quintal.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwb5jeL35aUFozy0SEgvSql10WeKCt6Vrzk6kerO4KB3f_VgNkIdbedWGntdt0TOLeRdqj8qpJgnLyR0vySWtgj9pnbFkHDZhOfIKap8LakZca_iAhs8VO4AXVVsQzaqc8VsgDe27Xpz9b/s320/chiquinho+de+olho+no+verde+do+quintal.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Depois de passar uns 15 dias na minha
casa, que tem cara e jeito de fazenda, ele e minha filha foram embora. Ficaram as fotos e as lembranças. A cara
de Chiquinho diante do verde. O silêncio estupefato diante dos micos no telhado
da cozinha. A primeira vez ele que viu uma galinha! A alegria por poder brincar com
outros cachorros e correr livremente pelo quintal. O churrasco de carrapato ao qual foi vítimado! (Nossa, aquilo deu um trabalhão pra resolver). E o mais inesquecível de todos:
seu olhar diante do verde.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu1ZO76bUZu7j8_Pbwcp7JUqpIq_2arIf0S0Mn-MgR-Ys7k0CDhUenED5Fk_cCWBi9CeXoXbxGxE1gK7Km-w_jLALHwx-P5ZIfI5Xbed7SRN_e_rMimN89U_4NuKd0JJtmCRRpASpZbL_V/s1600/os+olhares+da+fossa+de+Chiquinho.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu1ZO76bUZu7j8_Pbwcp7JUqpIq_2arIf0S0Mn-MgR-Ys7k0CDhUenED5Fk_cCWBi9CeXoXbxGxE1gK7Km-w_jLALHwx-P5ZIfI5Xbed7SRN_e_rMimN89U_4NuKd0JJtmCRRpASpZbL_V/s320/os+olhares+da+fossa+de+Chiquinho.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Pois é, eles voltaram pra cidade "grande" e hoje
recebi a notícia que Chiquinho anda deprimido. Diz que vai da euforia, a tristeza. Isto
porque passa horas olhando para o nada, suspirando. Depois fica barulhento.
Mostra a porta, entrega a guia. Quer sair. Mas, na rua, fica mais agitado
ainda, talvez procurando o que não existe na cidade de pedra. Nem os passarinhos
que ele adorava ver pela janela. Muito menos os bois. Ontem, minha filha me contou que Chiquinho estava de barriguinha pra cima, e de
vez em quando, só de vez em quando, olhava para o lado querendo confirmar a presença da sua fiel
companheira. Depois, entre um suspiro e outro, entregava sabe-se lá, as lembranças do dia que alçou voos pelo verde."<i>Chiquinho esta na fossa</i>", disse-me ao telefone.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Agora você deve estar se perguntando,
“o que tem haver a pimenta, mãos submersas em água e açúcar e, Chiquinho?” </span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Aparentemente, nada. Mas se olhar bem, com olhos da alma, verá que é como estar
diante de um fato que não pode mudar. As mãos ardem, mas a doçura com que a gente imerge nas deliciosas lembranças, faz diferença. Faz valer a
pena. Mesmo que arda.</span><o:p></o:p><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Chiquinho vai sarar. A fossa passará. São as pimentas da vida, na vida de todos nós.</span></div>
<br />Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com29tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-65971797089488025522011-11-12T12:38:00.001-08:002012-11-09T07:59:24.562-08:00O gosto do que se gosta<div style="text-align: justify;">
Respondendo ao convite de <a href="http://marymiranda-fatosdefato.blogspot.com/">Mary Miranda</a>, <a href="http://maesso.wordpress.com/">Tônia</a>, e <a href="http://www.dihitt.com.br/usuario/laudelinof">Laudelino </a>eis aqui, o MEME com as 10 coisas que mais gosto. E para falar destas coisas, antecipadamente, quero que saibam: acredito que tudo o que tenho, me foi emprestado. Então, eu gosto da liberdade de não ter pesos nas costas. Eu só carrego a mim mesma e vivo as sensações que "coisas" produzem. Portanto, <i>das coisas que convivo</i> na vida, minha casa guarda a maior parte de tudo o que mais gosto! E eis-me aqui no meu primeiro dia de folga, para falar dos sentimentos e pessoas que me provocam o prazer de ser e estar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E o dia começa com uma boa notícia. Achei minha carteira! E esta é uma sensação muito boa. Todos os documentos, as fotos da família, o trocado pra passar o fim de semana, tudo certinho! É bom demais, viu? Ela estava dentro do meu carro. Eu gosto muito do meu carro: o <b>Jerimum</b>! (apelido que dei a ele por ser minha carruagem cor de abóbora)</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHYH5JkUW3mnTqnZ6UdYYLhoueIfO-_1sF8rWgv1BtLH3Gq1sP-EjEB6Md1lN4DDS9-GybVAoOS0OZIrEMMTGHCmd3iXbQQufyX8XNdH5pu-zjh8CxGGm2BQcMQk6mjjgj0xpNHbY12gx6/s1600/jerimum.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHYH5JkUW3mnTqnZ6UdYYLhoueIfO-_1sF8rWgv1BtLH3Gq1sP-EjEB6Md1lN4DDS9-GybVAoOS0OZIrEMMTGHCmd3iXbQQufyX8XNdH5pu-zjh8CxGGm2BQcMQk6mjjgj0xpNHbY12gx6/s320/jerimum.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
Então, é hora de comemorar. Ou melhor, relaxar do estresse que passei. Que tal uma <b>super, mega, hiper-gelada?</b> No som, música de Michael Bublé, Mariza, Emerson Nogueira, Norah Jones, umas pitadas de Zizzi Possi, Ana Carolina e a coisa vai esquentando... Zeca Pagodinho e outros. <b>Gosto de dançar</b>! O som daqui é muito bom! Então, que tal escancarar as janelas? Gente, eu tenho um quintal lindo. Olha só na foto:
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicNSDTBCWx9rpBW_8j6Yo5cofUdEWXOkd_78CWmk1tFOXPk3PJnqqr2KZZUKeNRJ0WABMhyphenhyphen6gJzVKVeCQ2FM5VJLUShk5P4BuX9fxN5Son6GyyXMmE1gcEUhQ2xyfNl17HDrnmSZfx7oxr/s1600/DSC08452.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicNSDTBCWx9rpBW_8j6Yo5cofUdEWXOkd_78CWmk1tFOXPk3PJnqqr2KZZUKeNRJ0WABMhyphenhyphen6gJzVKVeCQ2FM5VJLUShk5P4BuX9fxN5Son6GyyXMmE1gcEUhQ2xyfNl17HDrnmSZfx7oxr/s320/DSC08452.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
E por estas janelas, <b>nesta paisagem</b> que mais parece uma pintura, passam Araras, Tucanos, Pica pau, Beija flor, Bem-te-vi, João de Barro (além de besouros, sapos, cigarras e micos) e lá no fundo, na maior árvore que vc vê, bem à direita, tem um casal de águias. Eu hoje dei plantão aqui deixando a filmadora de olho neles, mas eles não quiseram mostrar a cara. Devem estar caçando. Ou já se foram. Os bichos são bonitos na sua<b> liberdade e plenitude</b>. É o que digo a eles: "<i>Eu não vou na sua casa, pra você não vir na minha!</i>" Nada de domesticar bichos!</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Depois das cervejas (já foi o tempo que eu passava de quatro unidades) é hora de tomar um <b>chuveirão</b>. Estou apenas alguns metros do rio São Francisco e a água é tão boa, tão limpa que além de brilho no cabelo, revigora o corpo. E fica a esquerda na foto, bem ao lado da namoradeira.
</div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPHvh5v22tfRHevhVkMeaXNM_DhYFEoQVfXBM0TTwxRmlxKHC3I28a7VyRfmMfXBnDpM6ra3bXsH7D9YZUyvfmTkJqplIIkUbdZ19eVOmUA9OLIHcteg4nU7isxrn0129A2YVcYJdOmZMd/s1600/DSC08447.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPHvh5v22tfRHevhVkMeaXNM_DhYFEoQVfXBM0TTwxRmlxKHC3I28a7VyRfmMfXBnDpM6ra3bXsH7D9YZUyvfmTkJqplIIkUbdZ19eVOmUA9OLIHcteg4nU7isxrn0129A2YVcYJdOmZMd/s320/DSC08447.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Com a passarinhada livre e solta, a musica mexe comigo por isto dou umas reboladas e com a vassoura servindo de microfone, canto junto com Maria Gadú. É perfeito! Faltou o que? Vamos comer alguma coisa? Pois então, que tal uma moqueca de camarão? Ou um peixe frito? Ou assado? Pacuman é feio, mas é super saboroso. E eu <b>gosto de cozinhar</b>! Na minha mesa diária tem muito peixe, queijo, sucos e produtos integrais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pronto, depois de arrumar a cozinha, me ajeito em frente à Tv e vou assistir a um <b>filme</b>. Gosto de documentários, histórias da vida real, uma boa comédia, desenho animado ou dos filmes que passam no canal Cult. E antes de ir dormir, uma passada pelas redes, no <b><a href="http://www.amoresnovelhochico.com.br/">Site do Amores</a></b>, uns vídeos no Youtube, dizer "olá" para<b> meus filhos</b> pelo skype, falar com amigos dos cantos do Brasil em especial de Portugal (<a href="http://cronicasdamulherdumbebado.wordpress.com/">Luísa</a>). Aproveito e faço uma foto pela webcan, pra quem não me conhece. <i>Helloo</i>! Esta sou eu! Cara limpa, cabelo assanhado. Cara de ressaca, né?
</div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoj5YQkP5SzhxPjCvzhMNdP4I2p9rVaMru5oLhItwwRsfagI353fo-idUJ0dK0PHxEkKR1z4uURvhXIVC3wgiw35SOEIe2IVtEkIgmQBQTlt1c0TDMv723kmD-gI_tE2rzB_YPx4wzpajx/s1600/156544_173900209305680_100000571075797_510490_287847_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoj5YQkP5SzhxPjCvzhMNdP4I2p9rVaMru5oLhItwwRsfagI353fo-idUJ0dK0PHxEkKR1z4uURvhXIVC3wgiw35SOEIe2IVtEkIgmQBQTlt1c0TDMv723kmD-gI_tE2rzB_YPx4wzpajx/s320/156544_173900209305680_100000571075797_510490_287847_n.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
E eu estou bem e tranquila. Nada melhor do que uma casa arrumada e organizada e a gente de alma limpa, pronta pra <b>sonhar</b>.
Sim, hora de traçar o planejamento com o que pretendo fazer amanhã, estabelecendo novas metas, analisando os passos que já dei e agradeço pelo dia! O sono tá distante, por isto, vou para um dos <b>livros </b>na cabeceira (<a href="http://www.monalisadepijamas.com.br/cantinho-das-monas/a-vida-sexual-da-mulher-feia">A vida sexual da mulher feia</a>, - Claudia Tajes -<i> não é auto ajuda</i>) e estou quase dormindo, quando o celular toca. É <b>ele </b>quem dá sinal de vida. Falamos dos nossos segredos e atiçamos a saudade. Amanhã, ele chega. Diz que tem um presente pra mim. E eu espero que seja o próprio.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Como viu, gosto das coisas simples e sou muito objetiva no que faço e quero. As chances são poucas e por isto, no que faço, procuro sempre ir mais além. É assim a <b>vida</b>. E ela acaba, um dia a gente morre. Então, me esforço para fazer e ser melhor, porque passar por aqui tem que valer a pena.<br />
<br />
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/FIOhn0dncKE?rel=0" width="420"></iframe>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-88215855353359781672011-07-02T18:13:00.000-07:002011-08-03T08:09:21.164-07:00Morte Encomendada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrBHcXdOF_6K5nxgFUsEkPRZmEwfVsEmsTqQ8QEGis4C3-Z1YgP6Kcv9Cw5_ab5_fxUWfoKSYcLEO8bCZc5lQS2KkkADV0ztIMuzomyOaSGPJntjCNVdRtoQLX3wSLL4VnRqhWCFdxD1XF/s1600/foto+dihitt.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrBHcXdOF_6K5nxgFUsEkPRZmEwfVsEmsTqQ8QEGis4C3-Z1YgP6Kcv9Cw5_ab5_fxUWfoKSYcLEO8bCZc5lQS2KkkADV0ztIMuzomyOaSGPJntjCNVdRtoQLX3wSLL4VnRqhWCFdxD1XF/s320/foto+dihitt.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O negócio era matar o sujeito. E Nildo queria tudo enterrado e sacramentado na esperança de ter de volta sua vida pacata. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Vivia encafuado com a possibilidade de protagonizar o fim daquele moleque desde a hora em que viu o merda lambuzar, de mão cheia, a bunda de Tereza. Ah, aquilo mudou sua vida! Tudo bem, o fato era passado de dias, já devia até ter esquecido, mas ele não tinha engolido a afronta. Era o sapo grande demais grudado na goela a lhe amargar a boca, revivendo em cada segundo a hora mastigada. <i>Maldito canalha que lhe deixara as vísceras reviradas! Agora vivia o ódio retido</i>. Por isto, só por isso, vinha enchendo a cara da <b>Cachaça do Brejo</b> na esperança, não de cura ou descarrego, mas de amaciar a aversão que sentia por si mesmo, por se ver covarde, inerte, abobado em seu brio ferido. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pensa cabeça, pensa</i>, ruminava entre uma tragada e outra. Mas os sorvos da cachaça só lhe incitavam as lembranças, apunhalando, feito fogo, o desgosto cravado no peito.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">______________________________________________________________</span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;">Nesta parte da lembrança, </span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;">até prende a respiração.</span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666;">____________________________________________________</span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><br />
</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">De tudo sentia nojo. Da voz escachada no ouvido da nega gostosa, do som do tapa, da mão girando, depois, de baixo pra cima, "<i>tchaa</i>", assim, seco e direto, chicoteando o traseiro da mulher. Depois, o grito que ela deu, a risada que o homem soltou, o mugido seguro entre as mãos na ignomínia do riso. Nesta parte da lembrança, ele até perde a respiração. Acende o cigarro e mergulha no sangue fervendo das veias. As imagens continuam se formando. </span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;">Agora vê a si próprio, a girar o rosto esbugalhando os olhos, a boca despencar, talvez até a tenha mantido aberta por m uito tempo! Ah, corpo sem ação, sem reação, morto! Nada fez! </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;">guardou</span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;"> a cara do maldito!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A cachaça lhe apresentava apaziguamentos. Não que sentisse paz. Apenas porque lhe trazia a mente as mais variadas formas de se vingar. Um tiro, uma facada, talvez o machado fosse o mais certo, mas não antes de lhe cortar as mãos. Depois, vencido, se lambuzaria do sangue do execrado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;"><br /></span></span></div>
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Iria preso, mas o que importava isto? Tereza até podia chorar, mas amargaria o dia em que, balançando o corpo no vestido colorido deu brechas pra´quele sujeito. Se ele ficasse na cadeia, talvez ela vestisse preto, talvez enlutasse a alma até o fim dos seus dias. Não, não faria isto! Do jeito que tem se comportado, iria era tripudiar da sua dor, lembrá-lo de sua covardia, do seu desleixo, e no instante seguinte, se arranjaria nos braços de um outro qualquer. Pensa, cabeça, pensa!- ruminava Nildo, na volta cambaleante pra casa.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span style="line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large;">___________________________</span></span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<blockquote>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;"> Sonho ou realidade?</span></span></blockquote>
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">Nildo encontra a solução!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">_______________________________</span></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Anda bebendo demais,- interrompe o vizinho ao vê-lo tentar acertar a chave na fechadura de casa - o que tá acontecendo, filho de Deus?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Talvez, porque o homem tenha lhe chamado de filho de Deus ou porque já não aquentava mais, de certo foi que Nildo se abriu com o preocupado vizinho. Contou sua amargura, das suas dores, em todas as cores, falou até das sentimentos mais íntimos, </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;">até </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;">no desprazer de tocar no corpo da mulher.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Agora não é dia nem hora pra resolver isto - respondeu o vizinho informado - mas amanhã, quando ocê tiver sarado desta carraspana, vem na minha casa, que lhe ajudo na questão. <o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A esperança fez Nildo dormir. Noite inteira, um sono só, sem resmungos nem pesadelos. O dia amanheceu rápido, cheio de energia, vestido </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;">de banho morno, barba e café. E foi caminhando pelo quintal que a solução foi colocada nas suas mãos: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;">- A gente chama ele de Benfeitor Ubirajara - </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;">cochichou</span><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;"> - acho que nem desse mundo ele é ! </span></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;"><br /></span></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;">E lhe entregando um envelope fechado </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;">completou</span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;">:</span></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;"><br /></span></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;">- Aqui tem sua apresentação e minhas recomendações. </span></span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;">Ele não gosta muito de falação.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"> Leva junto a foto do sujeito ouve tudo com muita atenção. O homem é seco que nem couro esticado, ta acostumado com estas coisas. Vai te encontrar na rua de baixo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large;">_________________________________________</span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">Cara a cara com o matador</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">_________________________________________</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;">O homem era magro. Até demais. S<span class="apple-style-span"><span style="color: black;">entado sobre os calcanhares</span></span> trazia no pescoço mais colares do que a própria Tereza que, vaidosa por si só, nem poderia imaginar ter. Fumava um palha, cuspia o tempo todo olhando ora pelos lados, ora de baixo pra cima, tudo no canto do olho. Lê as recomendações, chupa o dente, ejeta catarro no chão e cobre a gosma com o dedão do pé rachado.</span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Fala o nome do morto - manda<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Teotônio Macedo da Cruz.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Aponta a direção de onde ele esta -mandou de novo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E Nildo, tremendo de medo e exaltação, apontou para o norte. O Benfeitor, ainda abaixado, estica as mãos e dedilha os dedos compridos no ar, pedindo a fotografia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Vai pra casa - disse após de mirar a foto longamente - a morte já tá encomendada. De hoje, a um mês, ele tá morto. Mas vou dar dois tiros. Só dois. Se não matar, é porque não tem jeito.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A fala rasgada do Benfeitor ainda zunia no ouvido de Nildo, quando completou: </span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- A paga. Você tem que fazer meu pagamento. Mas não quero dinheiro não, ouviu? Ocê vai ter que ir a igreja 30 dias, mandar fazer 30 missas, rezar pra mim em segredo 30 dias e no dia da morte do caboclo, ocê tem que tá no enterro e ajudar a carregar o caixão! </span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O olhar do Benfeitor Ubirajara, agora pregado no dele, não deixou dúvida, nem mais conversa: o assunto estava encerrado.Deu de costas e saiu, sem nem olhar para traz.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span style="line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large;">_________________________________________</span></span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">Trinta dias cumprindo o pagamento! </span></div>
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">Se fazendo de fervoroso e rezando </span></div>
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">até para parente de quinto grau</span></div>
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">_________________________________________</span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;"><br /></span></span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;">O tempo seguiu seu caminho de fazer rodar o relógio em abrir o dia e fechar a noite. Nildo, com a desculpa de querer paz pra toda família, mandou celebrar missa todos os dias do mês. Fez questão de espalhar a notícia, </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;"> se fazendo passar por fervoroso e praticante, rezando até parente do quinto grau. E quando já duvidava da promessa do Benfeitor, a notícia veio lhe bater à porta: Teotônio morreu!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Foi de chapéu preto e cabeça baixa. Alcançou a alça do caixão, primeiro de todos e quase chorou, quando viu a cara do finado. O homem estava esturricado! </span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O povo comentava, assustado, a sina do coitado. Nasceu retardado, cresceu sem deixar de ser criança e o raio que o matou, veio duas vezes do chão. Um bateu do lado esquerdo, ele até pulou, mas a outra, a certeira, subiu, rodou e foi parar bem no meio do topo da cabeça, fazendo encher de brasa, em um só instante, o menino gigante.<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span style="line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large;">_________________________________________</span></span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: large; line-height: 18px;">Foi sonho ou aberração?_________________________________________</span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-size: large;"><br /></span></span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Quem me contou esta história foi o Nildo. O pobre nem bebe mais. Anda atrás do tal do Benfeitor Ubirajara que ninguém conhece, nem nunca ouviu falar. Deve ser por isto que vive numa rezação sem descanso. Tereza diz que virar doido é coisa de família. Ela cuida dele, mas de medo, botou o marido pra dormir no barracão. Outro dia andou esfregando aquele traseiro enorme no vizinho. Deu um bate-boca danado. Mas isto... ah, isto é outra história!</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><b><i>VéiChico</i></b></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-56282996417827928882011-06-20T04:49:00.000-07:002011-11-20T15:33:50.487-08:00O Amor e a Vida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.baixaki.com.br/imagens/wpapers/BXK20759_lago-e-luar800.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://www.baixaki.com.br/imagens/wpapers/BXK20759_lago-e-luar800.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E o Tempo fecha suas comportas, parando o mundo, quando Santiago sai do escuro e dá de cara com Alice. O clarão, vindo da Lua, emoldura os corpos, frente à frente, no brilho e no cheiro da pele que respira por inteiro o estado <i>ao vivo e em cores</i>. Ela, com jeito agreste, enrosca pelo ombro encabulado e ele sorri "amarelo", na continuação dela. Silenciados de frases e complementos, absortos no pisca-e-abre do olhar curioso de se ver por inteiro, apenas sorriem. Enquanto se escaneiam, ao redor, emudecido e estagnado feito estátua, o Mundo Imperativo assiste ao espetáculo humano audacioso.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Foi Alice quem primeiro tocou levemente sua boca na dele, minutos depois. Seja bem-vindo à minha vida, meu bem!! - foi só o que disse a ele. Santiago sorriu com os olhos e retribuiu o roçado, num jeito satisfeito, ainda que meio de lado, com covinha na bochecha e tudo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Temos que ir – ela interrompeu – o céu ta escuro, vem chuva por aí.