Colcha de Retalhos
Na minha avaliação, perder o sono no meio da noite tem se tornado tão habitual que nem me ocupo mais em dissolve-lo. Fico assistindo filmes, documentários, enquanto aguardo, pacientemente, que minha mente se acostume a mudança que estou vivendo e assim, aceite o processo. Daí que, quando a mensagem chegou pelo celular às 3 da manhã, eu a li de imediato:
presença não seja notada,
até ai eu entendo,
mas assim que se afasta,
morro de saudades de você”.
Para mim, o que ficou claro, de imediato, foi que alguém corria o risco de perder uma chance com outro alguém, pelo desencontro causado ao enviar a mensagem para o celular errado. Obviamente não era pra mim, eu não conhecia o número do remetente. E como omissão não é a minha praia, liguei de volta.
Assim que ouvi o alô, fui logo dando o meu recado “Oi, foi tão bonito o que escreveu, mas veio cair na minha caixa postal, revisa o número ai, aqui é engano!”. A voz do outro lado escutou minha aflição e sorriu. E foi pelo som do sorriso, que eu o reconheci.
Moramos na mesma rua. Por um tempo estivemos enamorados e vivemos um romance de quase dois anos. E fui eu, numa noite fria, quem atravessou a rua, toda emperiquitada, entrando na casa dele de salto alto e perfumada, para lhe entregar seu amor de volta. A realidade que ele vivia na época, não combinava comigo e eu não ia discutir isto. Por isto, preferi me afastar sem buscar culpados. Sai de lá, de espinhela reta e alma destroçada. Eu acreditava que os acontecimentos da vida se encarregariam de nos manter afastados, até aquela madrugada.
Ao reve-lo, assim que o dia amanheceu e os dias que se seguiram a este, descobri que ele sempre me acompanhou em silêncio. Depois, sentados, ora na areia da praia, ora na beira do rio, relembramos o que vivemos. Emoções carimbadas com gosto de família, nas gargalhadas das nossas memoráveis saídas com todos os filhos; os dele, os meus e nossos devidos genros e noras. Foi bom escutar novamente as nossas músicas, falar das dúvidas que ficaram, esclarecer o que era pra ser eternamente mal entendido. Foi bom sentir meu coração bater forte novamente e a boca merecer batom para sorrir enfeitada. Enquanto ele falava, eu admirava a maturidade com que revia e comentava os fatos que assistiu da janela da sua casa. Abençoei a sua calma, doce e terna, a rir do meu riso, pactuar dos meus sonhos e dizer que eu posso até ser doce, "mas não de mel, e sim de rapadura!" E quando puxou minha mão pra perto de si, busquei em meu coração traços das emoções que um dia, tão apaixonadamente, vivi ao lado dele. Mas não as encontrei.
No sabadão bravo, eu disse a ele que o nosso tempo tinha passado. Ele reclamou que meus olhos não brilhavam mais, e eu desviei o olhar para que não desvendasse os meus segredos. Ele foi embora. Saiu brando, como brando sempre foi.
Porém, assim que a madrugada reinou, as três em ponto, ele com um monte de amigos,presenteou-me com uma cantoria:
Marku Ribas - Colcha de retalhos
Não houve dúvidas, me revirei em lágrimas! Mas penso, que tem horas, que a gente tem que terminar pra começar. Tem que dizer não, pra ser sim. Não adianta tentar reviver a mesma história. A colcha de retalhos será sempre refeita. São pedacinhos que compõem a melodia da nossa vida.
E Tudo esta em construção. Os desencontros, feito barro, se desfazem. Os encontros, como os retalhos, se unem pra traçar um outro momento. João liga pra Alice, minha casa esta em plena reforma e, enquanto percorro as trilhas do Brasil, um sujeito vestido de números mexe com a minha imaginação.
E por este prisma, eu sigo a estrada, neste caminho surpreendente, recebendo da vida a oportunidade em passar à limpo, o que já foi. Quem sabe, na brincadeira do destino, eu encontre o brilho do olhar deixado lá tras e me agasalhe em uma nova colcha de retalhos.
Amiga, que história!!!
ResponderExcluirÉ comovente, é romântica, é envolvente, tudo costurado nessa colcha de retalhos!
Amei!!!
Bjão.
Kit, parece um filme, tipo: "encontro ao acaso". Eu já recebi, certa vez, uma mensagem errada, por conta dela nos tornamos amigos.
ResponderExcluirbeijos
Olá Amiga,
ResponderExcluirMuito linda essa crônica que nos leva ao devaneio entre a vida real e a fantasia.
De qualquer forma, ou real ou fictícia, é uma história comovente e que nos leva a refletir sobre fatos pessoais que vivenciamos. Uma coisa é certa: não adianta viver de colcha de retalhos, pois eles acabarão rasgando e teremos que sempre remendá-los.
O melhor que temos a fazer, se nos sobrevem a oportunidade de reviver um amor antigo, é colocar uma pedra sobre o passado e começar uma nova vida a partir do novo encontro.
Assim poderemos tecer uma nova colcha, de um mesmo tecido, sem nenhum remendo.
