Folha da minha árvore.
Pois foi bem assim:
Cochilo no finalzinho da tarde, acordar de supetão bem na hora, que era a hora, de dormir realmente. Daí, a cabeça que tá quase vazia, vê a TV vomitar as sangrentas atitudes dos insanos sem alma. Ah, melhor nem ver isto.
Desliga, levanta e sai do quarto. E ao passar pelo corredor, olha, sem muito gosto, a correspondência preta e branca estirada sobre a mesa. Desliza os dedos, espalha ao acaso a papelada, e quase ia dando as costas, quando o dedo esbarra no único envelope colorido. O olho cresce, a pupila cresce, o sorriso vem pra cara e absorve a mão que puxa o sobrescrito pra perto do peito. Tem um gigante aqui dentro! Ela sabe disto.
Desliga, levanta e sai do quarto. E ao passar pelo corredor, olha, sem muito gosto, a correspondência preta e branca estirada sobre a mesa. Desliza os dedos, espalha ao acaso a papelada, e quase ia dando as costas, quando o dedo esbarra no único envelope colorido. O olho cresce, a pupila cresce, o sorriso vem pra cara e absorve a mão que puxa o sobrescrito pra perto do peito. Tem um gigante aqui dentro! Ela sabe disto.
Arruma um canto e no encanto se cala: degusta as letras da carta colorida. As folhas do papel digital mostram pequenos arbustos e falam das folhas da árvore nossa vida. Diz que cada folha é gente e que mesmo quando se vão, nunca vão, porque até ali se faz presente ao adubar a nossa raiz. Também conta dos amigos de todos os jeitos; família, amor e irmãos. Ao final diz que ninguém passa na nossa história, por um acaso.
Com o papel na mão fica pensando nestas palavras e a mente vai até o dia que foi fazer um resgate. Sim, foi um resgate. Por que, no meio da questão, tinha uma criança que não sabia falar. E veio da denuncia de que, num sobrado abandonado, homens e mulheres usavam a aparência do menino pra ter dinheiro. As moedas e notas eram convertidas em tragadas de qualquer coisa que os embriagasse.
O menino que não falava tinha os olhos mais sérios que já vira, e uma total ausência de expressão. Na hora do pega-prende, agachada, diante dele, só pra ele, tentou explicar o que era aquilo: “vou te levar pra um lugar onde você vai tomar leite quentinho quando acordar e aprender usar estes lápis coloridos pra desenhar um arco-íris”. O menino não sorriu, não pegou a caixa de lápis de cor, não olhou pra lado nenhum, nem quando os gritos da gentalha bêbada se espalharam pelo lugar. No meio disto, o menino que não tinha voz foi, com a caixa de lápis de cor, encaminhado a uma fazenda sem muros, nem portões com correntes.
Não se sabe por que, nem pra que, estas lembranças se juntaram àquela carta que falava de árvores e amigos. Por isto foi lá, na fazenda sem muros nem portões com correntes, saber daquela criança.
Não vou me delongar no que sua alma foi pensando pelo caminho. Só sei dizer que quando lá chegou, podia estar até sem muita esperança, mas não estava preparada para o que viu.
Andou por todo lugar. Uma casa limpa, o chão encerado de vermelho. Panelas fervendo cheiro de comida boa. Quartos com beliches e camas esticadas. Música de passarinho cantando. Um grupo jogava futebol, mas nada do menino.
- Fugiu, é? - quis saber
- Não. Olha ele ai. Rodrigo, oh Rodrigo, vem cá. Tem visita pra você!
E do meio do time no campo, uma nova criança surge. Vem correndo. Corre com a cara aberta, a alma limpa e o corpo leve. E do nada, assim, no meio da corrida, salta uma estrela no ar. Posso garantir: nunca houve nada mais bonito do que aquela estrela no ar!
Conversaram só um pouquinho, porque estava no meio do jogo, por isto foi só: Oi, tudo bem? Como cê tá bonito! Ta gostando daqui?, tudo respondido ofegante e cheio de sim, sim e hum-hum e o sorriso grande. Volta pra seu jogo, fica com Deus! E depois: Ahhh, adorei sua estrela!
Daí, nesta hora, ele volta. Pega uma página de caderno que estava no chão e a entrega. Leva pra você, diz e volta pro jogo.