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas o destino, que tem pressa e por isto não deu trégua, embananou o caminho, aproveitando, quem sabe, do efeito enebriante que a emoção trazia. Pois, o que era para ser percorrido em linha reta, se abriu em círculos e viadutos, num sobe-e-desce de estradas cada vez mais confuso. Eles já tinham andado por horas, no "é aqui, é ali", até se darem por convencidos que estavam ao contrário da Cidade-Porto. E quando, madrugada alta, cansados, encontraram um lugar para parar e por as ideias e o rumo no prumo certo, foram recebidos por um sujeito sonolento, grudado na bíblia, para falar o que o destino queria:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Vocês estão com sorte – arrematou. Só tenho um ultimo quarto e é de casal. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Aquilo não estava nos planos. O combinado era se descobrirem e se encontrarem no tempo de cada um...se este fosse o tempo certo. Mas o moço, que esticou a mão e entregou a chaves, se despediu sonolento, trancando o hotel lotado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Eu vou beber alguma coisa – disse Alice, assim que a porta se fechou.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas foi só quando entrou no quarto, depois do banho, que alguém, bem de longe, ligou o som e impregnou o ambiente. É a nossa música - concordaram, quase que instintivamente. Alice dançava, rodopiando, rindo e brincando. E foi numa dessas voltas que se virou, viu Santiago aos seus pés, sorrindo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Linda – ele disse. Você é linda!!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Então, ela parou e se ajoelhou junto e em frente a ele. E, como se quisesse se embriagar, sugou-lhe o cheiro do peito até o rosto. Frente à frente, ele a beijou pela primeira vez e desta vez, enlaçando-a pela cintura, nas mãos pelas costas, pelos cabelos, ele homem e ela sua mulher, encharcados um no pêlo do outro, em meio a cheiros, suores e a terra molhada da chuva que caia pela janela. De certo, dois seres lavados de suas dores, saudades, medos. Desnudados de complexos, conceitos e preconceitos, numa entrega lenta e saboreada, perfeita como todo Amor deve ser. Estava sacramentada a união dos que um dia estiveram separados, sabe-se lá por quê. Por isto, depois daquele, muitos dias amanheceram e anoiteceram, e com eles risos, emoções, descobertas, num amor doce e intenso, no cheiro do café coado, das panelas fervilhando, temperos na mesa posta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://camimarq.files.wordpress.com/2008/05/pao_de_queijo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="232" src="http://camimarq.files.wordpress.com/2008/05/pao_de_queijo.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas, tudo que tem princípio, tem meio e fim. E assim, o último dia, a despedida, também chegou. Isto porque ambos seguem horas, horários, contas que vencem, gente que espera, muita gente... Ambos sabem as marés de cada um.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alice reconhece a exatidão do tempo. Santiago acha que as certezas têm que ser escritas como cartório, porque já andou a esmo demais. Na realidade, ninguém sabe nada de nada. A vida cobra, o tempo ri: buscar certezas a onde? Chega a ser inexato fugir da dor se esta faz parte do prazer. Mas é o que buscam!! E quem aqui, em sã consciência, dirá que estão errados? NInguém tem tempo a perder e todos se perdem no tempo. Mas voltemos. Eu só quero contar a história e não analisar o certo e errado de cada um.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Só tenho a dizer que Santiago voltou para seu canto e Alice para o dela. Como a vida é. Tum-tum-tum tem que se acomodar e esperar. Até que os pingos estejam nos is. O que acontecerá, só o tempo tem para demonstrar com certezas. São tantas buscas, todo mundo cansado de errar... Tem tudo pra acontecer, mas tem muito pra se jogar pra cima pra que tudo aconteça. Porque no mundo e na hora todos tem no compromisso o que cada um fez da vida. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Aqueles dias, em que foram apenas um, capazes de abraçar o destino e serem humanos, naturalmente humanos, agora clamam pela exatidão das cartas certas, a minimização de erros. E a roda da vida, implacável, ri desta besteira toda, dizendo que, no fim da vida, o que conta são as plenitudes vividas e não as coisas acumuladas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Feliz, cumprida a missão por ter dito e feito o que queria, a Vida, irmã do Destino, retorna ao seu ritmo normal, com buzinas de carros e celulares que tocam sem parar, e deixa os amantes no tempo de cada um. Eles se vão, misturados ao zum-zum-zum das abelhas, dos cavalos desembestados, dos profetas, dos pássaros de fogo, as estrelas e do Tempo, do beijo soprado pelas palmas das mãos, dos sussurros e dos medos, do Rio e do Mar; agora atendendo aos chamados...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até Deus volta a cuidar de outros incautos, pra quem sabe, tentar 70 vezes 7 mostrar o que ninguém tem coragem de ver. Foi Ele quem criou o mundo, mas este anda sozinho. É o jeito moderno de sobreviver. Ironia, não é? Muita ironia!!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b style="color: blue;"><span style="font-size: 85%;">- Tudo junto e misturado -<br />
<br />
</span><span style="font-family: georgia; font-size: 130%;"></span></b></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b style="color: blue;"><span style="font-family: georgia; font-size: 130%;"></span></b></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b style="color: blue;"><span style="font-family: georgia; font-size: 130%;"></span></b></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b style="color: blue;"><span style="font-family: georgia; font-size: 130%;"></span></b></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b style="color: blue;"><span style="font-family: georgia; font-size: 130%;"></span></b></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b style="color: blue;"><span style="font-family: georgia; font-size: 130%;">F I M</span> </b></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><b style="color: blue;"><span style="font-size: 78%;">da primeira parte</span><br />
</b></span></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-18611675529481529802011-05-16T19:00:00.000-07:002013-08-21T21:14:59.680-07:00Terra de Pequi<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br />
</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br />
</span></i></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4tlrmpfH6T2osSh1zJ68nmQR-UbtyM1899q8o3nXhDFfuYkKWF_wZr8f8Uy3MTv5-CGht7wlCrQA2492VTsvIOh5bL78MR85YwoEeMJ-aU2bt3if3F-Wy8Oc6HWuC2g2Khfmo8V85AWkw/s1600/FLOR+DE+PEQUI2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="152" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4tlrmpfH6T2osSh1zJ68nmQR-UbtyM1899q8o3nXhDFfuYkKWF_wZr8f8Uy3MTv5-CGht7wlCrQA2492VTsvIOh5bL78MR85YwoEeMJ-aU2bt3if3F-Wy8Oc6HWuC2g2Khfmo8V85AWkw/s320/FLOR+DE+PEQUI2.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br />
</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br />
</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i><span style="line-height: 115%;">Minha vida esta em cada pedacinho desse cerrado e não existe outro lugar no mundo, onde eu pudesse crescer mais forte</span></i><span style="line-height: 115%;">, disse-me o homem Manoel Antônio, naquela manhã de segunda-feira, quando me ajudava a empilhar as caixas do "<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Licor do Cerrado</b>", pra eu levar pra distribuidora. E para ilustrar sua certeza, acrescentou que "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">quem não conhece, pensa que as coisas da vida são coincidências, mas quem tem raízes aqui, sabe reconhecer a comunhão dos seres</i>". Como naquele dia, em que tudo, da terra ao céu, deu pra fazer parte de uma angustia. A angustia que latejava no peito de um menino de coração acabrunhado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="line-height: 115%;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;">Começou desde que o sol, botando a cara pra fora, </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 15px;">clareando</span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 115%;"> o chão, escancarou as nuvens cinzas de chuva, tristonha e fria, sobre a terra chorosa. Bem lá no alto, cabisbaixo, o céu parecia tão lento, que de tão jururu, estampava uma cara medonha. Junto ao céu, descendo um pouco mais, o vento soprava manso, talvez para que as copas dos pés de árvores, compadecidas pela dor do menino, se curvassem em sinal de respeito. Pela terra e ao redor, um monte de bicho recolhido, cada qual no seu canto, cada qual no seu jeito de fazer silencio. Das galinhas empoleiradas com um pé só à Japão, o cachorro, melhor amigo, que com os olhão comprido, ficou lá, rendido no chão. E bem no meio disso tudo, tinha a casa e até ela, cheia de gente, feito dia de festa, escancarando sua velhice melancólica pelo buraco do reboco, nas silenciosas teias de aranha tecidas nos cantos das paredes de reboco. E para o menino Toninho, o conjunto de todas estas coisas, era o jeito do cerrado chorar <i>mais </i>ele. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Descobriu isto desde o início, quando Mariana, a mais velha dos cinco, com a cara amassada de tanto lastimar, mandou que ele fosse ligeiro, chamar Dona Zefa, a vizinha de cerca e, até lá na frente, quase no fim do caminho, escutou os gritos do pranto desvairado, sem dó nem vergonha da irmã. Depois, Dona Zefa, cheia de espanto e assombração, chegou dando ordem pra tudo quanto é lado, fazendo até a irmã engolir o choro e ir passar o vestido estampado, o preferido da mãe. Toninho ainda estava intrigado, quando a negra Das Dores e Raimunda de Benvindo levaram baldes e mais baldes, cheios de água e sabão, pra dentro do quarto. Ainda, neste interím, Mariana, fungando o nariz avermelhado, mandou, mansamente, que os quatro fossem se lavar e eles foram sem saber direito o porque, mas fizeram filinha na porta do banheiro, sem reclamação, nem briga. Todos, da maior a menor, Maria Celma, Maria Célia, Maria Celina e ele, Manoel Antônio que tinha os nomes do pai e da mãe, se banharam na águia fria feito o tempo e ficaram esquecidos no longo banco de madeira na porta da cozinha. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E bem que ele teria ficado ali, quieto, todo calado por dentro e por fora, só reparando na mexida das mulheres, de lá pra cá, de cima pra baixo, mas não se aguentou, por causa do frio da terra que cresceu dentro da sua barriga, quando Dona Raimunda falou bem assim:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A mãe docês morreu. Pegou outro rumo, foi encontrar com Deus, lá no céu</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">De cara ficou abobalhado com as palavras dela, assim, sem ter nem porque, a repetir na sua cabeça, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">"morreu, foi encontrar com Deus"</i>. Um eco miúdo, a voz esganiçada fazendo morada dentro do seu ouvido, num repetir esquisito, com gosto de jiló esquecido na boca. Nesta hora, o céu fechou de vez, fazendo companhia, agarrado, ao choro das quatro irmãs. Mas só quando a chuva desceu forte, ele começou a somar A mais B.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ficou cheio de "<i>por isso</i>". Primeiro, quando foi pra perto da mãe escovada, dentro de um caixão de tabuas de madeira e, de pé mesmo, nem sentiu medo dela ver suas unhas recheadas de sujeira. Depois, quando encostou a cara bem perto da dela, para ver o que não acreditava, porque pra ele, só os bichos morriam, só os vizinhos lá de longe, só aqueles que tinha ouvido contar nas prosas dos vizinhos e, nessas histórias, "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">não tinha mãe morrida não</i>". Por isso, estava pasmado. Por isso, ficou sem voz, por isso não saiu correndo de dor e pavor, ao deparar- se com a mãe de cara fria e mãos atadas por cordão e terço, bem no meio da barriga. Por isso, descobriu que a medo da morte é a dor.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Só, era só por isso. Mesmo porque, ela estava muito diferente! Não tinha aquele jeito de quem sente dor, não tinha girado a cabeça pra ver que ele tinha chegado perto dela. Não tinha sorrido com os olhos, não tinha falado que tudo ia passar. Ainda sem acreditar que as mães morrem, aproximou-se mais dela e chamou baixinho <i>"mãe, mãe</i>". Duas vezes. Mas ela continuou como estava. Ai, um nó agarrou na sua garganta e dali não saiu mais nenhum som.<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 13px; line-height: 15px;">____________________________________</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 13px; line-height: 15px;"></span><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 13px; line-height: 15px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">"<i>Como Deus vai reconhecer a mãe?</i>" </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 13px; line-height: 15px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">foi a questão mais séria, por ser sem resposta, </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 13px; line-height: 15px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">que tomou conta dos seus oito anos e dominou seu jeito na aflição.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 13px; line-height: 15px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666;">____________________________________</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 15px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Quis desatar a aflição, primeiro pela raiva que sentiu da verdade na fala de Dona Raimunda, <i>"morreu, foi encontrar com Deus", </i>depois pelo medo do outro caminho que ele não sabia qual direção era, e ia até chorar, mas se lembrou que desde que o pai tinha sumido, era ele o homem da casa e, "<i>homem não chora, resolve</i>". E foi ai que ficou ao lado dela, a fixar-se na procura por um gesto, uma só indicação que como era aquele partir, de como deveria ser o caminho, a caminhada, o encontro com Deus. Horas rodopiando em idéias, salpicando em lampejos com esta ou aquela questão, fazendo perguntas e recebendo respostas na cabeça. Mas, desesperou-se, quando uma conjectura dominou outro rumo e dele não encontrou mais solução, por <i>causadeque</i>, por outro lado, se tudo tinha um jeito de ser, sua mãe emagrecera tanto, mais tanto, que "<i>como Deus vai reconhecer a mãe?</i>" foi a questão mais séria, por ser sem resposta, que tomou conta dos seus oito anos e dominou seu jeito na aflição.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O cerrado deu pra chorar mais alto, atirando com forças, lágrimas lá do céu e a casinha amarelada de uma janela e uma porta só, que agora guardava o murmurar de um bocado de gente apinhada, viu a aflição do menino, paralisado, naquela última questão sem resposta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ele não sentiu nem frio, nem calor. Não ouviu o buchicho das pessoas a compadecer do seu olhar perdido. Não reparou que Dona Zefa, queria porque queria, que ele saísse dali. No <i style="mso-bidi-font-style: normal;">engaufiado</i> de pessoas de todo jeito, Toninho, olho preso no corpo inerte da mãe, só escutava as questão do seu próprio coração devassado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Como Deus vai reconhecer ela? - perguntou em voz alta pra quem pudesse se interessar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas devia ser porque o povo andava ocupado demais ou não gostavam de responder pergunta de menino, que não recebeu nem uma palavra de volta. Nada de nada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Apôs aos seus pensamentos, o cheiro das velas e do café, a embaralhar-se com o perfume das mulheres, o suor das pessoas, a água sanitária nas roupas, do cheiro do fumo de rolo queimando na palha de milho. E sabe-se lá, quanto cheiros mais. O resultado foi que seu estomago deu de embrulhar. Sentiu raiva do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">zum-zum-zum</i> cochichado, da invisibilidade da sua pergunta, na lacuna suplicada por sua voz. Ia repetir a pergunta, com direito a falar grosso e tudo, quando Dona Zefa tombou, no meio da reza e ele, espremido, foi parar noutro lugar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Encontrou Mariana na beirada do fogão, a soprar e remexer as brasas pra passar mais café:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mariana, como é que Deus vai reconhecer a mãe?</i><o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br />
</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 15px;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Deixa disto menino, vai arrumar assunto!</i> - respondeu entre uma fungada e uma soprada.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 15px;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 15px;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mas Mariana, olha ela lá. Ela mudou muito, tá tão esmagrecida e acabada. Escuta, eu vi Mariana, vi desde o dia em que o doutor mandou nós rezá com ela em casa, a diferenciação. Vi que nem Dona Zefa, que era assim mais ela, reconheceu a mãe. Cê não lembra, o povo falando, que ela tava com outra cara? Cê bem sabe que Japão é cachorro da casa faz tempo. Ele sempre gostou da mãe, mas naquele dia que ela chegou, até ele rosnou pra ela. Cê lembra, num lembra? Mariana, cê tá me escutando? Fala então, como Deus vai saber que é ela?</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">____________________________________</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mesmo com toda força empregada, foi deixado pra lá. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O caminho, por assim dizer, o fim do velório e </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">o início da estrada para encontrar com Deus, </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">foi seguindo, feito boi indo pro matadouro.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">______________________________________</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Toninho estava disposto a tudo pra botar a irmã pra entender sua preocupação, que resolvesse a tortura, reconhecendo o tamanho do problema! Mas ninguém parecia enxergar estas coisas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 115%;"><br />
</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 115%;">- Se o pai tivesse aqui, ôces iam ver. Ele dava um jeito!</span></i><span style="line-height: 115%;"> - gritou de aflição.<o:p></o:p></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="line-height: 115%;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cala a boca, menino</i> - berrou Mariana atando os braços franzinos entre suas mãos grossas - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Olha aqui, olha pra mim. Escuta bem sério. O pai sumiu</i> - e depois repetiu de novo - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">su-miu!</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ninguém sabe dele. E ele, nem sabe de nós!</i><o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br />
</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Sabe sim, o pai vai chegá e vai levá a gente pra escola, ele falou que ia fazer...<o:p></o:p></span></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 115%;">- Que gritaria é esta?</span></i><span style="line-height: 115%;"> - interrompeu Dona Raimunda com aquele jeitão de mandona - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">vem Mariana, a chuva parou. Tá na hora do enterro sair. Chama seu noivo pra ajudar levar o caixão!<o:p></o:p></i></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="line-height: 115%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br />