Obrigada por compartilhar.
Abraços.
Sonia Costa
Oiieeee Val, nossa que história... que colcha de retalhos hein minha amiga..... a verdade é que nossa vida é assim, uma eterna colcha de retalhos , estes são as tantas coisas boas e ruins que acontecem ao longo do tempo que vão se costurando e formando nossas lembranças, nossas saudades daquilo que vivemos ou que deixamos de viver.... e é bom que seja assim para que aprendamos com os obstáculos e nos regozijemos das nossas vitórias.
ResponderExcluirBeijos no coração! Te adoro moça!
Márcia Canêdo
Já notou que foi das mãos da maturidade que as colchas de retalhos nasceram? Há que se ter lembranças,primeiro, para depois ver se vale a pena unir as peças, não de qualquer maneira, mas com o nosso jeito pessoal de dar uma nova vida para aqueles pequeninos retalhos de vida que vivemos com ele(ou que sonhamos viver).
ResponderExcluirE, com sorte, e se for esta a opção, pode-se criar uma linda colcha que vai aquece-la nas noites de frio!
Beijos,
Vera.
Vim lá do Fbook e valeu bem a pena. Que crônica mais adorável. Fico imaginando se não valeria a pena tentar uma nova história, tecer os retalhos, tentar pelo menos, ainda que a colcha terminasse pequena, apenas um recomeçar sem criar expectativas. Vai saber?!
ResponderExcluirGostei muito, mais que isso, adorei!
Grandes amores são sempre marcantes.
ResponderExcluirTexto doce, Valéria. Perfeito. Ficam no ar expectativas, possibilidades, esperanças...
ResponderExcluirGrande Abraço!
Lindo o post.... muito lindo mesmo.... fico maravilhada com o modo com que escreve, e talvez seja isso mesmo,por melhor que seja um histórias... tentar continua-la nao quer dizer que vai ser a mesma coisas... as vezes é bom deixar o gostinho bom na memoria....
ResponderExcluire que muitas e muitas vezes os numeros apareçam
beeijo
Saudações!
ResponderExcluirAmiga Valéria:
É impressionante a narrativa que você dá a magnífica crônica retratando muito bem o viés construído que acontece na vida de milhares de pessoas.
Parabenizo-a ardorosamente por mais um texto impecável!
Abraços fraternos,
LISON.
Olá Valéria!
ResponderExcluirEu acho que vivemos em cima de uma colcha de retalhos...ora colocando mais um pedacinho, ora apenas reparando a "descostura" , mas estamos sempre nos envolvendo no calor de uma bela colcha cheia de retalhos de nossa história e nosso passado.
Grande beijo,
Jackie
Kitty,uma serenata pode ser ótimo...mas eçça tal colcha de todos os amantes,se
ResponderExcluirjá começa com um ponto errado,
tende a seguir assim até o arremate,
enquanto vai embolando linhas astrais durante todo o affair, ao invés de entrelaça-las com belos nós de marinheiro,que neste caso,naufragou junto com um barco de duas proas,justo por não considerar enormes,cada pequeno gesto,cada momento,
no precioso conjunto da obra...
Milhares de histórias de amor,não passam do famoso estágio "mariposa em lâmpada acesa" e, se prosseguem,
resultam,além do despojo marital,
em despesa vital, em desperdício de afeto e em esposas frustradas,nos sentidos e sentimentos...
Bela composição a que ouvimos no clip;
não sei quem são os intérpretes, nem quem a compôs, mas não resisto em dar uma malhadazinha na frase que diz:
"...se lembrará
da colcha
e também
de mim..."
onde está a rima?
Talvez no marujo que não soube remar;
então ficaria melhor assim:
"Se lembrará
da colcha
e também
do Trouxa,
(que não soube amar...)
Kitmell, MUITO LINDO!!!! ADOREI!!! Imprevisível!! Com uma linguagem contemporânea muito agradável e bem formulada. PARABÉNS!!! Beijos
ResponderExcluirOi Valéria,
ResponderExcluirMuito bonito o que escreveu. Me levou a pensar sobre o porquê dos homens brandos terem sempre este final pra si. Me fez lembrar de alguns que rompi a relação justamente por serem brandos demais. Não sei se foi este seu caso, provavelmente não, mas isso acontece. Em contrapartida, os homens que não são brandos no final incomodam de outra forma, quase sempre pior.
Adorei td neste site,meu hotmail é colcha de retalhos{colchaderetalhos.crz@hotmail.com}
ResponderExcluirAdorei td neste site,meu hotmail é colcha de retalhos{colchaderetalhos.crz@hotmail.com}
ResponderExcluirQue vai e vem esse?
ResponderExcluirEsse chega e sai que não cessa
És onda do mar?
És sol e lua?
Acalma teu coração
Ouça o som dessa canção
Guarde a colcha
Os retalhos se partirão
Dos pedacinhos que sobrar
Costure uma nova colcha
Só de lembranças boas
Novamente devo parabenizá-la pelo seu belo texto.
Manoel
Link para a musica: http://www.youtube.com/watch?v=sUFuJIHlPBk