No papel, o desenho de uma árvore delineada por uma folhagem toda colorida.
Agora, lê novamente, a carta do amigo gigante e acha que o mundo pode até ser mau, mas que os pequenos milagres são insistentes o bastante pra fazer uma enorme diferença. São anjos de todo tamanho e todo jeito colorindo as folhas da minha árvore. Alguns pequenos, outros gigantes!
(Esta história é baseada em fatos absolutamente reais)
Sensacional amiga, adorei o texto, muito bom ter vindo conferir.
ResponderExcluirAbraços forte
Valéria a árvore de minha vida também esta se preenchendo de folhas coloridas e agradeço muito a Deus por isso.
ResponderExcluirExcelente post,
Bjs,
Vitor.
Parece que cada um monta sua arvore com quer. E vc com o seu jeitinho todo especial, consegue cada vez mais encher de cor, cada folha!
ResponderExcluirMuito lindo o texto.. muito mesmo
beijo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue isso, Kit !!!
ResponderExcluirLinda história...
singela, sublime, brilhante !!!
Muito maneir@... e olha que não sou de gostar muito de textos !!!
Parabéns....
Um grande bj !!!!!!!!!
Valéria:
ResponderExcluirEstava com saudades dos seus escritos.
Este, particularmente, me emocionou às lágrimas, pois neste mundinho vil e cruel em que andamos atualmente é revigorante tomar conhecimento de atitudes humanitárias e bondosas.
Quanto à amizade, sou um ser privilegiado, minha árvore é muito folhada. rsrs
Não desapareça por tanto tempo.
beijos
Olá Valeria
ResponderExcluirQue texto intenso, maravilhosa analogia, onde você compara a vida e os nossos caminhos as folhas e raízes de uma imensa árvore
A história é fascinante nos
transporta a consciência para uma iluminada reflexão !
Parabéns por mais um texto de grande maestria.
Beijos
Alba
Que Post Fantástico!
ResponderExcluirAmiga Valéria:
Ler as suas Crônicas e se presentear com tantas viagens ao mundo da imaginação... É a construção da árvore da vida que legitima o direito de sonhar!
Parabenizo-a ardorosamente por mais um magnífico Post!
Abraços,
LISON.
Oieeeee....
ResponderExcluirA arvore é um símbolo e é uma vida, que tambem abriga outras vidas.
Como símbolo, representa a vida e sobre a vida pode-se pensar na história genealogica; as ramificações representam a continuação (principio, meio e fim), tambem a parte interna do cerebelo. Além de todo conceito sobre o Natal, representante da vida, da familia, presentes e presença.
Desenhar uma arvore tambem cabe a estudo de psicologia, para perceber disturbios da personalidade
Ou seja, as pessoas podem ser comparadas às arvores, até quando uma morre pode-se pensar numa vida ceifada. Quanto mais antigo o tronco podemos lembrar da sabedoria dos anciões.
Adorei o seu texto, viajei...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bonita a história ela se torna ainda mais emocionante por ser baseada em fatos reais, e você soube descrevê-los muito bem.
ResponderExcluirQue bom que agora tenho mais um blog de qualidade para acompanhar.
Abraços,
Manoel
Que lindo isto, Valéria!
ResponderExcluirOs anjos são de todos os tamanhos sim, de poucas palavras, um quase nada às vezes...ou companheiros de mais horas, mas são reais.
E a árvore também. Que lindos momentos pra se viver e pra lembrar, estes que dão frutos assim...
Beijos,
Vera.
Valeria, vim aqui ler um pouquinho... puxa, como seu blog está bonito! Adorei! Ainda por cima, ao lado, tem um rena dançante! kkkkk Desejando Feliz Natal!
ResponderExcluirBeijinhos...
Very useful information. And I really mean that
ResponderExcluirOlá minha querida amiga Valéria,
ResponderExcluirVocê sabe que a cada conto que escreve, termino a leitura com os olhos marejados de lágrimas.
Essa história é emocionante e seu modo de escreveer me faz "beber" com a alma cada letrinha do texto.
Te amo querida Val. Pretendo, mesmo bem atrasada, ler os posts anteriores.
Carinhoso e fraternal abraço,
Vovó Lili
Que texto adorável.
ResponderExcluirQuantas pessoas não param para olhar as nuances tão belas e infinitas que existem em suas árvores.
Um grande abraço