</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Levar o caixão? Sair pra onde?</i> - esperneou Toninho - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">o caixão com a mãe? Ah, num vai não! Assim não pode! Ela vai se perder!!</i> - gritou com a força do homem da casa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E não houve uma só das Donas, ou por perto ou de longe, que conseguisse segurar seu tormento, estirado, largado, rasgado, agora, entre os gritos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">solta, sai</i>! Não houve um só homem que desse conta do seu rompante. Aos berros, murros no ar, pontapés, mordida e até beliscão, Toninho se abriu, feito muro, frente à todos, na tentativa de barrar o cortejo fúnebre. Até Japão veio em seu socorro, esbravejando de todo jeito, a fazer com que paus e o "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">sai miséria</i>" fossem atrasados, diante de uma bocarra cheia de dentes arreganhados. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas não adiantou. Mesmo com toda força empregada, foi deixado pra lá. O caminho, por assim dizer, o fim do velório e o início da estrada para encontrar com Deus, foi seguido, feito boi de matadouro. Sem nenhuma importância. Por isto, com a dor estirando dentro peito, e sem caber dentro de si, correu desembestado, mato adentro, rasgando todo galho que via pela frente e só foi parar mesmo, debaixo de um pé de pequi.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mas, a vida tem coisas que a gente tem que aprender a ver com a alma! </i>- disse-me o homem Manoel Antônio.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Porque foi estirado no chão que fez Toninho pensar na mãe, no tempo de saúde. Uma mãe de olhar manso, que gostava de acarinhar sua cabeça e dizer que ele era o homem da casa, até o pai voltar. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">"Só ela acreditava, comigo, que o pai ia voltar".</i> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Só ela sabia tirar o medo dele, quando o trovão fazia festa no céu. Só ela sabia abraça-lo e parar o medo do finado Balbino. Só ela guardava o segredo de quando ele tinha estes medos. Só ela tinha um jeito diferente de banhar Japão sem ganhar uma rosnada. E neste reviver, neste carinho de saudade, a alma de criança passeou pelo quintal, adentrou no pasto, nos tempos de pitomba, jatobá e manga, em que todo mundo se lambuzava até os beiços! </span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A mesma alma, arfando descompassada, reviveu os gostos das fininhas tiras de mamão verde, que depois de enroladas feito cachos, eram costuradas umas com as outras, ligadas com linha grossa e viravam doce. Mastigou a goiaba vermelha, boa de comer, boa de catar bicho. Lembrou-se de outras épocas, das vezes em que estavam lá no mercado, nas ruas da cidade, espalhando as frutas do quintal, fazendo dinheiro para o arroz, óleo, carne e feijão, com o que o cerrado dava de graça pra eles. "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mas, o bom mesmo</i>", acrescentou com um brilho na cara, "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">era no tempo de pequi!</i>"<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">____________________________________</span></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;"></span>Esta era a maior fartura que o cerrado dava pra gente. </i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i>E foi ai neste pensar da alma que Toninho descobriu a resposta.</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">____________________________________</span></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Naqueles dias, afundavam no mato pra catar a fruta no chão e iam vender na feira. <i>Era a maior alegria! Dava boró e satisfação</i>. Ele até sentiu o cheiro da feira, até escutou a voz da mãe: "<i>olha o pequi gente, tá maduro e barato".</i> No reviver destas emoções, conseguiu, naquela hora, se alegrar de como ela chocalhava as moedas dentro do saco de pano amarrado na cintura gorda. <i>Ela era tão divertida!</i> Cheio de lembrança e satisfação, comeu de novo, o melhor Arroz com Pequi <i>da vida</i> e tornou a dar risada, quando se lembrou dela dizendo que "<i>Pequi é bom pra memória"</i> e que o povo só entendia, quando arrotava o almoço, <i>laaa por</i> <i>detardezinha</i>... <i>Dona Maria Antônia, Ramires, minha mãe, era a Tonha dos Pequi</i>. Esta era a maior fartura que o cerrado dava pra gente. E foi ai neste pensar da alma que Toninho descobriu a resposta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ele viu, lá de longe, o caixão já preparando pra batizar a terra. Ordenou, apontando, que Japão fosse na frente, " <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pega, Japão, pega</i>" e o cachorro, obediente, espalhou gente pra todo lado. Conseguiu ser levado à sério, logo de cara, pois foi com a força da decisão, lavado de alívio, que chegou. E com autoridade do "homem da casa" deu ordem pra tudo quanto é gente e por isto, não houve outro jeito, senão abrir o caixão, para que se resolvesse assim, a questão encontro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Agora sim, Mariana, Deus não vai ter jeito de errar. Ele vai reconhecer a mãe, a Tonha dos Pequi, assim que ela chegar, porque ela vai estar com "estas flor" na mão.</i> E dizendo isto, depositou sobre o peito da mãe, um amontoado de flor de pequi.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Depois, em casa, com o coração repousado na paz do dever cumprindo, na questão resolvida, o pequeno grande homem Toninho se entregou a um sono gostoso, onde pode até ver Deus receber Tonha, bem na porta do céu. E foi com tanto carinho que Ele pegou estrada com ela, que ele pode, pela última vez, escutar as deliciosas gargalhadas da mãe.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">E pra completar aquela paz</i> - completou o menino homem - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Deus olhou nos meus olhos e falou bem assim: acorda Manoel Antonio, acorda meu filho, já pode ser um homem junto ao teu pai, que agora chega pra te buscar.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E quando Toninho acordou gritando "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">o pai voltou, o pai voltou</i>" e Mariana fez aquela cara de quem pensava estar brotando na cabeça dele mais uma esquisitice, ficou guardado na memória dele, a felicidade dela, de Maria Celma, de Maria Célia e de Maria Celina, porque o pai agora era empregado de salário bom e tinha um caminhão apinhado de feira e presente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E isto foi só por um tempo, porque quando o céu, abriu um sorriso plácido e gigante e dele saiu o sol de todos os dias, e levou Toninho e toda família pra cidade e pra escola, alguns anos depois, trouxe de volta o homem Manoel Antônio que acreditava que cerrado guardava o melhor das suas raízes e só ali era o canto dele.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Entendeu Ramires?</i> - perguntou-me ao depositar as mãos sobre a ultima caixa do carregamento do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Licor do Cerrado, o puro sabor do Pequi</i>. </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 15px;">E eu que, não tive como conter a emoção, acenei que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sim</i> com a cabeça.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Quando botei o caminhão na estrada, tive a sensação de estar transportando mais do que garrafas com licor. Parado, no meio do caminho, me deixei olhar pr´aquele mar de céu azul, do verde do capim, do colorido dos pés de frutas, os pássaros e flores, nos outros Japões que vieram, na terra impregnada de Tonha dos Pequis, na obstinação do menino Toninho, no homem Manoel Antônio que dele se formou e tive a certeza absoluta de que os seres se unem na dor e no amor, e estão aqui, neste cerrado de Deus, nesta Terra de Pequi. </span><o:p></o:p></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">---------------------</span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: xx-small;">(<span style="text-align: -webkit-center;">Esta Obra está Registrada em nome do autor Valéria de Melo Correa sob o número 137709879275981800, o autor tem um Certificado Digital de Direito Autoral que atesta este registro.)</span></span></div>
</div>
Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-69828641509865637202011-04-04T15:58:00.000-07:002011-06-20T07:51:17.177-07:00Caso de Polícia<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="color: #2a2a2a;"><br />
</span></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDGxFW2YO7Mnz5xzSA52OgeINiIg5n2iRMVdkh4Rlz7VhIeo547InQZKd1_sA2qozFISsUjgEHxnVQEXP-cY-xJv9KDyJ4N-M0E9C7Ip0WR1zwxnwakzW327qHF5jFyD8F-7Trcj3jlL9O/s1600/delegado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDGxFW2YO7Mnz5xzSA52OgeINiIg5n2iRMVdkh4Rlz7VhIeo547InQZKd1_sA2qozFISsUjgEHxnVQEXP-cY-xJv9KDyJ4N-M0E9C7Ip0WR1zwxnwakzW327qHF5jFyD8F-7Trcj3jlL9O/s320/delegado.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="color: #2a2a2a;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="color: #2a2a2a;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="color: #2a2a2a;">Era de esquina, o Bar dos Monstros. Variedade em pingas e pés inchados. Mas, não era moderno, como o boteco que coloca de raiz à caranguejo, dentro da garrafa. Não, não. Era cachaça ruim mesmo, de fundo de quintal escuso, de beira de canavial que libera álcool, no afã de adormecer almas manchadas de carvão e sangue verde.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span></span></span><br />
<a name='more'></a><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O Bar dos Monstros era a escória do mundo, amotinado por resto de gente sem vergonha. Velhos que tiravam do sustento dos seus, pra ficar de babugens e vômitos pela calçada. Espelho do dejeto humano, pesadelo dos mortais bebedores de cerveja. Ali, eles se matavam, senão pela pinga, pelas mãos, na faca ou na paulada. Por isto, nem a polícia passava por lá. Só o camburão, no dia de levar um ou outro pra cidade dos pés juntos, ora sucumbido pelo gole, ora morto de morte matada. <o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Neste meio tempo, a novidade trazida pela tela da Tv, com direito a filmes, reportagens esclarecendo as táticas e o “poder” das ações, foi tiro e queda: gerou no pessoal mais novo, a brilhante idéia em ser do mal. Daí, nasceram gangues de todo nome e jeitos: “A Firma”, “Morte Súbita”, “Lado B”, e pra ficar tudo certo e combinando, “As Viúvas Negras” , só de meninas. <o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Juntos ou separados, seguiam o que a telinha ensinava: pedágio para passar na rua - seja de carro, bicicleta, a pé ou carroça - assalto com revolver de brinquedo, e finalmente, depois de um matando o outro; o toque de recolher. O Bar dos Monstros virou filminho de assombração, diante do inferno contundente, provocado pelas gangues na cidade. Este era o cenário, naquela época: um longa-metragem de terror.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas existia um sujeito, que recebera o nome de mulher, porque o pai, assíduo freqüentador do Bar dos Monstros, depois de tantos filhos e cachaça, nem diferenciava se era menino ou menina. Assim, recebeu o nome de Irismar dos Santos Reis.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Irismar cresceu vendo o pai bêbado, a mãe enrugada pela parição sequenciada, a esgoelar por um deus que lhe infligira dores, para que, depois da morte, conhecesse o paraíso. Por isto, e outras coisas, colocou na cabeça que era polícia.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E se portava como tal. Nos mandatos imaginados, ia de bicicleta, pela rua, zunindo, feito viatura com a sirene ligada. <i>Owwwwnnnn</i>, e todo mundo dava passagem. Se à pé e cara fechada, estava “<i>investigando um bandido</i>” e não pode nem cumprimentar! Todo mundo entendia aquilo e, se de zombaria ou trato, em qualquer canto que fosse, era recebido como <b>Delegado Irismar</b>.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Enquanto isto, o clamor da população enjaulada pelo toque de recolher, fez com que o digníssimo prefeito acionasse todas as forças, para trazer, os homens de preto com suas armas e armaduras. Daí, o <b>GATE </b>entrou na cidade.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Foi batida pra tudo quanto é lado. Neguim piscava, já levava bofetão e ia chorar no xadrez. As “Viúvas Negras” viraram aranhas de parede, coisinha de quinta, daquela que criança mata com chinelinho do Puft. E nesta de vai pra lá, prende pra cá, levaram Irismar pra cadeia.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Isso aconteceu bem no dia que o Gate deu de cara com os monstros do bar. A cadeia não merecia aqueles zumbis! Já iam até embora, quando ele entrou. Apesar de lúcido, portava um canivete de brinquedo, mesmo que só fora ali buscar o pai. Não adiantou os pedidos fedendo a álcool, dos bafos incompreensíveis de clemência, do protege daqui e dali. Irismar foi preso. Com direito a empurrão e tudo, pra dentro da viatura.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="color: #2a2a2a;">Destituído do seu disfarce, Irismar foi tomado de profunda tristeza. Talvez a maior da vida dele. Nada o tirou daquele sofrimento recolhido na parede da cela. Nenhuma brincadeira, nenhuma comida, nenhum pedido ao “delegado Irismar” fez com que, ao menos, se mexesse. Nada levantava a cara pregada no chão. <o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Um dia desmaiou. Foi retirado por policiais da cidade, que logo o reconheceram. E no combina daqui, combina dali, entre o soro e o remédio:<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Parabéns Delegado. Você passou no teste! – depois, o sinal de continência! Irismar ainda teve tempo de sorrir, antes entrar em convulsão.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Foi levado para o hospital com a pressa de quem ainda busca alcançar a vida. E não ficou sozinho. Todo hora do dia ou da noite, tinha alguém lá, de policia a bandido, de cidadão a cachaceiro, na janela do quarto chamando por ele, “<i>vamos delegado, você agora tem até medalha</i>”. E isto, só isso, trouxe Irismar de volta.<o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: #2a2a2a;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Vitorioso, hoje, passa pela rua, com seu indefectível par de óculos escuro, boné, canivete - agora de verdade - na cintura, fazendo <i>owwwwnnnn</i>. Estampa uma estrela no peito, medalhão de banca de camelô, condecoração dos fardados, e por ele luta até a morte. Está curado, voltou a ser policia, investigador, salvador das dores e mazelas do seu mundo. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-36806678700077544182011-03-21T18:11:00.000-07:002011-11-20T15:33:50.464-08:00Grego Made In China<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRb8fO_s0OeOLoTHOYHkYbu4blXk6vSr5HQF9RorU3GYw2r3S3iiZM5WeWO076pQTr4Kb2vqChB98-FhvGcr_JQy21FMOQ8bBDw8SWM1JrH0iy6N-JnqTYZ6kd06tdDsXhZp8XIqM9KO8w/s1600/presente+made+in+china.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRb8fO_s0OeOLoTHOYHkYbu4blXk6vSr5HQF9RorU3GYw2r3S3iiZM5WeWO076pQTr4Kb2vqChB98-FhvGcr_JQy21FMOQ8bBDw8SWM1JrH0iy6N-JnqTYZ6kd06tdDsXhZp8XIqM9KO8w/s320/presente+made+in+china.jpg" width="320" /></a></div></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">De surpresa, elas chegaram dois dias antes, fazendo um alvoroço danado. <i>Data errada</i>, pensei, mas não quis acabar com a animação. Trouxeram tudo: bebidas, petiscos e o presente. Diga-se de passagem, um presente devidamente embrulhado, como condiz a data: caixa dentro de caixa com muito papel picado no meio. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<a name='more'></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Estas minhas amigas são uma mistura da jovem e da velha guarda, um caldeirão de etnias, jeitos, salários e crenças. Mas, aqui é assim. Neste mundo pequeno, a gente se aninha independente do que aparenta. É a forma de viver que une ou separa os cardumes.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Depois do “<b style="line-height: normal;">Parabéns pra Você</b>”, cantado em todas os tons e trejeitos, foi a vez de abrir o pacote montado para acolher o presente. De caixa em caixa, desencapei embrulho após embrulho, até dar de cara com o conteúdo, um negócio, digamos, nem um pouco interessante. Não pra mim.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;">Funcionando com duas pilhas, o treco tinha a cara do copiado</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;">. E mais, balançava para os todos os lados, fazendo barulhinho, tipo </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;">o chocalho</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> de cobra cascavel. No meio do OFF para ON, uma outra função, que deixava aquela berinjela atomica só piscando em vermelho, vermelho berrante mesmo, mais parecendo zona de periferia, lá pelos tempos da boêmios. E o pior, senão mais ridículo, s</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;">e solto no chão, saia dando pulinhos, alegre e saltitante, feito uma gazela.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- uê, pra que ele pula? – quis entender.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">As gargalhadas e o voto de <i style="line-height: normal;">bom proveito</i>, não me soaram de acordo. Não que eu seja careta, retrógrada ou qualquer coisa que o valha, mas eu não entendi a minha conexão com aquele negócio<i style="line-height: normal;"> <b>MADE IN CHINA</b></i>. <i style="line-height: normal;">Amanhã dou cabo nisto e fica o feito pelo não dito</i>, pensei, assim que apaguei a última lâmpada.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Dia seguinte,<i> dia de branco</i>, acordo com a tarefa de me livrar daquilo. <i>Jogar no rio? E se um peixe entalar e morrer? E pior, este treco bóia! Talvez fosse melhor picar na faca, quem sabe enterrar no quintal? E se alguém for checar o encravado? </i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i> </i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i> Tou frita? Tô!</i></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Quanto a esta última hipótese, eu acreditei já estar na boca do povo. Isto porque, a faxineira, aquela que vive de bíblia debaixo do braço, parecia ter dado de cara com o negócio. Isto porque chegou alegre, até riu da minha piada boba: <i>Aladin vai sair daí, de tanto que você esfrega este livro</i>. Porém, foi embora miúda, deixando serviço sem concluir e saiu com uma cara que viu alguma coisa de outro mundo. <i>Vixe</i>, pensei, c<i>omo vou recuperar </i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i> minha reputação na cidade? </i></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Estas e outras questões ficaram martelando na minha cabeça, sem que uma resposta me fosse a contento. Eu só sabia de uma coisa: <i>na minha vida, ele não ia ficar!</i> Daí, a brilhante idéia de coloca-lo dentro da bolsa, para que, em uma passagem por uma lixeira, o negócio fosse descartado. De tudo e somando-se mais um pouco, andando pra cima e pra baixo, ocupei-me com tantas outras coisas e, a cabeça de vento, fez valer seu nome: esqueci do negócio!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas, acredito que eu esqueci mesmo, foi porque meus filhos chegaram. Com direito a nora e genro na bagagem. E eu me derreto toda, quando estou com eles. Ainda mais se tratando do meu aniversário! Nenhum negócio emborrachado me tiraria desse estágio. Exceto, quando a pergunta veio, lá do outro canto da casa, despois que eu pedi minha filha pra pegar minha carteira, dentro da bolsa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- maiê, cê tá usando isto?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Meu estomago colou nas costas! </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Sim, eu estava rendida, mortificada! </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">As cores do arco-íris passaram por minha cara, pronta para o pior. Estática, contei o barulho dos passos dela em minha direção. Imaginei a cena, ela viria segurando aquilo, talvez sacudindo bem no alto, em busca de uma explicação que, obviamente, não seria nada convincente. Pronto estava a poucos metros da minha </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;">total </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;">desmoralização! </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;"><i><br />
</i></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;"><i>- Porque não contei, antes?</i> - pensei ao engoli seco. Poderia ter pedido opinião, criticaríamos juntos, e o assunto poderia vir até servir de exemplo: "<b>O que não se dar de presente para alguém que faz 50 anos"</b>. Bom, eles poderiam até entender, mas e os demais? Podia até escutar: <i>Tá carente, né? </i>Que cena mais patética!</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas não, ela entrou, desfilando com uma roupa minha, dizendo que estava curta demais, assanhada demais e coisas do estilo. E o meu coração que já chegava na boca, explodiu em gargalhada de alívio, o que, obviamente, gerou outras coisas, outras interpretações, <i>você tá me criticando?,</i> e por ai a fora. Todo mundo entrou na discussão. Volta aos erros do passado, foi o que não faltou! Então, pra acalmar os ânimos, levou o vestido de brinde: <i>nada disto, meu bem, é porque você descobriu o <b>seu </b>presente</i>.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Agora sim, eu era a fera em pessoa. A alegria do meu aniversário fora colocada em jogo, perdi a faxineira, trabalhei bastante, dias antes, pra viver uma festa e não clima de suspense! Eu queria um dia calmo e não adrenalina sacudindo meus nervos. Fora o <i style="line-height: normal;">bere-be-be</i> danado, transformado em uma quase briga que me obrigou a dar adeus ao meu lindo vestido, e isto tudo por culpa do um <b style="line-height: normal;">Presente Grego Made in China!</b> Diante disto, decidi que ele seria fulminado e até sorri, silenciosamente, ao montar o </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: normal;">meu plano maquiavélico. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Portanto, eu que não como carne, muito menos faria um churrasco dentro da minha casa, topei comprar uma churrasqueira, destas que se coloca na laje. Passei o tempo todo soprando brasa, abanando fumaça, me maquiando de cinzas, enquanto um bicho morto chamado pedaço de carne, tostava de um lado pra outro. Mas, por dentro, no fundo do coração, adorei cada minuto que passou, até ver o fim, bem vingativo, daquele negócio da China.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Maiê, que fedô de borracha é este? Tem alguma coisa pegando fogo lá fora! <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Liga não, volta dormir. Foi um plástico que caiu dentro churrasqueira. Bom pra espantar as muriçoca e tirar este cheiro de bicho morto daqui.</span><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><br />
</div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-21949910313289746322011-02-01T10:24:00.000-08:002011-06-20T07:52:55.542-07:00Mural do Veaco<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="line-height: 115%;"><br />
</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0X1BR8kg5qimq0A8Qhg-XRYCJFoO6gMM9fRgWWtRCF2PmKNOgnS8v4Zw-N8AQPor_sJ15lh7hTbIlc-WaTUkXvC_Omj_OUGcPlZe2YlnHk6RLQXzoYh4ZgNaQH_AHXCMxos8ftKNZqYzN/s1600/tony+ramos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0X1BR8kg5qimq0A8Qhg-XRYCJFoO6gMM9fRgWWtRCF2PmKNOgnS8v4Zw-N8AQPor_sJ15lh7hTbIlc-WaTUkXvC_Omj_OUGcPlZe2YlnHk6RLQXzoYh4ZgNaQH_AHXCMxos8ftKNZqYzN/s1600/tony+ramos.jpg" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="line-height: 115%;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="line-height: 115%;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 115%;">Quando da época em que a rede Globo esteve realizando filmagens, </span><span class="apple-style-span"><span style="line-height: 115%;">integrando as comemorações do aniversário de vinte anos da emissora, </span></span><span style="line-height: 115%;"> ouvi muitas histórias de como a pequena Paredão de Minas, distrito de Buritizeiro, virou de pernas pro ar. E de todos os casos, o que mais me chamou atenção foi <b>porque o nome de Tony Ramos foi incluído no SPC Rural.</b></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span></span><br />
<a name='more'></a><span style="line-height: 115%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 1.2pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Paredão de Minas virou de pernas pro ar, sim, mas não por pouca coisa. A filmagem da minissérie "Grande Sertão: Veredas" trouxe para o noroeste do Estado, nomes de peso como Tarcísio Meira, Bruna Lombarde, Mário Lago, Tony Ramos e muitos outros. Daí que, pessoas de toda região, seja de carro <i>chic</i>, a cavalo, bicicleta, carona ou a pé, rumavam, aos montes, pra lá, na ânsia em ver de perto os Globais ou, como pensavam os da região, tentar uma participação, seja ela na tela ou na terra! </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Entre um e outro, Paredão de Minas atraiu de políticos à pescadores, gente de mamado a caducando, atingindo a soma fantástica de mais de duas mil pessoas, quando sua população não passava de 1.000 habitantes. Por isto, se o talento não fosse reconhecido, serviço pipocava outro lado! Tinha lugar pra todo mundo. E foi com a mente neste ganho, que o fotógrafo, que aqui chamarei de Roberto, achou uma forma de tirar uns cobres a mais. <o:p></o:p></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 1.2pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">De <b>Olympus Modelo Md-35 - <i>Made in Japan</i></b>, partia, todos os dias, de Buritizeiro pela tortuosa estrada de areião e cascalho, rumo a Paredão. O seu alvo eram os conhecidos; gente que aparecia vestido de jagunço ou quenga, de boca retocada pra realçar as falhas na dentição. Daí, saiu assim; clicando daqui e trocando rolo de filme dali. Depois, com as fotos reveladas, expostas em um painel gigantesco, aguardava o reconhecimento do cidadão.<o:p></o:p></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 1.2pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">No início, até que deu certo. De fato, uns reclamavam, <i>eu não pedi pra tirar foto de mim!</i>, mas ele não dava assunto: <i>tem que levar! É ocê ou num é?</i>, e botava tudo no preço, incluindo traslado, comida, cigarro, pinga e o trocado, fora o salário do mês. Nesta conta ai, bateu foto de Deus e o mundo. <i>Agora sim, num dou nem dois mês, já tou de Opalão!</i><span class="Apple-style-span" style="line-height: 24px;"> </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 24px;">E chupando um palito de fósforos, rodado na boca de um canto a outro, o Clark Gable Sertanejo acreditou estar vivendo seu sonho dourado. </span>Seguiu assim: ora vendendo, ora guardando foto nas caixas. Mas, um dia, descobriu: as fotos estavam encalhando. Isto por que teve gente que não foi buscar a foto. Não adiantou o menino chamar, os recados atrevidos, nem carta de cobrança. Tinha fotografia, há tempos, engavetada!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 1.2pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Por isto, pra salvar o prejuízo, Roberto fez o mural dos maus pagadores, onde pregava as caras dos que não reconheceram seu trabalho. E pra reforçar sua ira e revolta - <i>apertar o sujeito </i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>mesmo!</i> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"> - deu o nome do painel de:</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 1.2pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 1.2pt; text-align: center;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="color: red; font-size: x-large;">VEACO</span><o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 1.2pt; text-align: center;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 1.2pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Obviamente, isto deu algum resultado. Muitas pessoas da cidade, no desespero em retirar a cara do SPC Rural, correram e pagaram pela foto <b>não encomendada.</b> Porém, muitos, <i>nem thum!</i>, inclusive Tony Ramos.<o:p></o:p></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18pt;">Por ser solícito, amável e normal, Tony Ramos circulou, naquele período, por entre os moradores, tranquilamente. Tamanha descontração do moço atraiu simpatias e </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 24px;">proximidades</span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18pt;"> do povo ribeirinho. <i>Era gente de casa, gente da gente</i>, e não era perseguido; <i>era normal!</i> Por isto, Roberto dera um clique nele! E incluiu, deliberadamente, o Toninho, entre aqueles que tinham obrigação em comprar suas mal-fadadas fotos! </span><i style="line-height: 18pt;">Acreditei que era gente </i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i style="line-height: 18pt;">boa</i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i style="line-height: 18pt;">,</i><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18pt;"> esbravejou. </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 24px;">Por isto, colocou a foto do bom moço no mural dos maus pagadores. E ela ficou um bom tempo lá, ao lado de tantas outras, até que, desbotada, foi dada como conta perdida.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 1.2pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 1.2pt; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Daí, resolvi escrever estas linhas, pra quem sabe,o Toninho ou Tony Ramos, possa ler. E saber que em Paredão, a cidade que ainda guarda Sidraque, Dona Nadir e um tanto de gente, tem as lembranças e os corações cheios de saudades! </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quanto ao <b>Mural do Veaco</b>, preocupa não. A foto, fui lá, conferi: expirou!</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-25632294087531447012011-01-17T09:14:00.000-08:002011-11-20T15:32:02.809-08:00O Canto do Grilo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgi3ukUdD_okPr13b2Kma0f43VNYZYmW_yutwpyYOqUjOmwnhu-byfAftYCQBGrSGhOXENmtir_pYBDtxIKgyggJVjGK1gxFqkxVR3Vw1dfJci_CyHUJjLkshgFiuxlNgBxrmYnrXO-tw83/s1600/ocg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgi3ukUdD_okPr13b2Kma0f43VNYZYmW_yutwpyYOqUjOmwnhu-byfAftYCQBGrSGhOXENmtir_pYBDtxIKgyggJVjGK1gxFqkxVR3Vw1dfJci_CyHUJjLkshgFiuxlNgBxrmYnrXO-tw83/s320/ocg.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">É madrugada e o grilo botou a boca no mundo. Eu ando triste demais pra me importar com o cri-cri ininterrupto. Sei que o desgosto vem da pneumonia que tive. No meio da febre a gente fica buscando o sentido da vida. E tudo fica sem sentido.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<a name='more'></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Caminho pela casa ampliada e até já vi pelo Google a grande área recém construída. O telhado terá uma parte coberta por telhas de vidro e nas horas de folga, poderei ver as estrelas do céu ampliadas pela transparência. Hoje o céu estrelado está por toda a parte. Assim como o silencio entrecortado pelo grilo cantante.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ainda me impressiona como determinadas lembranças me amarfanham. Sim, eu sei, saudade machuca mais. Fica o vazio. E quando a morte leva a culpa pelo vago, a gente não sara e a dor acomoda dentro do corpo. Ela já faz parte de mim. Choro de saudade dos meus pais.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas o chamado intermitente do telefone durante o dia, tinha me perturbado mais que o grilo falante da madrugada. A moça que fora presa um dia antes do natal pedia que eu fizesse uma carta dizendo que ela era boa pessoa. <i>Foi vacilo, necessidade de dinheiro</i>. Servira o ano todo de aviãozinho pra gente grande da realeza. Agora precisava destas pessoas e obviamente não encontrou ninguém. Fiz a tal carta, entreguei pessoalmente. Talvez o grilo estivesse exortando a voz dos dorminhocos dizendo é sua culpa, é sua culpa, sua máxima culpa. Mas eles roncam sua omissão.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E o grilo afugenta meu pensamento. Ao meu lado, dentro da caixa do sedex nunca enviado, esta a camisa azul com estampa plastificada. O cara que a deixou aqui saiu transvertido de falas e sorrisos e simulações de amor. Trato feito, deixa eu pra cá, vai ele pra lá, tudo acertado, a vida pedia assim. Mas não era nada disto. Com o andar da carruagem, a realidade tomou forma, no dois mais dois, custoso de acreditar que dava quatro. Jamais vou entender suas palavras querendo me ofender mais do que já tinha. Diante do fato, fui tomada por uma ira maior do que eu. E esta ira, literalmente, quase me matou. O rasgão no peito foi porque ele não permitiu que eu guardasse as boas lembranças do que fomos. Assim pego a caixa como se olha um rascunho sem retoques. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E foi em uma madrugada que o outro fugiu. Um dia antes, conversou comigo, disse que andava tão triste ao ponto de ter medo de “<i>dar um tiro na cabeça</i>”. A mulher se esforçava diante da depressão do companheiro. Ainda teria dito que, se ele acreditava em macumba ou mal olhado, estaria sempre ao lado dele, seja no psiquiatra ou no benzedor. Queria o parceiro de bem com vida. Como antes. E ele falava da sua admiração por ela. E a beijava colocando flores nos seus cabelos... Mas fugiu de mala e cuia, naquela mesma noite, enquanto ela dormia depois de um dia inteiro preparando o almoço de natal que não aconteceu. Vendera o que tinha e deu o que não era dele. Na estrada capotou o carro, mas chegou lá assumindo uma família não formada por ele. Eu vi os olhos dela enterrados em lágrimas e desgosto. <i>Porque ele não foi sincero?</i>, foi só o que falou.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A corda rangeu mais alto que o grilo. O corpo do menino ficou balançando ao vento a madrugada </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">toda </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">e fui eu a primeira pessoa a encontrá-lo. Lembro-me do nervoso que senti, da ânsia com que me perguntei qual era o tamanho da dor que ele queria enforcar. “<i>Ele não se aceitava gay</i>” disse o policial,<i> até levou uma surra do pai por isto</i>.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Lá no serviço recebo os relatórios e contabilizo os fatos. Quanta camuflagem! Eu vejo tudo e não posso agir porque a chefia que me governa não permite. Eu finjo ter calma, mas o pedido de socorro me apressa. Não consigo raciocinar com o grilo gritando deste jeito.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Paro tudo até dar de cara com o danado do grilo <i>cri-cri-cri</i>. Ele se silencia acuado diante do cala-boca que tenho nas mãos. Ainda insiste e remete mais um <i>cri</i>, depois tenho a impressão que fecha os olhos esperando pelo final. Penso que a pior coisa que se pode sentir é abandono, preciso acreditar que em algum ponto, o salve-se quem puder não é geral.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E é por estas e outras que me retiro. Deixo o bicho cantar: canta Grilo, canta!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-31515827361705169612010-11-15T06:43:00.000-08:002011-11-20T15:31:32.779-08:00Folha da minha árvore.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUMlp_sXeJaKenSwOT3qNF7uAChcBQym794SamuaIC9GTKnL_fQzkZkncT3gf4v5v_MMwx-oT4z326_i_aH2Us27Ekd5025nMl4dTd91rcNlVxQ4tWJeYwT6tZsjP48ryTQu24GUqg3Yw5/s1600/rodrigo+desenho+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="209" px="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUMlp_sXeJaKenSwOT3qNF7uAChcBQym794SamuaIC9GTKnL_fQzkZkncT3gf4v5v_MMwx-oT4z326_i_aH2Us27Ekd5025nMl4dTd91rcNlVxQ4tWJeYwT6tZsjP48ryTQu24GUqg3Yw5/s320/rodrigo+desenho+2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Pois foi bem assim:</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Cochilo no finalzinho da tarde, acordar de supetão bem na hora, que era a hora, de dormir realmente. Daí, a cabeça que tá quase vazia, vê a TV vomitar as sangrentas atitudes dos insanos sem alma. <em>Ah, melhor nem ver isto</em>. </span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<a name='more'></a><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Desliga, levanta e sai do quarto. E ao passar pelo corredor, olha, sem muito gosto, a correspondência preta e branca estirada sobre a mesa. Desliza os dedos, espalha ao acaso a papelada, e quase ia dando as costas, quando o dedo esbarra no único envelope colorido. O olho cresce, a pupila cresce, o sorriso vem pra cara e absorve a mão que puxa o sobrescrito pra perto do peito. <em>Tem</em> <em>um gigante aqui dentro!</em> Ela sabe disto.</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Arruma um canto e no encanto se cala: degusta as letras da carta colorida. As folhas do papel digital mostram pequenos arbustos e falam das folhas da árvore nossa vida. Diz que cada folha é gente e que mesmo quando se vão, nunca vão, porque até ali se faz presente ao adubar a nossa raiz. Também conta dos amigos de todos os jeitos; família, amor e irmãos. Ao final diz que ninguém passa na nossa história, por um acaso. </span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Com o papel na mão fica pensando nestas palavras e a mente vai até o dia que foi fazer um resgate. Sim, foi um resgate. Por que, no meio da questão, tinha uma criança que não sabia falar. E veio da denuncia de que, num sobrado abandonado, homens e mulheres usavam a aparência do menino pra ter dinheiro. As moedas e notas eram convertidas em tragadas de qualquer coisa que os embriagasse.</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O menino que não falava tinha os olhos mais sérios que já vira, e uma total ausência de expressão. Na hora do <em>pega-prende</em>, agachada, diante dele, só pra ele, tentou explicar o que era aquilo: <em>“vou te levar pra um lugar onde você vai tomar leite quentinho quando acordar e aprender usar estes lápis coloridos pra desenhar um arco-íris”</em>. O menino não sorriu, não pegou a caixa de lápis de cor, não olhou pra lado nenhum, nem quando os gritos da gentalha bêbada se espalharam pelo lugar. No meio disto, o menino que não tinha voz foi, com a caixa de lápis de cor, encaminhado a uma fazenda sem muros, nem portões com correntes.</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Não se sabe por que, nem pra que, estas lembranças se juntaram àquela carta que falava de árvores e amigos. Por isto foi lá, na fazenda sem muros nem portões com correntes, saber daquela criança.</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Não vou me delongar no que sua alma foi pensando pelo caminho. Só sei dizer que quando lá chegou, podia estar até sem muita esperança, mas não estava preparada para o que viu.</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Andou por todo lugar. Uma casa limpa, o chão encerado de vermelho. Panelas fervendo cheiro de comida boa. Quartos com beliches e camas esticadas. Música de passarinho cantando. Um grupo jogava futebol, mas nada do menino. </span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Fugiu, é? - quis saber</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Não. Olha ele ai. Rodrigo, oh Rodrigo, vem cá. Tem visita pra você!</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E do meio do time no campo, uma nova criança surge. Vem correndo. Corre com a cara aberta, a alma limpa e o corpo leve. E do nada, assim, no meio da corrida, salta uma estrela no ar. Posso garantir: nunca houve nada mais bonito do que aquela estrela no ar!</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Conversaram só um pouquinho, porque estava no meio do jogo, por isto foi só: <em>Oi, tudo bem? Como cê tá bonito! Ta gostando daqui?,</em> tudo respondido ofegante e cheio de <em>sim, sim e hum-hum </em>e o sorriso grande. <em>Volta pra seu jogo, fica com Deus!</em> E depois: <em>Ahhh, adorei sua estrela! </em></span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Daí, nesta hora, ele volta. Pega uma página de caderno que estava no chão e a entrega. <em>Leva pra você</em>, diz e volta pro jogo. </span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">No papel, o desenho de uma árvore delineada por uma folhagem toda colorida.</span></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Agora, lê novamente, a carta do amigo gigante e acha que o mundo pode até ser mau, mas que os pequenos milagres são insistentes o bastante pra fazer uma enorme diferença. São anjos de todo tamanho e todo jeito colorindo as folhas da minha árvore. Alguns pequenos, outros gigantes!</span></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
<em>(Esta história é baseada em fatos absolutamente reais)</em></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-69050130738371930662010-10-11T15:27:00.000-07:002011-11-20T15:33:50.496-08:00Colcha de Retalhos<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAjKZnWRYwwd2jO31p5LszUBLz8FwA61GbIycOONEBILfmQBPFEOPscE4pGYDyLxvpgWOXC6DVko8S-AuuuEv893qDaSkMf9hj76rTo3w9Pg0TYGBVKktNtRx1ve162p7fu9JdsnxVjKzu/s1600/colcha+de+retalhos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ex="true" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAjKZnWRYwwd2jO31p5LszUBLz8FwA61GbIycOONEBILfmQBPFEOPscE4pGYDyLxvpgWOXC6DVko8S-AuuuEv893qDaSkMf9hj76rTo3w9Pg0TYGBVKktNtRx1ve162p7fu9JdsnxVjKzu/s320/colcha+de+retalhos.jpg" width="320" /></a></div><br />
<br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Na minha avaliação, perder o sono no meio da noite tem se tornado tão habitual que nem me ocupo mais em dissolve-lo. Fico assistindo filmes, documentários, enquanto aguardo, pacientemente, que minha mente se acostume a mudança que estou vivendo e assim, aceite o processo. Daí que, quando a mensagem chegou pelo celular às 3 da manhã, eu a li de imediato:</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span></div><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><em></em></span><br />
<a name='more'></a><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><em>“Você é especialista em fazer com que sua </em></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><em>presença não seja notada, </em></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><em>até ai eu entendo, </em></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><em>mas assim que se afasta, </em></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><em>morro de saudades de você”.</em></span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><em><br />
</em></span></div></div><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Para mim, o que ficou claro, de imediato, foi que alguém corria o risco de perder uma chance com outro alguém, pelo desencontro causado ao enviar a mensagem para o celular errado. Obviamente não era pra mim, eu não conhecia o número do remetente. E como omissão não é a minha praia, liguei de volta.</span></div><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Assim que ouvi o alô, fui logo dando o meu recado <em>“Oi, foi tão bonito o que escreveu, mas veio cair na minha caixa postal, revisa o número ai, aqui é engano!”.</em> A voz do outro lado escutou minha aflição e sorriu. E foi pelo som do sorriso, que eu o reconheci.</span></div><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Moramos na mesma rua. Por um tempo estivemos enamorados e vivemos um romance de quase dois anos. E fui eu, numa noite fria, quem atravessou a rua, toda emperiquitada, entrando na casa dele de salto alto e perfumada, para lhe entregar seu amor de volta. A realidade que ele vivia na época, não combinava comigo e eu não ia discutir isto. Por isto, preferi me afastar sem buscar culpados. Sai de lá, de espinhela reta e alma destroçada. Eu acreditava que os acontecimentos da vida se encarregariam de nos manter afastados, até aquela madrugada. </span></div><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ao reve-lo, assim que o dia amanheceu e os dias que se seguiram a este, descobri que ele sempre me acompanhou em silêncio. Depois, sentados, ora na areia da praia, ora na beira do rio, relembramos o que vivemos. Emoções carimbadas com gosto de família, nas gargalhadas das nossas memoráveis saídas com todos os filhos; os dele, os meus e nossos devidos genros e noras. Foi bom escutar novamente as nossas músicas, falar das dúvidas que ficaram, esclarecer o que era pra ser eternamente mal entendido. Foi bom sentir meu coração bater forte novamente e a boca merecer batom para sorrir enfeitada. Enquanto ele falava, eu admirava a maturidade com que revia e comentava os fatos que assistiu da janela da sua casa. Abençoei a sua calma, doce e terna, a rir do meu riso, pactuar dos meus sonhos e dizer que eu posso até ser doce, "<em>mas não de mel, e sim de rapadura!"</em> E quando puxou minha mão pra perto de si, busquei em meu coração traços das emoções que um dia, tão apaixonadamente, vivi ao lado dele. Mas não as encontrei. </span></div><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">No sabadão bravo, eu disse a ele que o nosso tempo tinha passado. Ele reclamou que meus olhos não brilhavam mais, e eu desviei o olhar para que não desvendasse os meus segredos. Ele foi embora. Saiu brando, como brando sempre foi.</span></div><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Porém, assim que a madrugada reinou, as três em ponto, ele com um monte de amigos,presenteou-me com uma cantoria: </span><br />
<br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
<br />
<embed allowfullscreen="true" allowscriptaccess="always" height="250" id="amta1" src="http://www.4shared.com/embed/46199607/97cdaefa" type="application/x-shockwave-flash" width="420"></embed><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Marku Ribas - Colcha de retalhos</span> </span><br />
<br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Não houve dúvidas, me revirei em lágrimas! Mas penso, que tem horas, que a gente tem que terminar pra começar. Tem que dizer não, pra ser sim. Não adianta tentar reviver a mesma história. A colcha de retalhos será sempre refeita. São pedacinhos que compõem a melodia da nossa vida.</span></span><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span> <br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="font-family: 'Times New Roman';"></span>E Tudo esta em construção. Os desencontros, feito barro, se desfazem. Os encontros, como os retalhos, se unem pra traçar um outro momento. João liga pra Alice, minha casa esta em plena reforma e, enquanto percorro as trilhas do Brasil, um sujeito vestido de números mexe com a minha imaginação. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E por este prisma, eu sigo a estrada, neste caminho surpreendente, recebendo da vida a oportunidade em passar à limpo, o que já foi. Quem sabe, na brincadeira do destino, eu encontre o brilho do olhar deixado lá tras e me agasalhe em uma nova colcha de retalhos.</span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><br />
</div><iframe src="javascript:document.write('<body><scr' + 'ipt>document.domain="www.blogger.com";document.write(document.domain);</sc' + 'ript></body>');" height="0" id="_am1286832838359" style="display: none;" width="0"></iframe><br />
<iframe src="javascript:document.write('<body><scr' + 'ipt>document.domain="www.blogger.com";document.write(document.domain);</sc' + 'ript></body>');" height="0" id="_am1286833647453" style="display: none;" width="0"></iframe><br />
<iframe src="javascript:document.write('<body><scr' + 'ipt>document.domain="www.blogger.com";document.write(document.domain);</sc' + 'ript></body>');" height="0" id="_am1286835610437" style="display: none;" width="0"></iframe><br />
<iframe src="javascript:document.write('<body><scr' + 'ipt>document.domain="www.blogger.com";document.write(document.domain);</sc' + 'ript></body>');" height="0" id="_am1286835783453" style="display: none;" width="0"></iframe><br />
<iframe src="javascript:document.write('<body><scr' + 'ipt>document.domain="www.blogger.com";document.write(document.domain);</sc' + 'ript></body>');" height="0" id="_am1286862878562" style="display: none;" width="0"></iframe>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-33068307938259921482010-08-25T14:44:00.000-07:002011-06-20T07:52:06.830-07:00Operação O.Pen<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXx2ck68V1bwKpeBh334-VRv8H0Y21dEYGEijMCjNY-4E0ySy5Ie6Yrxs6XUFsDBDncfSayvJeOg96rE_WqnEiG3sipaxhonYJ3K3th28WGFT0uBIOnH-qevcvi4VZlqaygYq4JgySM82d/s1600/amizade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXx2ck68V1bwKpeBh334-VRv8H0Y21dEYGEijMCjNY-4E0ySy5Ie6Yrxs6XUFsDBDncfSayvJeOg96rE_WqnEiG3sipaxhonYJ3K3th28WGFT0uBIOnH-qevcvi4VZlqaygYq4JgySM82d/s320/amizade.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Primeiro por causa do calor, depois pela ausência dos amigos, o dia mudo estava um tédio. <em>Coisa mais sem graça</em>, aquele domingo. A turma, há anos tinha se dissipado, e a saudade, atrevida, toma forma no peito. Sentimento besta que não pede licença pra alojar no coração da gente. Por isto ela estava lá, cravada nas lembranças de Chico. </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu quis saber, que <em>saudade era aquela,</em> e a cabeça dele começou a vagar, trazendo prá boca este e aquele momento, que o tempo levou. Delas, solta a gargalhada, os dedos rabiscam sobre a mesa, desenha o trajeto que viveu.</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
<a name='more'></a><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Lembra de quando eram todos meninos: ele, <em>Xin, ZéCaralho, Miau, Cassete, Neizim, Dimilson,</em> <em>ninguém tinha mais que 15 anos</em>. Recorda ainda, que Xin, recém experimentado uns dias nos arranha-céus da cidade grande, tinha acabado de chegar. Chegou metido, cheio de onda, falando sobre as modernidades da vida em São Paulo.</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><em>Maior barato lá, é o baseado!</em> <em>Você fica leve, doidão, </em>disse o rapazinho cheio de gíria e chiclete. E estufando o peito ainda esclareceu que não vivia mais <em>sem a coisa</em>, porque, segundo ele,<em> já</em> <em>tava viciado</em>.</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O restante dos meninos, pra não passarem batido, nem de atrasado, responderam que ali, na roça, já tinha aquilo. <em>De muito tempo!</em> Besta era ele, não saber disso. Depois, pra provar a veracidade da informação, sacaram do bolso um fumo picadinho, que rapidamente foi enrolado, para o recém chegado matar sua fissura. </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E entre uma tragada e outra, tosse daqui, tosse dali, o novo viciado disse que o fumo era <em>até bom</em>,<em> mas o de São Paulo, bem</em> <em>melhor!</em> Porém, aquele quebrava o galho,<em> já tou doidão!</em></span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E a turma gostava de fazer comida. E Xim dizendo que o treco dava uma fome danada, sugeriu fazer uma galinhada. Mas galinha que presta, tem que ser roubada. Daí, os sete resolveram ir à caça e mais uma vez, foi montada a <strong>Operação O.PEN</strong>, codinome da Operação Penosa, o ato de furtar a galinha dos outros. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">P</span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">ra quem não sabe, galinha gosta de dormir empoleirada e assim que o sol abaixa. Pra entrar no galinheiro e a danada não gritar, você tem que pisar de mansinho e ir lá, debaixo do pé dela e fazer cosquinha. Isto mesmo. Um carinho, debaixo do pé da galinha, feito com a unha, na ponta do dedo e ela fica toda desmilinguida e não dá alarme. Daí, é só segurar pelo bico e correr com ela debaixo do braço. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh527QMet4BidMAar8U1YFyYSOt0hOCG6CX48hIvmLPaEvoEGkT9J1LUiu9NeyB8PItFaDjlRvnLZeln1ca1FNahyNGX9CkDuU8Cyp9DHDXiLZqnUxpBxAxwm2LUdjklpeqNGAWC79Stjba/s1600/menino+na+arvore.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="132" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh527QMet4BidMAar8U1YFyYSOt0hOCG6CX48hIvmLPaEvoEGkT9J1LUiu9NeyB8PItFaDjlRvnLZeln1ca1FNahyNGX9CkDuU8Cyp9DHDXiLZqnUxpBxAxwm2LUdjklpeqNGAWC79Stjba/s200/menino+na+arvore.bmp" width="200" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por ali perto tinha galinha boa. E estas, gordas e bem tratadas, estavam lá, no aconchego do galinheiro de Zé do Fole. Caminhos combinados, <em>você vai pra ali, você pra cá, vou dali, vai daqui</em>, ajustado o assobio em caso de perigo e cada no seu posto, foi aberta a <strong>Operação O.Pen. </strong></span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas, o que a turma não contava era que, naquele início de noite, Zé do Fole estava zanzando pelo quintal. Isto porque já andava chateado com o sumiço das distintas, e disposto a pegar o ladrão, fazia ronda no início e no fim da noite. <em>Fosse bicho, fosse</em> <em>gente!</em></span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tempo de seca, vegetação cortando, espinho pra todo lado. A honra da cosquinha ficou por conta de Xim, pra poder viver o <em>efeito doideira</em> de forma intensa. Mas quando ele já estava bem de frente da galinha de dedo esticado e tudo, um tiro de chumbinho, grudado no grito, saltou na escuridão: <em>“vou te matar fi-das-unha!”</em></span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Perna, pra que te quero! Nunca se viu gente passar debaixo de arame farpado com tanta agilidade. Xim coitado, saiu derrubando galinha, emaranhou no meio dos arbustos, por isto chegou bem depois, com os braços e as pernas arranhadas, cortados pela vegetação. E a </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><strong>Operação O.PEN</strong> só não foi um fracasso total, porque não foram apanhados. Faltou um <em>tiquin assim, oh</em>. Então, era hora de dar de ombros e jantar em casa. Mas a história não termina aqui. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Acontece que, naquela noite, tinha reza na casa do Zé do Fole. Todas as famílias foram convocadas. E não tinha jeito de não ir. Lá, os meliantes se encontraram e disfarçados, de banho tomado e cara limpa, escutaram o homem esbravejar a estória para as visitas indignadas. O difícil foi segurar o riso, porque pela escuridão, Zé do Fole só tinha certeza que era gente. E os suspeitos não eram eles. Mas, o pior mesmo continuou sobrando pra Xim. Pra não ser implicado e ter que dar explicações sobre as arranhaduras na pele, suando feito tampa de panela, apareceu de camisa e calça comprida, se dizendo muito gripado.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Se não fosse o baseado, este velho me pegava - desabafou limpando o suor do rosto.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E Chico, dando uma gargalhada maior que a aventura vivida, tirou do bolso o saco com o fumo e mostrou ao amigo. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Isto não é maconha seu besta. É fumo Sabiá, fumo de rolo que tirei do meu pai. Quem sabe, lá pra São Paulo, cê não ta fumando é cocô?</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Depois de relembrar este fato, seu olhar se afundou no azul do céu e ele ficou rindo sozinho, talvez revendo os detalhes, que não soube contar. Ainda me falou que Xim se fez doutor dos bons e nem de perto, voltou pra tal maconha. Os outros, um morreu, outro casou... <em>tão por ai.</em></span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Bons tempos, bons domingos, bons amigos, disse ao nos despedirmos. E finalizou: é disto, minha querida, que é feito a saudade.</span></div></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-61841715974621374022010-08-05T14:12:00.000-07:002011-11-20T15:33:50.492-08:00Eternos, um para o outro.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN8GrFb45-GepI3kIew1IjxMm2_DgyYo6XYzv0gTkFTgRxTxtb59fF9wHqIOp2zQnFTzjU8pr7vvFzXyGxnnMvbmbCTrGa-HeBSgNoxiSjWauWVoyuu_ZiuacV_Pvb7KJXkDV3Iuj4rfLF/s1600/DSC00340.JPG"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5502040221497694370" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN8GrFb45-GepI3kIew1IjxMm2_DgyYo6XYzv0gTkFTgRxTxtb59fF9wHqIOp2zQnFTzjU8pr7vvFzXyGxnnMvbmbCTrGa-HeBSgNoxiSjWauWVoyuu_ZiuacV_Pvb7KJXkDV3Iuj4rfLF/s320/DSC00340.JPG" style="cursor: hand; display: block; height: 214px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<br />
<div align="justify"><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Tenho dois filhos: um menino e uma menina. Chamo-os de “<em>meus meninos</em>” porque é assim; um pedacinho da minha meninice esta ali, em cada um deles. </span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"></span><br />
<a name='more'></a><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span></div><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"></span><br />
<div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O mais velho, já na casa dos 26, com barba na cara e tudo, é meu lado <em>puxador de orelha</em>. Menino lindo, que gosta de música desde pequeno e do nada, um dia, amanheceu cismado em dedilhar um violão. Lembro-me bem: fez dos meus ouvidos um disco arranhado. Tanto fez que ganhou o dito.</span> </span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEwRvkp4TJUSjMcp2ULmEe8RroGt4tfWPaDORTNrkZIVE49CSv6LN7DP3B0jKnRe5ahw-Ehh9QcDlwPaiub_I2p4ZdVypoowAkY74loUFNFv2Kg6tym9MFqGViDNGCTR4tvhUi_yERkOBt/s1600/jv4.JPG"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5502041018945757394" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEwRvkp4TJUSjMcp2ULmEe8RroGt4tfWPaDORTNrkZIVE49CSv6LN7DP3B0jKnRe5ahw-Ehh9QcDlwPaiub_I2p4ZdVypoowAkY74loUFNFv2Kg6tym9MFqGViDNGCTR4tvhUi_yERkOBt/s320/jv4.JPG" style="cursor: hand; display: block; height: 214px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></span></a><br />
<div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">O tal do violão, todo ajeitado, caro pra minhas possibilidades na época, tinha um torneado resistente. Disse a ele que era <em>zero bala</em>, pra valorizar a aquisição e assim, o vi brilhar de contentamento, quando a caixa chegou pela transportadora. As estradas empoeiradas, as noites frias, a febre de uma gripe, nada disto o segurava quando precisava afinar o tal do <em>torneado</em>. <em>Drum, drum, drum</em> no banheiro por causa da acústica. <em>Drão, drão, drão</em> na cozinha pra eu ver o que ele já sabia fazer. <em>Bran-bran bran</em>... dia e noite, incansável, meu menino! E quando partiu pra cantar gutural? Não foi uma, nem duas vezes que acordei assustada com os sons, digamos assim, cantos, porém, mais assombrosos um do que o outro, vindos do galpão da loja, no andar de baixo. De novo, por causa da acústica. </span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Minha menina, ah minha menina... ao nascer, sua boca lembrava um botão de rosa, pequena e vermelha. Criança resolvida, sempre detestou ser contestada. O dia que eu, em um ataque bravio, achei ruim o <em>chup-chup-coin-coin</em> desgastado do bico, ela não se fez de rogada: na ponta dos pés, jogou fora a tal "<em>pepeta</em>" pela janela do 3º andar e assumiu a própria atitude, sem chorar! Ao se fazer mocinha, diziam, era minha cópia <em>xerox</em> reduzida. E quando, nas coisas da vida, seu caminho não ia de encontro ao alvo, aqueles olhos redondos se enchiam de lágrimas que ela engolia, rapidinho.</span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqzpGkynCNLYAwiN31JJTAsK38Z4LnhJQRGydjpLMuj-YUsq6AD5-X_TzzBXXnySt2rzno-8VS1sUdSfuVgnNdnKXOqknL5wWyWgQ-zKS69ubEja66ssUzhyphenhyphenthVxgU9_GrxLzV6J2CLyuV/s1600/Vivi.jpg"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5502041683965125250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqzpGkynCNLYAwiN31JJTAsK38Z4LnhJQRGydjpLMuj-YUsq6AD5-X_TzzBXXnySt2rzno-8VS1sUdSfuVgnNdnKXOqknL5wWyWgQ-zKS69ubEja66ssUzhyphenhyphenthVxgU9_GrxLzV6J2CLyuV/s320/Vivi.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 180px;" /></span></a><br />
<div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Cresceu dependurada em livros. Por isto, fez com que eu comprasse a coleção completa do escritor que mais detesto. Apaixonada pelas letras, perpetrou, nas folhas de papel encadernadas, um mundo introspectivo que só saia da sua cabeça quando, em uma situação semelhante, comparava, em voz alta, o que lia com o que vivia. De cima dos seus 22 anos, minha menina, hoje, tem caminhos curtos, mas <strong>muito</strong> delicados, pra me dizer o que acha. </span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Cresceram somente na minha companhia. Mas não foi, como toda família é, até se tornarem meninos grandes. </span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">A vida traz situações que a gente custa acreditar que são boas, bem no final. Falo isto por que não pude ficar com meus filhos até a fase adulta, naquela velha história de “<em>saiu pra casar</em>”. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br />
</span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Na época, as dificuldades financeiras eram enormes e a cidade não oferecia chances de crescimento. Daí, na pré-adolescencia, foi embora um primeiro e logo depois, o outro. Eu assisti estas cenas, minuto a minuto, desolada, sem ação, cada partida, cada despedida. Chorei muito sobre cada objeto esquecido. Trancafiei minha impotência no mais singelo dos silêncios. Confortava-me, dizendo a mim mesma, que eles estariam longe, porém com mais chances: <em>é melhor assim, ter o mundo pra descortinar, enquanto eu ainda faço parte dele. </em></span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">O tempo passa.... João Victor se fez músico, Máira Vivian, jornalista. Ambos premiados e reconhecidos nas suas profissões. E independente dos meus olhos de coruja, eles tem talento. É nato. Nasceram amando o que se tornaram. </span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Hoje faço campanha pra ser avó e eles me pedem pra ter juízo. E quando vou visitá-los, hora na casa de um, hora na casa do outro, continuo sendo <em>maiê</em>, aquela que faz a comida que cheira na alma das recordações. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Dedicamo-nos assim; cuidando um do coração do outro, bem no fundinho da alma, no mesmo fundo musical, no jeito de ler e vivenciar as coisas da vida. Aprendemos, juntos, a desvendar as pedras e as flores do caminho. Trocamos idéias, emoções, alegrias e lágrimas. E por isto mesmo, hoje sei, diante da imensidão do que é feito o mundo, que sempre fui e sempre serei tão criança quanto eles.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br />
</span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><strong>Cento e setenta e dois</strong> quilômetros nos separam,- não é tanto assim - porém 1 MB de velocidade da internet nos mantêm ligados. <em>Meus meninos</em> são meus amigos, minha turma, meu encanto, meu suor e meu bálsamo. E não há nada no mundo que possa mudar isto. Nascemos eternos, um para o outro. Pra sempre, um para o outro.</span></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-53070512957147027032010-07-16T07:54:00.000-07:002011-11-20T15:33:50.483-08:00O último desencontro<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3gnlbGC0cV6OU7UHcPEdjusRiubN0Sck6bZWe5hC77ch9-aEaHuazFvNAuQy9COxMLgrunhbcVtMle_EUKCW6BHw5ClPLNJH4HFOt_hOzXeq6xkP8a5TKk6d4cL8EiYInebQ3ZyeC6mh3/s1600/passos+na+areia.bmp"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5494521165177667986" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3gnlbGC0cV6OU7UHcPEdjusRiubN0Sck6bZWe5hC77ch9-aEaHuazFvNAuQy9COxMLgrunhbcVtMle_EUKCW6BHw5ClPLNJH4HFOt_hOzXeq6xkP8a5TKk6d4cL8EiYInebQ3ZyeC6mh3/s320/passos+na+areia.bmp" style="cursor: hand; display: block; height: 238px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<div align="justify"><span style="font-family: arial;"></span></div><br />
<div align="justify"><span style="font-family: arial;"></span></div><br />
<div align="justify"><span style="font-family: arial; font-size: 130%;">A culpa de eu amanhecer dormente é da morte, de novo, que veio bater na minha porta. </span></div><br />
<div align="justify"><span style="font-family: arial;"><br />
<span style="font-size: 130%;">Pra onde olho tem os amigos dela e estou sem espaço. Lá no meu quarto, a cama fria recebe em vez de mim, a angústia refestelada debaixo do cobertor. Na cozinha, pelo quintal, nos cantos mais miúdos, o silencio no vazio perene. Tem muitos assombros na minha casa e eu não sei mais chorar pra afastá-los. Agora, sou covardia em pessoa. Queria fechar em mim, estar somente pra mim, falar só pra mim. Mas não posso. Tenho que sair daqui e ir lá.<br />
<br />
Ir presenciar a amargura da perda, dar de cara com o passado, refazer e desfazer histórias. Enterrar os segredos.<br />
<br />
Sei que meu coração vai se partir em mil pedaços ao ver a dor do meu filho chorar sobre o corpo do pai. Um pai que meu menino sempre quis, que marcou muitos encontros e faltou a quase todos eles. Um pai imensamente esperado em muitos natais, muitos aniversários, em todas as suas conquistas. Um homem perdoado pelo que não foi e, mesmo assim, não soube viver isto. </span></span></div><br />
<div align="justify"><span style="font-family: arial; font-size: 130%;"></span></div><br />
<div align="justify"><span style="font-family: arial; font-size: 130%;">No hospital pediu: “morre não, pai, fica aqui, vamos marcar um encontro de verdade e vê se desta vez você não me dá bolo”.<br />
<br />
Mas ele se foi. Deu outro bolo. O último e o mais doloroso de todos. </span></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-10150246700197387082010-06-24T14:47:00.000-07:002011-06-20T07:53:38.298-07:00A Carta<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNQtFjsYTkP0dpZyJx0yE0bWDCWWzxu8WEArdhMA60aHibqhWMJ2l33iDH4QtlPqAmzPwnq14wWvi5UY0wPr0mW1b41SDTDNNgKG36VifVL-SumksWNkHpXjITX80TkHMWLlDQ9Ii5BWdk/s1600/a+carta.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5486470282678517586" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNQtFjsYTkP0dpZyJx0yE0bWDCWWzxu8WEArdhMA60aHibqhWMJ2l33iDH4QtlPqAmzPwnq14wWvi5UY0wPr0mW1b41SDTDNNgKG36VifVL-SumksWNkHpXjITX80TkHMWLlDQ9Ii5BWdk/s320/a+carta.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 211px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIGJzeH6V3k0SBPGPijN-jAlHAmN8uSkR1DJ4Bca3iriLMfL1F5oLrSW4gZhpL1UixUYgyT_tqKw_vF8AOwplt5gUvFQu7MKjO_Ctd_mKMNlmM2BXgJYyQ16dtWx6FtJ_5ibvmOgW2gvXc/s1600/a+carta.jpg"></a></div><br />
<div align="justify"><br />
<br />
<span style="font-size: 130%;">No chamado de cada um, Alice e Santiago seguiram por outros caminhos. Cada qual tem seu chamado! Ele quer se fazer doutor e ela tem pressa em viver. Um tem que percorrer o caminho, o outro precisa parar para faze-lo. Então, relembrando lá, o princípio desta história, nesta carta, ela se despediu:<br />
<br />
</span><span style="font-size: 130%;"><em>“Meu bem,<br />
<br />
O rio que nasce lá em cima desce todo animado, é pequeno, só tem um filetezinho. E, pelo caminho, recebe pequenos rios e córregos que injetam bem na sua veia, mais vida, mais água e ele, junto e misturado, vai assim, tomando volume e se formando mais rio!<br />
<br />
E o rio que é rio, que é gente feito a gente, cresce, passa por muitos lugares, diferentes essências e jeitos. Vive de tudo; ora com os peixes que vêm nadar pra fazer festa e procriar, ora com os pesqueiros que abastecem a família e o bolso. Jovem, astuto, arrogante, bate suas águas nas pedras pra fazer barulho nas corredeiras só pra mostrar virilidade. É resoluto, brilhante, inteiro, vistoso! E vai seguindo, seguindo, ora em linha reta, ora pelas curvas do caminho. Vai que vai, apaixonado!<br />
<br />
Mas com o tempo, ele se torna mais brando. Começa levar aquele jeitão manso, talvez refletido pelos enigmas nas histórias que colecionou desde lá de cima. Feito gente crescida derrama lágrimas de amor e de dor, como as mães que festejam a alegria dos que acabaram de chegar e que choram pela saudade dos filhos que partiram. É nobre como o homem que se debruça na varanda do tempo pra contemplar e desaguar as pequenas grandes facetas da sua história, aquelas coisas que não se explicam, mas acontecem. Quando entorpecido de paixão, clama pelo amor que se foi... O rio é gente, gente como a gente. Encruados nas suas águas, tá cheio de histórias. São vidas. Muitas vidas!<br />
<br />
Daí vai descendo, mais pra lá, e ainda brinca no sacolejo, às vezes até faz onda, mas descobre que já é tão grande, tão pesado e que não precisa e nem consegue mostrar tanta força. Nesta hora, alguém lhe conta que em breve vai virar mar.<br />
<br />
E ele se pergunta: mas... mar; o que é o mar? Uma imensidão esverdeada e brilhante que vai dar nos quatros cantos do mundo? Como é ser imenso? Não fazer parte de nada e ser tudo? Então tem medo. Abre os braços, na tentativa desesperada de se segurar pelas beiradas, de se ater ao tempo, de voltar às corredeiras, de abraçar a lua e sugar o sol. Quer parar. Contudo, suas águas desfilam para o infinito. Matas ciliares já não existem mais. No fundo, se sente enfeiado dos lixos que recebeu. É na tentativa de se agarrar, inunda cidades, vales, vilas, lugarejos. Mas, pra onde correr? É inútil. Não tem como parar a coredeira. Não tem como freiar a vida e parar o tempo. Não tem como ficar rio.<br />
<br />
Nesta hora, resignado, vai complacente. Fez o que fez, leva a vida que levou, carrega o que amou. Por isto, ao final, manso e silencioso, se entrega ao mar. Daí que, o que era pra acabar e se perder, se modifica: o Rio vira Mar.<br />
<br />
O mar, meu bem, coleciona histórias e as guarda para si. Mas o rio fala, porque não quer passar em branco entre o céu e a terra. Então, neste fluxo, faço-me olhos do mundo nas histórias que impregnam o rio. Não pra obter respostas acerca dos mistérios, mas para viver rio e não trair a vida, pois se me nego, abandono os talentos que Deus entregou a mim e em mim, espera. E só assim não serei vencida."</em> </span></div><br />
<div align="left"><br />
<span style="font-size: 130%;">Depois assinou, pura e simplesmente, </span></div><br />
<div align="center"><br />
<span style="font-size: 130%;">"<em>Alice</em>.” </span></div><br />
<div align="right"><span style="font-size: 130%;">E saiu.</span></div><div align="justify"><br />
<br />
<span style="font-size: 130%;">Foi assim, desse jeitinho assim, que se separaram.<br />
<br />
De longe, bem de longe, os olhos brilham e se despedem. Os cílios que um dia brincaram um com o outro, mudam de direção e seguram o que aperta a garganta. Outros rios virão, aqui ou noutra curva em que se fizer caminho até o fim da jornada. E este continua sendo o segredo só do mar. </span></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-22684552715132204412010-06-16T12:04:00.000-07:002011-06-20T07:54:48.314-07:00A Cara do Mico<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPNI9bfjROhDsNn4KiqaRx3X2gJ1Y3sTzAsOsO29ZU0E1iG98riLTAJz_qagymaWgUaPw7pLBUpLV_pXbclIXztk5D98CWHrR2V22VnglMzQoVvFnq-xKCTuUCp3fi05UVMwRgXoI1fj4p/s1600/a+cara+do+mico.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5483458731275190754" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPNI9bfjROhDsNn4KiqaRx3X2gJ1Y3sTzAsOsO29ZU0E1iG98riLTAJz_qagymaWgUaPw7pLBUpLV_pXbclIXztk5D98CWHrR2V22VnglMzQoVvFnq-xKCTuUCp3fi05UVMwRgXoI1fj4p/s320/a+cara+do+mico.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 159px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 166px;" /></a><br />
<br />
<div align="justify"><span style="font-family: arial; font-size: 130%;">Logo cedinho, o bicho de cabeça pra baixo, bota toda cara grande na janela da cozinha e, com aqueles olhos esbugalhados, entretidos em bisbilhotar, dá de cara comigo. O susto deste imprevisto fez com que ele ficasse bestificado, estático e o queixo lhe atingesse o peito. E só saiu do transe após ouvir a gargalhada que soltei da cara dele. Saiu correndo, trombando nas vigas, no ar, em si mesmo. E se eu ri tanto, foi por me lembrar que o danado do Mico tinha a mesma cara do tal sujeito de ontem. </span></div><span style="font-family: arial;"><br />
</span><br />
<div align="justify"><span style="font-family: arial;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: arial;"><span style="font-size: 130%;">O tal sujeito de ontem é violeiro e cantador dos bons! Interpretava as músicas de Zé Ramalho e começava até bem, mas, lá pela centésima pinga, ficava fazendo somente o gesto com a boca, sem soltar um som sequer. Daí que, nos bastidores, ganhou o apelido de ZeCaralho. Apesar da pouca idade, Zeca tem os cabelos totalmente brancos. Magrelo, estatura mediana, sem os dentes da frente, vivia por aqui, de bar em bar, filando de cigarro à tira-gosto, de cachaça à parati, até que um da rua, compadecido, lhe retirasse da calçada. A família já tinha cansado de falar, de pedir, de mostrar; então <em>bebe, praga ruim</em>! </span></span></div><span style="font-family: arial;"><br />
<div align="justify"><br />
<span style="font-size: 130%;">O Zeca, nas horas de lucidez, era um excelente pintor. Daí que fazendo um bico daqui outro dali, foi parar na casa de outro sujeito grisalho, vendedor de mudas, apreciador dos mistérios dos cristais e das estrelas, que falava com seres espaciais e mantinha a filha única na França. Segundo soube, foi num destes encontros intergalácticos que ele foi informado dos números certos da sena e ganhou sozinho, com uma única aposta, a maior bolada da época. Depois desta prova, <em>quem sou eu pra questionar as naves espaciais! </em></span></div><br />
<div align="justify"><br />
<span style="font-size: 130%;">Tornaram-se amigos e apoiado por ele, Zeca foi pra São Paulo se tratar. Hospedou-se em uma das casas que este mantinha pra a filha, em suas vindas ao Brasil. E lá fez bonito: trabalhou pra agradecer a ajuda. O tempo passou e eis que surge, o agora José, com dentes perfeitos, desfilando de carro importado pelas ruas da cidade e como turista, câmera na mão, filmando o rio, passando pra lá e pra cá de bermuda comprida, camisa estampada e meia três-quartos. À tira colo e sob às benção dele, a bonita filha do Cristaleiro. </span></div><br />
<div align="justify"><br />
<span style="font-size: 130%;">Num domingo ensolarado, o Cristaleiro morre: infarto fulminante. Os dois, Zeca e namorada que estavam lá pelas bandas da Europa, levaram quase três dias pra chegar aqui. A esta altura do campeonato é Zeca, digo, José, quem administra os bens da família. E até onde se consta nos laudos do cartório, das portas de rua e dos botequins, o cara não cometera um só deslize, não se deixou levar seguer, por uma proposta indecorosa! Agora tem porte e anda de cara limpa e peito inchado. Uma chance de ouro! A moça é bem criada, carinhosa e orgulhosamente desfila de mãos dadas com ele pelas ruas da cidade em fofoca, numa demonstração clara que o ama e o respeita. Às vezes era isto que ele precisava. Alguém que confiasse nele. Que apostasse nele. <em>Que saiba dar valor!</em> E tão felizes estavam que o casamento foi singelo também. Nada de ostentação, nada de barulho. Tudo na calma e na paz. </span></div><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiImMPRDSZo3IN_r0FgeJMYA7TL33T8jefepdcK9KOZS__fAp7_-Dz8gXJwGXcwLZGayAQUSoLkQ7MzSqimf5ClaexWF1cuX9XxA5L3kiph_XpoF-0uBEU0sunjgBfEse7ldjXl1s7JHTqj/s1600/camera+a%C3%A7ao.bmp"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5483460677283859090" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiImMPRDSZo3IN_r0FgeJMYA7TL33T8jefepdcK9KOZS__fAp7_-Dz8gXJwGXcwLZGayAQUSoLkQ7MzSqimf5ClaexWF1cuX9XxA5L3kiph_XpoF-0uBEU0sunjgBfEse7ldjXl1s7JHTqj/s320/camera+a%C3%A7ao.bmp" style="cursor: hand; display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 230px;" /></a><br />
<div align="justify"><br />
<span style="font-size: 130%;">Ontem era dia de fazer matéria e eu estou, há coisa de um mês, na função de cinegrafista junto com Anderson. Cubro o que, inesperadamente, não se adaptou e foi embora. Também precisamos de uma repórter. Por isto, ao fazer as cenas, observo com muita atenção as pessoas ao redor, pra ver se reconheço nelas, o que procuro. E foi num destes <em>zoom</em> que flagrei Zeca, detrás da porta do carro, dando mais uma golada na <em>marvada</em>. No olhar sorrateiro, o rosto gira para um lado e para o outro, <em>vrupt</em>, pinga pra dentro. Depois, limpa a boca com a manga da camisa, sopra o ar, ajeita a língua, faz massagem nos beiços, masca um cravo e volta pra roda cheia de amigos. A cara, seríssima! Acompanho, duas, três vezes o mesmo percurso dele, no carro. </span></div><br />
<div align="justify"><br />
<span style="font-size: 130%;">Neste ínterim, minha adotiva Raimunda, com seus parafusos a menos, esta no meu encalço, porque um delegado de codinome Don-Juan-Júnior, inventou de dizer pra ela que estou grávida e são quatro crianças. Desde então, nossos encontros tem sido pedantes; ela e sua cabeça desmiolada não saem de perto de mim, chorando e seguidamente fazendo a mesma pergunta: <em>você vai casar com ele? São quatro? Cinco?</em> Hoje não me irrito mais. Deve ser porque <strong>só</strong> tive um ataque descontrolado de cólera na vida, e este foi semana passada. Estou limpa de tudo. Será difícil alguém me tirar do sério, por um bom tempo. Ela desiste, se afasta resmungando e eu, que conheço a peça, somando dois mais dois, chamo Anderson e falo o que podemos esperar. Ele ri, maliciosamente, e nos posicionamos. E é agora é que você tem que se lembrar da cara do mico, lá no início da história. </span></div><br />
<div align="justify"><br />
<span style="font-size: 130%;">Lá foi Raimunda, xingando e chorando. Não quer saber mais de mim, <em>tou de mal</em>, acredita na gravidez quádrupla. Quer me mostrar que tem outra amiga. Pernas tortas, mãos na cintura, foi direto e reto na roda de ZecaCaralho. Cutuca o ombro da moça recém casada: <em>Cê tá esperando neném dele?</em> e aponta pra cena bagaceira que finge mexer no carro. </span></div><br />
<div align="justify"><br />
<span style="font-size: 130%;">A talagada nem tinha chegado na garganta, quando os olhos de toda roda o encontraram. O impacto, o <em>ohhh</em>, o silencio. Acho que nenhuma boca voltou pro lugar. A cara dele, a cara do mico. Tal qual o olhar. Tal qual o silêncio; a paralisia. Mas ele não corre, quando ela se aproxima. Abaixa os olhos, balbucia <em>foi só uma</em>. Mais tarde, neste mesmo dia, eu os vi; ele de violão em punho abrindo e fechando a boca sem som, talvez entoando uma <em>musique</em> de ZéMico, só pra ela. </span></div></span>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-15236815664017328302010-06-07T20:40:00.000-07:002011-11-20T15:33:50.460-08:00Os Três Tempos<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDZOSHOmlzZ19cDJyCWT1EkXDVjDpqblnIEL3zXLfO9aseh4bhc4DtLxXZQV4RcX4xJlYUwkxKziMNlHDPBCZ6fzxZ6dGYdCJzfBSsRiE2CeDWWCL9JZepbaPKSkDruLBW-UUzcQVD5kQP/s1600/cupido"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5477479543742674946" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDZOSHOmlzZ19cDJyCWT1EkXDVjDpqblnIEL3zXLfO9aseh4bhc4DtLxXZQV4RcX4xJlYUwkxKziMNlHDPBCZ6fzxZ6dGYdCJzfBSsRiE2CeDWWCL9JZepbaPKSkDruLBW-UUzcQVD5kQP/s320/cupido" style="cursor: hand; display: block; height: 233px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<br />
<span style="font-family: arial;">A areia quente sob os pés, a mente fervilhando perguntas, coração batendo forte no peito. Não sabia dizer o que sentia. Se raiva, se amor, se rancor. Muita coisa dentro. Excesso de tudo. Mistura de só e junto. <em>Verdadeiramente misturado</em>, pensou. A noite passada em claro, o corpo abrasado ao lado do travesseiro vazio. Por isto saiu de casa quando o dia ainda abria os olhos. Precisava trocar passos com a realidade, não se precipitar no compasso e assim, deixar o novo tempo nascer.<br />
<br />
Como num parto, a contração do pensamento embaralhado fez com que ficasse tonta de desgosto. Esmurrou o ar. Quis soltar no grito, mas as mãos carregadas do vazio prenderam a boca.<br />
<br />
Mergulhou de ponta no rio.<br />
<br />
Afundou de cabeça na água e lá, imersa, se embaralhou no turbilhão da sua correnteza. <em>Quem de nós dois vai explicar isto?</em> Nas veias, o sangue gelado, no peito palavras escritas nas conversas. De si, a mente que teimava e relia sem parar o que não era pra ser visto. Ecos pra todo lado. As palavras no bate-volta.<br />
<br />
<em>Caraca</em>! Queria se livrar do incomodo, mas pra isto tem que entender ou aceitar. <em><em><em>Devia mostrar pra ele</em></em>. Mas, falar por falar é conversa jogada fora. Não quero ser convencida de nada. Tem evidências demais.</em> Quer afogar o martelar na cabeça e por isto fica debaixo d’água até não ter mais ar. E quando emergiu, ele estava lá, sentado na areia.<br />
<br />
- Se demorasse mais um segundo eu ia te puxar pelos cabelos – foi o que disse quando se sentaram na praia.<br />
<br />
Quem diria que o mesmo homem que anos atrás formou família e disseram “sim” diante de uma igreja cheia de convidados, hoje, a protege de uma outra história. São amigos ligados por um presente em que não tem dúvidas; apenas começo, meio e fim de um casamento que não deu certo. Foram cada qual passar noutra estrada, mas resguardaram a base com que se fizeram pessoas. Sentados diante das corredeiras do rio, ele nada perguntou e ela nada disse, porém deixou que ele soubesse por quem era o seu descontentamento.<br />
<br />
- Perder é, as vezes, ganhar, sabia? Deixa como está, segue seu caminho.<br />
<br />
<em>Não existe esta coisa de perder ou ganhar, isto não é um jogo </em>, tentou explicar mostrando o avesso das coisas, a frase na contramão. Não queria desculpas pra ver o que tava na cara e por isto contou a história toda, tim-tim-por-tim-tim sem refletir uma visão pessoal de dona da verdade.<br />
<br />
A história começou quando o causador do descontentamento chegou dizendo que estava ali pela metade. E como os gestos falam mais que as palavras, no correr dos dias, mostrou que nem o restante da outra metade se fazia presente. Criticou a cidade que antes era surreal e intrigante, reclamou e encheu de defeitos o que antes era perfeito. O material de trabalho entregue a ele mal foi desvendado. Ficou ali na caixeta a disposição do olhar preso em outro mundo. Um dia falou que tinha medo de não dar conta e ela não quis convencê-lo de que <strong>a capacidade esta na vontade</strong>. Ela quer mudar, ta de saída, mas ele se diz bagagem e não pessoa. E pelo que sabia, no que guardou pra ele, o que desvendou pra ele, o que entregou pra ele foi estilhaçado no ar, nas palavras gravadas na tela. <em>Eu não me importo com que os outros digam, mas me importo com o que ele diz pra os outros,</em> finalizou. E o que ela ouviu, leu e escutou foi o que fez com seu coração perdesse a cadência.<br />
<br />
- Perdoa os enganos, festeja o novo tempo, disse o então amigo na despedida.<br />
<br />
Ela, assim, aceita que em histórias de amor não há culpados, nem pecadores. Há o tempo certo de cada um. Agora guarda em uma caixinha as fotos, as histórias, os apontamentos. Retira, delicadamente do computador, as lembranças. Pensa no que foi bom e se abastece disto. Suga do ar as delícias que um dia viveram e manda pra ele, seu melhor beijo diante de uma estonteante lua redonda no céu. Depois, quase que em oração, balbucia palavras ao homem formidável que amou e deseja verdadeiramente que viva em paz. Sabe que não existirá remédios pra nostalgia que virá, e por não querer esperar sentada, aceita o convite engavetado para ir dançar.<br />
<br />
- A noite é uma criança – brinca com o novo tempo que nasce. Depois se surpreende às gargalhadas ao descobrir que o homem que a conduz no <em>dois pra lá, dois pra cá </em>tem o mesmo nome e sobrenome do que acabou de partir. <em>Vida atrevida! Agora faz piada com a minha cara! </em><br />
<br />
E com os olhos cerrados diante do novo tempo, se deixa apertar pela cintura, com a certeza de ter transformado o que pareceu tempo perdido, no mais sublime de si, ao se ver por inteira, como a mulher que vive, viveu e viverá um grande amor.</span></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-82296466008105162462010-03-28T21:03:00.000-07:002014-09-01T06:08:46.865-07:00O Bem do Bem<div align="justify">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_w7kZhpJDcsK9sbIKoDbfOzNvH54UdaXwztwH9wLFRFb25zyIFjbBZKctAo_IoA3MKFpHJJWuVKPzxXUXsgPIt3SN0UWFEVFiiV6_ewpnwgeshC24RQN4X2x3Fk6mFeoCp5y5P9iMPXn/s1600/o+bem+do+bem.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_w7kZhpJDcsK9sbIKoDbfOzNvH54UdaXwztwH9wLFRFb25zyIFjbBZKctAo_IoA3MKFpHJJWuVKPzxXUXsgPIt3SN0UWFEVFiiV6_ewpnwgeshC24RQN4X2x3Fk6mFeoCp5y5P9iMPXn/s320/o+bem+do+bem.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5454081637474400450" style="display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 235px;" /></a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: 130%;">Levantou, sozinha, olhou para o espelho. <i>Tô bem melhor</i>, pensou. Tomou banho, sentou-se à mesa, provou o café, olhou pro céu, depois pra fora e viu o quintal "<i>será que vai chover?</i> <i>Vai nada, o sol tá muito quente, aquela nuvem escura vai sair dali."</i><br />
<br />
Saiu.<br />
<br />
Saiu pra resolver o básico, normal de toda semana: compras de supermercado, pagar contas no caixa eletrônico, trocar óleo do carro, calibrar pneus. Fez tudo automaticamente. Já estava no caminho de volta pra casa quando o pensamento puxou: </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><i><br /></i></span>
<span style="font-size: 130%;"><i>Casa? Pra quê casa?</i> <i>Hoje é sábado!</i> </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Meio do caminho, relógio marca meio dia e meio, barzinho à esquerda, <i>tá cheio</i>, olho encompridado lá pra dentro. A visão foca: <i>tem gente da família aqui!</i> </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Estacionou e desceu. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">E o jogo foi rápido. Porque nem a tampinha da segunda cerveja aberta tinha quicado no chão quando o caso foi despejado.<br />
</span><br />
<br />
<span style="font-size: 130%;"><i>Ele quer indenização?</i>, interpelou, engasgou. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Sim, ele </span><span style="font-size: 21.111112594604492px;">era</span><span style="font-size: 21.111112594604492px;"> </span><span style="font-size: 130%;">amigão, ajudou um <i>tantão</i>, quer receber os ouros deixados pela morte da irmã, da mãe dela, aquela, a preferida dele, que pagou as contas dele, inúmeras, de água, luz, telefone, carro, barco e feira. <i>Ta tudo configurado!</i></span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Daí, vem outra cerveja. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><i><br /></i></span>
<span style="font-size: 130%;"><i>Abre não!</i> </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Mas abriram.<i> </i></span><br />
<span style="font-size: 130%;"><i><br /></i></span>
<span style="font-size: 130%;"><i>Agora bebe, seu copo tá cheio.</i> Mas e ai? </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">A história continua. Ela não concorda. Mesmo assim, quer ouvir. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;"><i>E daí?</i></span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Pagar por que foram amigos? </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><i><br /></i></span>
<span style="font-size: 130%;"><i>É sim, coitado</i>. <i>Depois que ela morreu, ele ficou na miséria, nem comida tem mais lá.</i> </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Coça a cabeça, não entende. Até lembra. </span><i style="font-size: 130%;">Ele chorou na despedida.</i><span style="font-size: 130%;"> </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Era mentira! </span><br />
<i style="font-size: 130%;"><br /></i>
<i style="font-size: 130%;">Ele se despedia dela ou do que ela representava financeiramente pra ele?</i><span style="font-size: 130%;"> quis saber. </span><br />
<i style="font-size: 130%;"><br /></i>
<i style="font-size: 130%;">Claro que era dela!</i><span style="font-size: 130%;"> explicaram, </span><i style="font-size: 130%;">você não entende, nunca passou necessidade na vida!</i><span style="font-size: 130%;"> </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">A cerveja tá quente, a mente ferve. Não quer mais saber daquilo, nem de estar ali. Levou paulada na moleira, tá zonza. </span><br />
<i style="font-size: 130%;"><br /></i>
<i style="font-size: 130%;">Bebe ai!</i><span style="font-size: 130%;"> alguém ditou. </span><br />
<i style="font-size: 130%;"><br /></i>
<i style="font-size: 130%;">De novo?</i><span style="font-size: 130%;"> </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Ela não quer: </span><i style="font-size: 130%;">Não, tá quente!!</i><span style="font-size: 130%;"> </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Depois, </span><i style="font-size: 130%;">ah,</i><span style="font-size: 130%;"> tinha mais, alguém assumiu o comando de tudo, </span><i style="font-size: 130%;">você nem tem que se preocupar.</i><span style="font-size: 130%;"> Mandou dizer que não te faltará nada. </span><i style="font-size: 130%;">Como assim?</i><span style="font-size: 130%;"> Não tem assim. Acabou</span><i style="font-size: 130%;">.</i><span style="font-size: 130%;"> </span><i style="font-size: 130%;">Acabou?</i><span style="font-size: 130%;"> O que acabou? Mais cerveja, de novo, aberta. </span><i style="font-size: 130%;">Quero mais não</i><span style="font-size: 130%;">, tira o copo.</span><i style="font-size: 130%;"> Num que o quê? Você sempre gostou! </i><span style="font-size: 130%;">A voz continua; </span><i style="font-size: 130%;">preocupa não, ele vai cuidar de você</i><span style="font-size: 130%;">. Ele quem? </span><i style="font-size: 130%;">Quem falou que eu quero que ele me cuide, assim? </i><span style="font-size: 130%;">Esurdeceu. Agora só escuta o assombro dentro de si. Ele urra. De fora é resto, é boca que abre, boca que fecha, boca que mastiga carne e baba gordura. Estão gargalhando, tem dente cariado. Tudo é dinheiro. Tudo fachada. O bem de cada um sumiu. O brio da cara, da vergonha, da honradez? </span><i style="font-size: 130%;">Sumiu ou nunca tiveram e eu nunca vi! </i><span style="font-size: 130%;">Vida banalizada, perda do maior valor, </span><i style="font-size: 130%;">tou com enjoo, </i><span style="font-size: 130%;">almas vendidas, vergonha é piada. O da frente se isenta: </span><i style="font-size: 130%;">não me meto nessas coisas, problemas seus ai...</i><br />
<br />
<span style="font-size: 130%;">Agora tá zonza, se levanta da mesa. Falta de ar foi só o começo no disparar do coração. Pra que ficar mais ali? <i>Cadê meu ar?</i> Despediu de jeito cordial, parecia bêbada. <i>Vai pra onde? </i>pergunta o da frente, <i>fica aqui, você não dá valor a família?</i> De raiva, fez que riu. Mostra os dentes. Saiu.</span><br />
<br />
<br />
<span style="font-size: 130%;">Foi fazer via sacra: bar de Toninho, de Babau e de Silvano. Nenhum serviu, nenhum coube, nem ela e nem as informações entaladas na goela. Nem bebida mais forte desceu. Melhor parar debaixo do pé de manga, <i>mais perto de casa</i>. Estática, abobada, corpo apanhado, parou. Quer ar. <i>Fica calma, respira fundo. </i>Puxa o ar e solta. Jeito de fortalecer o coração.</span><br />
<br />
<span style="font-size: 130%;"><i>Que bicho é aquele?</i> De novo, o Mico. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Tinha birra dos micos, mas era ele que estava lá na hora que música tocou, <i>por que</i> <i>não vai pra casa?</i> pensou, <i>sai daqui!, </i>gritou. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Mas a casa não cabe. Melhor ficar ali. Se acomoda. Do rádio sai a voz que canta; é dele seus pensamentos agora. Suga o cheiro das lembranças. Tem que ter um restinho da poesia dele, é ele, ali, no cheiro da saudade, no apoio, nas palmas das mãos. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">Suga, respira e aspira. É alento. Não esta sozinha, tem sonhos, quase chora, <i>pára, controla</i>, pede e repete; é a alma quem diz. A música no rádio,<i> nossa música!</i> Agora sorri.<br />
</span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">O grito que é surdo, engole, quer silêncio. Tá sozinha, não precisa parecer forte, por isso chora de verdade, de boca aberta e mão no rosto. Deixou a mulher pra lá. Agora é menina assustada. Abocanhada. E o celular que não pára chama seguidamente, tem gente querendo saber disto e daquilo, tem acidente na estrada, gente que foi presa, <i>por que você não veio cobrir?</i> Mas a jornalista não liga e desliga, tem que pensar, tem que se acalmar, é raciocínio que se perde. É menina despida.</span><br />
<br />
<span style="font-size: 130%;">Mas continua aquela insistência no telefone que toca um, dois, depois outro chamado, e assim vai e ela atende uma por uma, entre um engasgo e outro, <i>não posso, não vou,</i> <i>tou longe, </i>até que, <i>quem é você?</i> rosna com a boca no telefone. <i>“Sou eu, meu bem, seu bem! Estou sentindo daqui, o que tá acontecendo?”. </i></span><br />
<br />
<span style="font-size: 130%;">Estofado do carro fica macio, corpo amolece. E com sotaque batido a voz amassa: <i>vai pra casa!</i> É ordem vestida de pedido. Então, se acomoda. O abraço vem. O beijo sussurrado colhe. A voz orquestra ordem na dor. Respira e aspira. Um milhão e seiscentos e oitenta e seis mil passadas daqui lá. <i>Só isso? Dá mais!!</i> Aceita e ressente. <i>Tá longe mesmo</i>. No curto silencio só falou: <i>é você, meu bem?</i> Enquanto escutava ficou leve e até deu <i>ei</i> pro infeliz do Mico. Até que ligação cortou. Caiu. <i>Oh dó</i>, acabou...</span><br />
<br />
<span style="font-size: 130%;">Olha em volta. O momento exato, o segundo que retoma o ar, no mundo que é grande, no céu que é azul e escuro, onde a lua que é cheia e graúda, o corpo, <i>ahhh</i>, suspira, o corpo que torce e contorce, que ainda dói na garganta abafada, afrouxa e até se refaz ali mesmo, por que não tá sozinha não. <i>Ah, não tou mesmo não, viu? </i></span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">E isto é um ponto pra seguir. Ajeita os olhos, já dá pra sair do carro, levanta a cabeça, espana a saia e vai. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><i><br /></i></span>
<span style="font-size: 130%;"><i>Ta fazendo o que ai? Paixão, não, mas eh saudade, hem?, </i>zomba o que via tudo do murinho. </span><br />
<span style="font-size: 130%;"><br /></span>
<span style="font-size: 130%;">É saudade sim, <i>muita saudade do meu bem.</i></span> </div>
Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-12610149667950464482010-01-20T16:52:00.000-08:002011-11-20T15:33:50.455-08:00Nos braços de Santiago<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7YZ5o9dFTeXLsB2QclWbY6PG9SCPtaTOgMdrCs4R6sJjbTGVG2XX5jj9jPSALtHgBoPAjQMGLxm9F9jzYibnTQJQMUo5CWdNJAipGhowmCpQv98GsmrwbadMhL-Nl2bOPJ7JoiokHEsrg/s1600-h/amplexo.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5428991939599600386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7YZ5o9dFTeXLsB2QclWbY6PG9SCPtaTOgMdrCs4R6sJjbTGVG2XX5jj9jPSALtHgBoPAjQMGLxm9F9jzYibnTQJQMUo5CWdNJAipGhowmCpQv98GsmrwbadMhL-Nl2bOPJ7JoiokHEsrg/s320/amplexo.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 198px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 240px;" /></a><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 130%;"><span class="Apple-style-span"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 130%;"><span class="Apple-style-span"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Quando Santiago deixou Alice em casa, o sol já espalhava claridade na terra. Tinham passado toda noite no alto de uma pedra, bem em frente ao rio. Isto depois de um </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">terere</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> danado, por causa de uma briga feia que acontecera na rua de baixo. Uma discussão que acabou </span><st1:personname productid="em murros. Da■" st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">em murros. Daí</span></st1:personname><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">, que quando chegou na casa dela, bem de tardezinha, foi logo dizendo que andava cansado, exausto da vida, inundado pelo trabalho chato e pedante e, ainda por cima, arrasado por ter cedido aos impropérios de um bêbado e ignorante chamado Tonhão Cru. Alice tinha os olhos redondos de chorar, não tanto pelos sopapos trocados nas palavras mal ditas entre os então inimigos, mas pelo medo de pensar que seu amigo estivesse mortalmente ferido. E ao vê-lo ali, são e inteiro, colocou a mão no peito, como se quisesse segurar o coração que vivia doido pra descer do mundo. </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Santiago tocou na ferida:</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">- Como foi o resultado do médico? O que ele disse desta vez? </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">- O mesmo. Meu organismo não reage – e querendo atestar pelos braços-</span><span style="font-size: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">olha só, nem tem mais a onde furar. Agora é esperar e contar com tempo.</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">- Deus é o tempo, minha querida, o grande Papai do Céu quer ajudar você. Por que não se entrega a Ele? - respondeu ao ver as manchas roxas espalhadas pelos braços e pés da amiga. E, impetuoso do jeito que é, foi logo jogando o chinelinho na sala: </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">“calça ai e me dá sua mão, vamos sair.</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Ninguém espera por uma coisa destas, sentada.</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Alice e Santiago são amigos e conhecem muita gente. Das esquinas de cada espetáculo humano aos becos de cada um. Mas nada disto importa. Ali, um precisa do outro. E por isto foram se sentar na mais alta pedra, cara a cara com imensidão de uma nuvem fofa, que mais parece uma banheira cheia de espuma. </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">É o canto de Santiago. O lugar onde se deixa quando está perdido. Agora, trazia Alice pra falar dos mistérios. </span><span style="font-size: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">E quando a grande nuvem se dissipou, ela disse:</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Santiago, você já observou o Rio? Lá em cima, na nascente, ele vai descendo todo animado, é pequeno, só tem um filetezinho. No meio do caminho outros pequenos rios e córregos vão injetando mais água nele e assim, vai tomando volume e se formando. Crescendo, passa por muitos lugares, com diferentes vidas e jeitos. E ele vive de tudo; peixes que vêm nadar pra fazer festa e procriar, pesqueiros que abastecem a família e o bolso. Suas águas batem nas pedras, fazendo tanto barulho nas corredeiras, só pra mostrar virilidade. Está resoluto, brilhante e feliz. Então vai seguindo, agora mais brando. Começa levar aquele jeitão manso, talvez refletido sob os enigmas que colecionou desde lá de cima. E, descendo pra lá, ainda tenta se sacolejar mais, fazendo até onda, mas descobre que é tão grande, tão pesado e que já não tem tanta força, quando alguém lhe conta que em breve vai virar mar. </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">E ele se pergunta: mas o mar; o que é o mar? Uma imensidão esverdeada e brilhante que vai dar nos quatros cantos do mundo? Como é ser imenso? Não fazer parte de nada e ser tudo? Ele então tem medo. Nesta hora, abre os braços, na tentativa desesperada pra se segurar nas beiradas. E mesmo não querendo, corre desembestado, porque as matas ciliares não existem mais</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">. No fundo, tá enfeiado dos lixos que jogaram nele. É inútil e não tem como parar.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Nesta hora, arrebatado, se deixa levar, está complacente. Manso e silencioso, se entrega ao mar. Daí que, o que era pra acabar e se perder, se modifica. O Rio agora é mar também. O mar tem sua beleza e seus mistérios. Mas, o maior deles é ser feito de muitos Rios e ainda assim se manter salgado. </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">- Todos nós somos um Rio, minha querida, e o que é o sal, senão tempero da vida? As quedas estão ai, não tem receita pra mudar isto, mas você não pode deixar que elas sejam pra sempre – disse ao colocar o rosto dela no peito e enlaça-la. </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Mas não pense que exista silencio naquele abraço. O silêncio tem voz, a gente tem que saber ouvi-lo. E nela, </span><span style="font-size: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Santiago foi a maior voz que calou no coração de Alice. Não para falácias de auto-ajuda, mas para lhe entregar no mágico amplexo, a energia para que se refizesse. Ali, provavelmente, o Rio que se impregnou da amizade de um homem e de uma mulher, até aceitou sua condição de ir morrer no mar.</span><span style="font-size: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Isto, porque sabe que amigos têm o dom de curar, não as feridas - estas são para médicos e remédios - mas o que as ocasionou. </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Ele sumiu na rua. Alice abre a janela e o céu se enche de luz. Nasce, esplêndido, um novo dia. Agora, é hora de recomeçar, porque o tempo urge e o mar é bem ali na esquina.</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"></span></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Esta crônica foi escrita para todos os amigos, reais e virtuais, que se dedicaram em coração à Alice. Em especial ao meu amigo nada virtual, aqui representado pelo nome de Santiago.</span><o:p></o:p></span></i></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com21tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-43686097561636712202009-12-07T14:33:00.000-08:002011-11-20T15:37:58.361-08:00Na ponta dos dedos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqLge4_gSC7N1jJZVcom75RslCiiO4yu0X6vaWnQDTeqNwq2MCKZuuyRdODDr3-m0D2i0AZomnuF2pDfRoGGWIfxvYVLRUcCr7-KTJipoNbnJI0hS_gmIh7jSsok4XglGMlB1c82fu2tug/s1600-h/maos+e+tato.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5412654718648065522" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqLge4_gSC7N1jJZVcom75RslCiiO4yu0X6vaWnQDTeqNwq2MCKZuuyRdODDr3-m0D2i0AZomnuF2pDfRoGGWIfxvYVLRUcCr7-KTJipoNbnJI0hS_gmIh7jSsok4XglGMlB1c82fu2tug/s320/maos+e+tato.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 210px;" /></a><br />
<br />
<br />
João saiu batendo o portão, depois que Alice mostrou pra ele a sua versão da história.<br />
<br />
<span style="font-style: italic;">“Deplorável, o ser humano”</span> foi como se expressou. <span style="font-style: italic;">“Sou um homem de conduta ilibada, não sou menino como escreveu. Diz pra eles que você é sem educação e quando entra não cumprimenta ninguém. Diz também que é insegura.”</span> E antes de lhe dar as costas, soltou a hermenêutica sobre os dois lados da questão; ação e reação. Saiu assim, pisando duro, falando de coração magoado e com o peito cheio das raivas trincando-lhe os dentes. Escreveu <span style="font-style: italic;">“bye”</span> e se foi.<br />
<br />
Alice ficou atônita, estagnada diante daquelas interpretações na tela. Por quê tanta grosseria? Tomou litros de água rodando de um lado pro outro na tentativa frustrada de ver a situação com os olhos dele. Achou melhor ir lá e apagar <span style="font-style: italic;">“belo”</span> porque perdera o encanto e <span style="font-style: italic;">“menino”</span> porque ele só queria ser o homem sério. E ia desligar o PC, quando o MSN piscando, chamou-a de volta:<br />
<br />
- Arruma as suas coisas, você vai fazer matéria no Rio – disse o coordenador.<br />
- Quem?<br />
- Não é quem, é o que. O cara vai fazer um documentário. Fechei as entrevistas com ele. Você é boa nisto. Fica esperta, a tensão elétrica lá é 220 Volts<br />
- Você quer que eu vá pra Rio de Janeiro?<br />
- Isto! Mando o carro te pegar daqui umas 3 horas, pode ser?<br />
- Desculpa chefe, mas eu não vou não. Não sou de cidade grande.<br />
<br />
E no v<span style="font-style: italic;">ocê vai, eu não vou</span>, a conversa que rendeu metros de tela, fechou pro norte, porque na tarde seguinte Alice estava dentro de um minúsculo avião à caminho de Cabrobó, cidade do sertão do estado do Pernambuco e sem nem imaginar o que aprenderia em apenas dois dias.<br />
<br />
Lá, onde sol nasce parecendo querer partir a terra ao meio, Alice revisou o roteiro que consistia no depoimento de antigo morador: de como vivia do rio, traços da sua vida, a transposição do São Francisco, enfim, a rotina. Então, de câmera, protetor solar e baton, subiu na rural e foi atrás do tal sujeito. A poeira, numa combinação arrasadora de suor e creme, fez com que os primeiros minutos de estrada trouxessem o arrependimento concreto por não ter aceitado girar pelas ruas e mares do Rio de Janeiro. Estava martelando isto na cabeça, quando aqueles dois meninos, surgindo depois da curva, fizeram sinal pro carro parar.<br />
<br />
- Dona, leva a gente ai – pediu o menino ofegante – só até na próxima porteira.<br />
<br />
Dois garotos, de no máximo uns 10 anos, estavam andando a cavalo. Alguma coisa tinha assustado o animal que, no pinote, mandou os dois pro chão. Com o tombo, o que estava na garupa, torceu o pé e o companheiro já vinha carregando-o nas costas sabe-se lá, há quanto tempo! Detalhe, o que carregava o machucado era cego.<br />
<br />
- Pra que médico? Gasta isto não. Só torceu - disse a mulher na casinha da roça. – amanhã ta bom de novo. Vou fazer um chá pra ele beber. Poe umas erva ai em cima desse pé e fica certo. Assim, não vai ter dor.<br />
<br />
Na casa que entregou o machucado, a turma da reportagem foi pra beira da cisterna tirar poeira da cara, enquanto Alice e o menino cego estavam cheios de afinidades pra trocar. <span style="font-style: italic;">Já nasci assim</span>, disse ele enquanto queria saber detalhes da cidade dela, do mundo que vivia, das coisas que gostava e conhecia.<br />
<br />
- E por que chamam você de Delegado? – Alice interrompeu<br />
- Porque eu tomo conta de tudo. Não deixo nada de ruim acontecer. – E fazendo continência afirmou - Tou sempre alerta e quando a coisa é triste, faço assim – estalou os dedos – e some! - terminou largando a frase em um riso gostoso.<br />
- E você não fica triste nunca, mágico Delegado?<br />
- Só quando dizem coisas que eu não sou.<br />
- E o que você não é?<br />
E ele respondeu sério, como ser fosse a coisa mais comum do mundo: <span style="font-style: italic;">“Eu não sou cego. Eu enxergo diferente.” </span><br />
<br />
A conversa estava solta, o pessoal já tinha entrado no carro e Alice deu <span style="font-style: italic;">tiau </span>pro pequeno:<br />
<br />
- Você gostou de mim? - ele sorriu ao perguntar<br />
- Claro! Agora você é meu amigo<br />
- E quem é você?<br />
- Como assim, eu já te falei um monte de coisas a meu respeito. O que você quer saber mais?<br />
- Quero ver você – disse esticando a mãozinha.<br />
<br />
Alice se ajoelhou e colocou a mão dele no rosto dela. Os dedinhos do menino mapearam-lhe os cabelos, os olhos, a ponta do nariz, a boca. Depois com as duas mãos, torneou-lhe a face. Fez isto com a ponta dos dedos, contornando cada pedacinho do rosto dela, como se esculpisse a parte que tocava. Ela devolveu o gesto, só que, talvez pra ver igual ao menino, fechou os olhos. Daí foi que sentiu a alegria dele. E pode experimentar na singeleza deste toque, toda a beleza daquela criança, na vida tilintando, o mágico, que tira a dor, que some o triste. Ela estava diante de alguém que mesmo não tendo nada, era puro e feliz. E ainda que vivesse no mais obscuro isolamento, detinha poderes só pra ver. Chegou a sentir aquele silencio que eleva a alma da gente. E quando abriu os olhos, ele sorria.<br />
<br />
- Você é mais bonita do que eu pensava – disse ele<br />
- Acho que gripei – respondeu escondendo a emoção<br />
- Por que você tem que ir embora, se eu gostei de você? E eu sei que você gostou de mim. Tou vendo no seu coração.<br />
<br />
Alice beijou a palma da mãozinha do menino.<br />
- Ah, Delegado, porque moro lá. Tudo meu está lá. E vou guardar você aqui, ta bom?<br />
- Então me dá uma foto sua pra eu ti ver toda hora que sentir saudades?<br />
<br />
A foto que deixou com o pequeno Delegado trazia estampada, ela e os filhos, que Alice explicou pra ele <span style="font-style: italic;">tim-tim por tim-tim</span>, com todos os detalhes. Levou dele, a pureza dos que vêem com a alma, dos que ainda sonham e querem sentir quem é você. Na ponta dos dedos.<br />
<br />
Em casa, depois de copilar a matéria do trabalho, foi rever os amigos. <span style="font-style: italic;">Dieguito39, Joice, Rosana, Sissym, Romorena, Lilika, Tulipadourada, Rebonelli, LuLei, Lua Nova, Vividiniz, Ebrael, Maria Souza, Rita Costa, Principell Encantado, Lison, Helena, Victor, Márcia Canedo, Joicinha, Luiza, o blog da comentarista, Denize, Leila,Lucas, Claudia, Tatiana, Lilian, Nakamura, Sidney, Marli, Amooorrrr...</span> tanta gente, seres assim que a gente vê na ponta dos dedos e se apaixona. Pura e simplesmente.<br />
<br />
João? Ah, ele se foi. Diferente do Delegado lá de Cabrobó, João que é do Rio de Janeiro, tem uma vida cheia de pedras e assaltantes; não vê as coisas na ponta dos dedos. Lá não existe isto. Tem de ficar alerta o tempo todo. É porque tem o medo no bolso. A vida faz isto com quem vive em muralhas de pedra e asfalto. Por isto, preferiu cortar, pela raiz, o que achou duvidoso e saiu, por ai, soltando tiros pela boca. Mas ela ainda pode vê-lo, uma última vez, dissolvendo-se no meio dos megas e bytes da net, no estalar dos dedos, naquela curva, bem na tecla “<span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">delete</span></span>”. É um bom homem, pensou. Ainda será um grande menino!Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-30262962157664577712009-11-26T08:32:00.000-08:002011-11-20T15:37:58.353-08:00Acorda Alice!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfTx5OyCoaJo4FhAnAv5JyrL79TKLXXY7TCp5SmEucCsWB7gXne4sNDICvGHBaBd-2WMEIOsZGfjcwyeDhYGP18n28fWgTpb8GKlDKhfzp08D45eh2wNR_9f7DEOYSxg6NicCw5c3vMyPo/s1600/alice+e+jo%C3%A3o+belo.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408460593042434290" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfTx5OyCoaJo4FhAnAv5JyrL79TKLXXY7TCp5SmEucCsWB7gXne4sNDICvGHBaBd-2WMEIOsZGfjcwyeDhYGP18n28fWgTpb8GKlDKhfzp08D45eh2wNR_9f7DEOYSxg6NicCw5c3vMyPo/s320/alice+e+jo%C3%A3o+belo.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 224px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<span style="font-style: italic;">foto: Alice e o espelho</span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Alice vivia de casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Já fazia tempos que abnegara de uma série de regalias, porque sua alma estava triste. Vivia assim, criando pretextos pra abrir os olhos pela manhã e reencontrar uma estrada. Foi quando bateram no portão.<br />
<br />
- Seu nome é Alice? – perguntou diretamente<br />
- E você, quem é?<br />
- Meu nome é João. Quero ser seu amigo.<br />
<br />
O fato de ele ter batido à sua porta não foi exatamente a questão que mexeu com ela. Nem por ter sido o primeiro a fazer isto. Foi o jeito dele de ser. João a presenteou nas coisas em que mais admirava em uma pessoa: o português correto, o raciocínio coeso, a direção segura no que fazia. Conseguiram se inteirar um do outro. E em pouco tempo as conversas se tornariam mais intensas e os encontros, com horário marcado. A expressão dos sentimentos também. Conseguiam dizer <span style="font-style: italic;">“hummmm”</span> e ali ser tudo.<br />
<br />
Era caso pra se sentir. "Existe uma emoção no ar", diziam entre si. Os dias vieram realmente nascer para Alice e com eles, todas as cores do arco íris. Posso até dizer: foi amor a primeira palavra.<br />
<br />
E o que a perspectiva de um afeto não faz nas cabeças das pessoas? Que derrame o primeiro suspiro àquele que nunca viveu este dia. A cabeça fica revirada, os problemas tornam-se pequenos e o que era sóbrio, passa a inexistir. Alice prendia o ar, para que os pés lhe assentassem no chão, mas o coração, feito carruagem, estava desembestado. Agora era se permitir ir mais adiante.<br />
<br />
Ela achava que a inteligência de João era por demais aguçada. O homem era perspicaz, sabia o que queria. Muitas vezes acreditava ouvir o pensamento dele, querendo passar palavras, ir direto ao ponto. Noutras, o assunto desviava, mas ele se controlava, sem perder a direção, levando Alice pelas mãos, delicadamente, ao “x” da questão.<br />
<br />
Marcaram de se encontrar, naquela noite, às sete. Ele chegou primeiro e escreveu sua aflição: “<span style="font-style: italic;">você está 27 minutos atrasada”,</span> e continuou: “<span style="font-style: italic;">será que espero?”</span>, Depois começou a contar: <span style="font-style: italic;">“43 minutos de atraso”, “44 minutos de atraso”, “45 minutos de atraso”, “estou ficando com saudades”,</span> e foi o reclamar no minuto 64, que ela entrou. “<span style="font-style: italic;">obaaa... um min</span>”, respondeu ele, e na cabeça de Alice, João fora fechar a porta.<br />
<br />
- E esta noite? Você sonhou comigo? – perguntou<br />
- Não - respondeu - você já é o meu sonho. Não preciso dormir pra ter você dentro de mim.<br />
<br />
Dali pra frente a noite foi intensa. A conversa tomou forma arrebatada, os dedos, no teclado, cochicharam volúpias e sentimentalismos. E foi querer se desvendar que Alice enveredou por um chão antes apagado e as lembranças brotaram feito sal na sua carne. Tudo porque contou pra ele um segredo que nunca confessaria. Dai, perdeu o fio da meada. O tempo fechou e as chuvas desceram com força, balançando as janelas, arregalando o céu em prata. Ele pediu, ela ligou:<br />
<br />
- João - disse tentando esconder o choro - a chuva esta forte e tenho medo.<br />
- É você Alice? - atendeu ele - sua voz... você está melhor?<br />
- te liguei mais para que escute o barulho dos trovões - foi só o que disse.<br />
<br />
Aquela foi a primeira e única vez que os amantes virtuais se falaram. Depois disto, o tempo fechou bravamente. Do céu vieram os raios, trovões, ventania, o apagão escureceu o Brasil e a tela do computador. Sozinha, em sua cama, Alice se entregou a João porque já não tinha medo.<br />
<br />
Não posso dizer que Alice achou aquilo normal. De manhã, bem cedinho foi perguntar no Google que sensação era aquela. Se natural. "Sim, é natural. Hoje em dia, o mundo virtual funciona como o real", foi a resposta quem a encontrou.<br />
<br />
O tempo se encarregou de modificá-los. Alice pensou nas fotos. Chegou imaginar a cena do dia em que estivessem cara a cara e não se agradassem de si. Foi refletir no espelho as formas reveladas no <span style="font-style: italic;">jpg</span> de 900x600 pixels e atestou; sim era ela mesma. Não havia mentiras nem photoshop. Mas alguma coisa aconteceu, de certo, para que João se portasse de outro jeito.<br />
<br />
João diz:<br />
*que jeito?<br />
Alice diz:<br />
*seco<br />
*direto<br />
*curto<br />
João diz:<br />
*o msn exige objetividade<br />
*não estou seco.<br />
<br />
Depois deste dia, o trabalho e as obrigações da vida real a afastou da tela. Foi encontrar João, um dia depois, completamente modificado. Ele a acusou de modos que ela não sabia responder: <span style="font-style: italic;">“sua mania de”, “suas atitudes”, “lá vem vc...”</span>. a intitular-lhe de estilos e coisas jamais faladas. "Como pode julgar, insultar, se nem vê os meus olhos?" foi o que disse pra si mesma.<br />
<br />
Agora, ela acha que ele a deletou. Ele acha que ela fica escondida dele. Assim, se perderam no céu virtual até que a realidade, se quiser, os encontre. Mesmo porque, no virtual, os arquivos se sobrepõem rapidamente e fica difícil refazer tudo de novo. Melhor seguirem. A vida esta indo por ai mesmo. Até já disseram que, em um futuro bem próximo, será assim: sonhos, desejos e perdas em um só clique, na velocidade dos megabytes.<br />
<br />
Enquanto o mundo virtual gira deixando toda terra meio que bêbada, o sol abre mais um dia e enche as veias do real: acorda Alice, este sangue é seu!Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-21764855771166172492009-11-04T12:47:00.000-08:002011-11-20T15:37:58.349-08:00O coveiro, o rio e eu<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT-F3xiwYBCPoGpUk5_2Yxmyl_zJImYGYzXuEc19UgslYzrO2Nxe6NJ_JE2WhbzpR5m_-TXuh9XpsjT6bi9P7ArLUSdxyVdKTirJPUsEShFCmNx7TPXVCdYNnie2v6sq_7U0EVJq_MzXqD/s1600-h/o+rio.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5400356047258709458" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT-F3xiwYBCPoGpUk5_2Yxmyl_zJImYGYzXuEc19UgslYzrO2Nxe6NJ_JE2WhbzpR5m_-TXuh9XpsjT6bi9P7ArLUSdxyVdKTirJPUsEShFCmNx7TPXVCdYNnie2v6sq_7U0EVJq_MzXqD/s320/o+rio.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 240px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Depois de duas mortes, ainda mais daquele vulto, há toda uma reconstrução a ser feita. E não se volta pra estrada do mesmo jeito que se foi. Com a batida, nossos pedaços caem tão longe e se espatifam em bocadinhos tão miúdos, que fica difícil reintegrá-los na sua forma original. A palavra “<span style="font-weight: bold;">nunca</span>” toma forma de realidade e vai para onde os sonhos morrem. Assim, desse jeito assim, fechei a casa, as minhas portas e janelas e lá me consenti por tempo indeterminado. Perdi o tempo...</span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Alguém bateu no portão. Uma, duas, três vezes. E no dia seguinte no mesmo tom. Fui espreitar: era o coveiro.</span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">O intitulado enterrador de corpos da cidade é um velho subordinado da profissão. No dia do sepultamento da minha mãe foi protagonizador de uma cena bizarra quando, escorado sobre o caixão, parou o trabalho e debulhou: ganhava pouco, o prefeito era do mal, trabalhava sem condições e a família? Tudo na maior miséria! Depois, de dentro do túmulo, resguardado por estátua de um anjo de bronze, gritou: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">“<span style="font-style: italic;">Tem uns ossinho aqui! Cês quê vê?</span>” e saiu de lá com um pedaço de pano na mão: <span style="font-style: italic;">"Era da vó docês?"</span> No final apontou: <span style="font-style: italic;">“botei tudo naquela quina ali, oh!”</span>. O conversê só parou quando, convocado no ouvido, levou umas notas de real pro bolso. Mas, queria mais.</span></div><br />
<span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">- Tá cheio de mato lá – disse chupando o dente – mas arranquei tudinho.<br />
- O senhor quer mais dinheiro, moço?<br />
- Esse é outro serviço, dona. Agora vale 30 real. E mais 10 por mês pra eu molhar lá todo dia.<br />
- O prefeito falou que não devo te dar dinheiro não – menti ao dar-lhe as costas.<br />
<br />
</span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Mas foi só entrar, que a raiva veio de cheio. Rodopiando pelos cômodos da casa,entrei e sai de tudo quanto é canto. Já não cabia nem dentro do quarto! <span style="font-style: italic;">Sujeitinho besta, achando que é dono!</span> E no meio deste pensativo ruminante, decidi que a partir dali, seria eu a zeladora do túmulo da minha mãe. Portanto, era clarear o dia que - de regador verde, boné e óculos escuros - lá estava eu, a caminho do cemitério. </span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">O Jardim da Saudade fica à poucas quadras da minha casa. Escolhi fazer o trajeto a pé,pra tomar ar, pegar o fôlego adormecido. Mesmo indo silenciosa, sem nem olhar pros lados, com o tempo ficou difícil não reparar nos olhares intrigados, nos cutucões nas esquinas, nas perguntas de curiosidade: <span style="font-style: italic;">“Uai, cê fez horta?”</span> Mas valia a pena. Lá, em meio às lembranças, extorqui a minha saudade de outras formas. Eu não sabia, mas ali começava a dar os primeiros passos pra fora da hibernação.</span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Por outro lado destas minhas idas e vindas, tinha o coveiro que não esperava que eu fosse reagir assim. Primeiro, deu pra ficar me observando por traz dos outros túmulos. Depois, a chegar antes de mim e a ocupar as torneiras onde eu enchia o regador de água. Passei a dizer <span style="font-style: italic;">Bom Dia</span>! e ele resmungava qualquer coisa. Voltei a usar fones com as melhores sonoridades musicais. E ele interpelava o caminho. Desviei-me da sua sombra, quando ele se aquietou na butuca.</span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">E eu era implacável. Não faltava nem no domingo. Descobri que cemitério não dá medo e até passei a cumprimentar os mortos, assim que chegava. Às vezes cantarolava e ensaiava uns passinhos de dança, entre um túmulo e outro. Cheguei a pensar na possibilidade de ficar “<span style="font-style: italic;">amiguinha</span>” do moço, afinal, perdão existe. Sim, podíamos ser amigos e um dia eu ia passar aquela bola pra ele. Mas não esperava pelo que viria a acontecer.</span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Naquela manhã eu fui me adiantar. Viajaria no dia seguinte, portanto, tinha que caprichar na aguação. A grama estava quase toda verdinha. As flores, plantadas por mim, nos nove cantos, já estampavam brotos. Sim, eu me sentia feliz ao ver que, efetivamente, ali surgia vida. Porém, naquele dia, algo estava errado: o local fedia... E no fim da viagem, assim que desci do carro, o contra-golpe veio por um terceiro sujeito que destilou sussurrado o ocorrido: <span style="font-style: italic;">o coveiro jogou veneno na sepultura da sua mãe.</span> </span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Na passada apertada, mesmo trêmula, caminhei até o cemitério. O coveiro estava na porta quando entrei. E lá, bem no cantinho do muro, pude ver o ato devidamente comprovado: os tapetes de grama amarelados e revirados e somente duas das pequenas mini-árvores de flores, inteiramente secas e sem nenhum botão, tudo devidamente pulverizado por veneno pra matar mato! Eu tive medo quando ele olhou pra mim e sorriu.</span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Diante da imensidão do rio, pela primeira vez, eu chorei de verdade. Queria cair naqueles braços, deixar-me verter na imensidão do azul, das cachoeiras, nas corredeiras. Aquelas águas eram minhas. Todas. Chorei por minha mãe, por meu pai, pelo coveiro e por mim. Mas o rio me disse pra eu não ligar pra aquilo. Mostrou-me as pedras que seguram as águas nas cascatas e logo mandarei colocar ardósia no lugar da grama morta. É só parar de chover. É só eu parar de chorar. Amanhã deve nascer o sol.</span></div><br />
<span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Moro no mundo, porém, ele sempre me surpreende.</span>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-48945137804359012072009-09-10T12:56:00.000-07:002014-08-30T13:17:53.839-07:00A Força do Vento<span style="font-style: italic;">Esta é a continuação de "Chove no tapete verde do meu quintal..."<br />
</span><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjbmmrWaudUUThRgWsX56RFmk2BbBwjdAvhCcfVzaQ3eKt5HfolndA5ph47JS8BdHKeyr0MMlQcmufWVAp_vvF9G2OjF2In_tU8ajJIaEjoEViMY9x0dQu3za4JWMfaWMHwrYXD19YfyUA/s1600-h/desapego.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjbmmrWaudUUThRgWsX56RFmk2BbBwjdAvhCcfVzaQ3eKt5HfolndA5ph47JS8BdHKeyr0MMlQcmufWVAp_vvF9G2OjF2In_tU8ajJIaEjoEViMY9x0dQu3za4JWMfaWMHwrYXD19YfyUA/s320/desapego.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5379957550329356594" style="cursor: hand; display: block; height: 213px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Foi no beijo, recheado de veneno, que a
mulher nada virtual, o abateu de vez. Dias antes, tinha lhe jurado que o
tratamento era besteira, que ele já estava bom para lhe passar os mundos e
fundos a que se propôs desde o início. Depois, quando não conseguiu mais
dinheiro, arrancou seu coração ao dizer-lhe que queria ser indenizada pelos “serviços
prestados à sua velhice e doença". E, se ele voltou para casa com um
restinho de vida, deve-se a anônimos que o socorreram, àquele momento de
horror.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Fui ficar com ele no hospital.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Estava magro e abatido e suas mãos
tremiam mais do que de costume. Não perdera o jeito de juntar todos os dedos
pra tentar explicar seu ponto de vista. Mas, suas palavras, misturadas com
tantas lembranças, não o deixavam que fosse completamente entendido. Suas
palavras, frases.. eu não entendia! Seu peito abatido estava ferido
de todas as formas. Sim, a linda história virtual rasgara suas cortinas e
aquele homem enorme, lindo, tinha nos braços, pernas, mãos e pescoço tubos,
agulhas e fios. E usava fraldas. Sim, meu pai agora era o meu bebezão.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Nos dias em que lá fiquei, assisti aos
delírios de cada pedacinho da sua história, numa volta ensandecida ao passado
de frases emboladas e repetidas. Tentei participar, me fazendo passar por
caroneira, quando, como motorista de caminhão, ele começou a vida: “aperta
o pé, meu bem, que eu daqui me seguro!” E puxava assunto na “boleia” : “Viu
pai, o senhor venceu, construiu um tanto de coisas!” e ele sorria, fazendo
que sim, com a cabeça. E dirigia.... Eu, mesmo que chorasse em todos esses
momentos, ora brincando, ora elogiando seus feitos, ainda acreditava, sim
eu acreditei, que ele ia sair daquela.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Numa tarde, ele disse que queria se assentar.
“Xentá” foi o som que soltou. Chamei minha filha e cruzamos nossos braços
nas costas dele. “No três, pai”, e vrupt. Meu bebezão enorme, diante do
desejo realizado, olhou pra mim, pra minha filha e arregalando os olhos num
grande sorriso comemorou: “eu xenteeei...”. Sua vitória, nossa última
gargalhada... Mas eu ainda não acreditava. Porque ele era resoluto. Não,
nunca aceitou sua condição. Arrancava os tubos e fios, toda hora queria se
levantar: “Vão bora”, mas não aquentava e ficava prostrado com metade do
corpo dependurado na cama. Um absurdo de sofrimento! <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">“Fala devagar pai, estou aqui” gemia meu
coração, quando ele, agarrado às minhas mãos, formulava frases indecifráveis na
ânsia de se fazer entendido. Daí foi que eu, miúda e pequena, entregue a
dor maior, dei pra pedir o fim daquilo e, no silêncio indecifrável daquele
açoite estampei, enfim, o meu desespero: Deus acaba com isto!<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Ela entrou no quarto e ajoelhou-se diante
dele. Alisando-lhe os cabelos brancos, mansamente, agradeceu pelos filhos que
conceberam e acrescentou que não havia restado mágoa e que a perdoasse também.
Frisou pra ele, que a vida é passageira. “Tá tudo bem, fique bem, tá tudo
bem”. Assim, escutando minha mãe, ele se calou e se deixou levar.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">No entanto, nem o tempo tinha selado estas
dores, quando a agonia deu as caras e, de novo, levou minha mãe, poucos meses
depois, doída pela saudade. Como um passarinho, de tão pequeninha que estava,
rumou noutra estrada. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">“Pra onde a senhora foi, mãe?” <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Lúcida, fez o sinal da cruz na testa de todos
nós que ficamos. Bem lá, bem ao meu lado, simplesmente fez assim: o sinal da
cruz em um por um dos oito, daí os olhos se fecharam e a maquininha rabiscou a
linha reta, com aquele som horrível apitando o infinito... acabou.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Acabou. Acabou. Acabou...<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Já, na casa que
era deles, dentro e remexendo no guarda-roupa da minha mãe, encontrei
dependuradas, ainda, as roupas do meu pai. O amor dela! Ali,
delicadamente escondidas, preservadas, todas limpas e passadas. E ao
retirá-las, todas pra doação, abraçada a tantas peças com o cheiro deles,
milhões de lembranças com o jeito deles, me deixei sucumbir, tombada diante da
imbecil realidade a qual eu nada podia mudar.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Daí, eu caí.
Geral. Corpo inteiro, alma inteira, desabei. Estava prostrada, enfim,
derrotada.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Da moça nada virtual só soube que tinha feito
a vida. Já tinha carro, loja bem montada no centro da grande capital do Paraná,
com direito a cartões e festas. Da corja que ela um dia disse se chamar família,
todos se sentiram lucrados, avó, irmão e os tais baibes. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">A realidade diz que são bandidos e nossa
família foi sorteada pra ser sugada por eles. E pra preservar o que restou de
nós, decidimos que quadrilha a gente esquece. Devíamos ter dado o grito antes,
agora era renegar, encolher e se afastar. Acabou!<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Por um tempo, perdi meu caminho. Mas a vida
continua e lá fora dá o grito, cutuca, chama e implora. Tenho que retornar nos
meus filhos que crescem e mesmo longe de mim, fazem tudo ir em frente.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">A morte inexorável um dia irá abraçar-me,
levando-me ao encontro daqueles que tanto amei. É nisto que meu conforto. Ou
será uma ilusão para manter-me edificada? Não sei.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Hoje, fico horas olhando para o meu
quintal pintado de verde, sem pensar nada. Concluir o que? Estes dias
choveu e brotaram verdes pra todo lado. Tem dia que as árvores choram. Tem dias
que não. Diante da força da ventania, elas se curvam. Redimem-se da sua
prepotente arrogância em querer roubar o sol só pra si. Na calmaria se
espreguiçam... <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Lindas bailarinas coreografadas pelo vento.
Deve ser para cingir a imensidão do céu de esperança. É, deve ser mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
</div>
Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com23tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-87110432163641319092009-09-02T17:01:00.001-07:002014-08-30T12:59:38.239-07:00Chove no tapete verde do meu quintal...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn7T-4PmYGOyIQgypRFhufqn8K4hDhu52f5L2YFbiWQGXlUR9u5vhq1BfAcGsESwG_rq0o4N1hRikL2zIfDozlh471_6X0f_kcXQkzbitNqXb63zX8laKUYzLZUEj2i9cclmI38JoOgRUS/s1600-h/abraco.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn7T-4PmYGOyIQgypRFhufqn8K4hDhu52f5L2YFbiWQGXlUR9u5vhq1BfAcGsESwG_rq0o4N1hRikL2zIfDozlh471_6X0f_kcXQkzbitNqXb63zX8laKUYzLZUEj2i9cclmI38JoOgRUS/s320/abraco.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5377028400297289970" style="cursor: pointer; display: block; height: 234px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br />
Depois que ele cresceu e a cabeça já estampava o prata da idade, resolveu
remoçar. E começou aos setenta e cinco anos de idade, pela tinta preta até nas
sobrancelhas, logo que se enamorou da foto enviada pela internet.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Na ânsia de viver, negligenciou a própria
saúde, deixando de lado o alerta do avanço da doença. Viajou mais de mil
quilômetros pra ver de perto a menina que o chamava de “<i>lindo</i>”, “<i>gatão</i>” mesclados
de beijinhos libidinosos. Entregou-se a essa luxúria, salpicando-a de presentes
variados e negando-se em ver, se da parte da internauta, era amor ou dinheiro.
Por sua atenção, comprou-lhe um carro zero e ainda adotou para si as crianças
da nova mulher nova.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Recebia dela, afiançada por doar-se a um
homem quarenta anos mais velho, o codinome de amor, sussurrado até pra
quem não quisesse ouvir. Dos companheiros que não se afastou, comprometidos
tapinhas nas costas, somadas à piadas indecentes em busca da fórmula mágica
daquele abate. Mas era ir embora, com aquele jeito de andar cambaleante que só
a idade sabe trazer, para que os cochichos de gozação passassem a fazer parte
do prato do dia. Não adiantou os pedidos, o alerta manso da família. Preferiu
cobrir o espelho das mil desculpas de felicidade para mascarar o óbvio.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">No início a família achou que passava.
Afinal, sempre fora um galanteador, mesmo que rigoroso com a família, frequentador
dos mais altos níveis da sociedade. Um colecionador de méritos por se fazer
vencedor de muitos empecilhos e ter construído um respeitável patrimônio. Era
mais uma fase, dava pra aguentar. Iriam zelar por sua integridade física, como
sempre. Tudo parecia estar sob o controle do olhar, até o dia em que ele
anunciou sua mudança pra casa da namorada nada virtual.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Fomos almoçar juntos. Seu jeito trôpego
escancarava evidências da saúde abalada, o carcinoma não lhe dera trégua. Ele
queria que eu acreditasse que a moça o amava: incondicionalmente. Pra não
escutar, volta e meia, interpelava-me com causos das atitudes nobres da moça. E
simulava felicidade. Estava ótimo! Vi, nos gestos dele, um pedido de "eu
preciso acreditar nisto!"<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Expus, da forma mais carinhosa que pude que
ele deveria ser cauteloso. Que o maior patrimônio da vida dele, era a família
que ele estava deixando. A mulher, aquela com quem se casara, estava um
trapinho de dar dó. Já aceitara a separação, topava amizade, mas do jeito que
ele estava fazendo, não estava certo. Tentei, como último apelo, lembrar que o
natal estava chegando e se ele não estivesse presente, como os filhos e netos
iriam administrar sua falta?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Fez que não escutou; o natal seria com a moça
e os "baibes".<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Ao vê-lo se esforçando em ser convincente na
paixão concebida, mãos tremendo pelo Parkinson, o cheiro forte da doença... me
calei. Aquele homem à minha frente fazendo-se de forte cansou-se dos filhos, da
mulher e arrumou outra família já pronta. Na que criou larga o peso, o tormento:
é o fim. Na pronta encontra redenção. Quer renascer no tempo que lhe resta.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Como posso pedi-lo pra não sonhar? Como dizer
que está difícil vê-lo em um grande engodo, se ele, fingindo um sorriso, nada
escuta, não quer ver? Quê poder de argumentação eu tenho se, provavelmente, fui
o alvo das suas orações, nos pedidos de alívio? Como posso pedir ao meu pai que
não nos abandone, se a sua atitude diz que se cansou de mim, dos meus irmãos,
da minha mãe, da nossa gente?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">No final, ele disse que iria reunir todos e
repartir os bens. Perguntou-me o que eu queria. Mas eu, entortada diante da
situação, deixei que ele resolvesse coisas de patrimônio com o resto
da família.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Na despedida, no elevador, ele ia me beijar e
eu ia implorar, mas a porta fria, implacável, fechou-se na nossa frente,
indiferente da minha tentativa de poder impedi-la, com socos e chutes. Desceu e
nos separou. Igual a vida.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Em casa procuro companhia. Leio e releio o
desabafo de Clarice, Mirian R, Isabela B., Salomão e outras histórias de vida
que guardei no meu caderno de recortes. São amigos virtuais que se sentam hoje
a minha mesa pra falarmos de dores e experiências.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Chove no tapete verde do meu quintal...<o:p></o:p></span></div>
Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-5217116731616985572.post-34938957497519411492009-08-15T19:41:00.000-07:002011-11-20T15:37:58.357-08:00Adão, Eva e Eu<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA4MSLOjOUXZy4z0QJ5X7ZHqAYWzR14HybTfBM3H80w4v2Ndg3tt2p89BwNhaMM8_a7nhNR822FF6alC9LjNpPbsc4nTQPScfykSHqONEW-ZyQQkYGuiZeT3PCKav3GJ_b5J-wgt-TqWjk/s1600-h/mulherrosa.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5370402863205982770" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA4MSLOjOUXZy4z0QJ5X7ZHqAYWzR14HybTfBM3H80w4v2Ndg3tt2p89BwNhaMM8_a7nhNR822FF6alC9LjNpPbsc4nTQPScfykSHqONEW-ZyQQkYGuiZeT3PCKav3GJ_b5J-wgt-TqWjk/s320/mulherrosa.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 286px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-size: 130%;">Eu o vi assim que dobrei a esquina. Como não o identificara com nada nem ninguém que eu conhecesse, continuei meu caminho. Foi quando ele disse:<br />
<br />
-“Ei, você, psiu!”<br />
<br />
Agradecendo por estar usando meu pára-brisa preto, óculos que consegue deixar meu olhar indecifrável, firmei as vistas na figura que estava poucos metros a minha frente e dei uma varredura na sua estampa. Nada mau, foi o pensamento da imagem digitalizada. Porém, policiada de qualquer esboço, segui meu caminho para o trabalho, afinal, pensei, não deve ser comigo.<br />
<br />
-“Psiu, moça. Ei você: bom dia!” - persistiu no chamado.<br />
<br />
“Moça? Psiu? Ele tá mexendo comigo! Eu quis fugir, dar meia volta, mudar de passeio, mas ia dar bandeira demais. Então, apertei a passada, fiz cara de que nem via, nem escutava, protegida pelos óculos escuros. Mas cuidei de mim, quando, abaixando a cabeça, evitei tropeçar no ar, coisa que poderia deflagrar meu jeito menina de ser.<br />
<br />
Estou fora do padrão global. Pneus, dobrinhas e dona de outros tantos atributos que, em nada, me colocam no top das models. Já sou gente grande, pinto os cabelos pra esconder os fios brancos, uso creme anti-rugas pra ganhar tempo e me acostumar com que a vida irá, implacavelmente, fazer com minha aparência.<br />
<br />
Enquanto tentava manter passos retos e trançei a bolsa bem na altura do que ele poderia ressaltar assim que eu lhe desse as costas, lembrei-me que tinha ficado atônita, na noite anterior, ao descobrir que a pele das minhas mãos estava murchando. O tempo mostra sua força pelas mãos, foi o que conclui. Chequei a me deportar da terra, quando vi, nos olhos refletidos pelo espelho, a mesma menina, cheia de medo, que um dia teve de sair de casa, porque ia ter um filho sem se casar. Sem enxergar o caminho que pisava, lembrei que quis respostas numa estrada sem volta, num caminho em que a alma evapora, sugada, dia após dia, pelo medo, pela solidão, pela coragem que se tem que ter, pra ser o que nem se sabe que o que virá. Deve ser por isto que a gente acaba murcho, foi o que deduzi.<br />
<br />
Mas não deve ser nada, se comparada à hora em que Deus expulsou Adão e Eva do paraíso, apenas um dia após terem sido criados. O temor, a vergonha, a impotência foram os primeiros sentimentos humanos que conheceram e que não souberam explicar, pois não os tinham nomeado. Para sobreviver ao que nada entendiam, se fizeram acolher por vestimentas e assim, se cobriram. Depois veio a fome, o frio, o isolamento. Então se abraçaram. Foi o primeiro abraço do principio da humanidade. Por quê será que Deus, de verdade, expulsou Adão e Eva do paraíso?<br />
<br />
Hoje caminho para o envelhecer e não consigo encontrar referências entre eu e a casca que se forma fora de mim. Sei que não há como mudar. Perderei mais a forma física, enrugarei, encolherei, meus cabelos se tornarão mais brancos e ficarei diferente do que fui um dia, mesmo que o meu olhar diga pra mim, que ainda sou uma menina. É certo que terei adquirido conhecimentos e estes, às vezes, pesarão mais que a idade. Do mundo verei coisas que não precisaria ter visto, da vida, momentos que não tivessem existido. Muitos já foram, outros virão. E já começaram, ontem mesmo, quando meu filho, ensaiando os primeiros passos fora de casa, me deu "tiau,mãe". E a minha moça, lá de longe, chora no telefone querendo um colo que não posso dar.<br />
<br />
Assim, sozinha, abraçada pela saudade, continuo a estrada. Como Adão e Eva caminho pela vida, para crescer, envelhecer e morrer.<br />
<br />
É o processo de decantação. Esta deve ter sido a idéia de Deus. Decantar, para que da vida, reste somente o sopro do existir. Do que fica dentro dos olhos. Esta é a essência que é feita o éden.<br />
<br />
- Gostosa! – ele falou.<br />
<br />
E eu, com a cara mais lavada do mundo, levantei os óculos e respondi:<br />
<br />
- Obrigada, meu bem!</span></div>Valéria Mellohttp://www.blogger.com/profile/08667932855120931261noreply@blogger.com10