Eternos, um para o outro.




Tenho dois filhos: um menino e uma menina. Chamo-os de “meus meninos” porque é assim; um pedacinho da minha meninice esta ali, em cada um deles.



O mais velho, já na casa dos 26, com barba na cara e tudo, é meu lado puxador de orelha. Menino lindo, que gosta de música desde pequeno e do nada, um dia, amanheceu cismado em dedilhar um violão. Lembro-me bem: fez dos meus ouvidos um disco arranhado. Tanto fez que ganhou o dito.



O tal do violão, todo ajeitado, caro pra minhas possibilidades na época, tinha um torneado resistente. Disse a ele que era zero bala, pra valorizar a aquisição e assim, o vi brilhar de contentamento, quando a caixa chegou pela transportadora. As estradas empoeiradas, as noites frias, a febre de uma gripe, nada disto o segurava quando precisava afinar o tal do torneado. Drum, drum, drum no banheiro por causa da acústica. Drão, drão, drão na cozinha pra eu ver o que ele já sabia fazer. Bran-bran bran... dia e noite, incansável, meu menino! E quando partiu pra cantar gutural? Não foi uma, nem duas vezes que acordei assustada com os sons, digamos assim, cantos, porém, mais assombrosos um do que o outro, vindos do galpão da loja, no andar de baixo. De novo, por causa da acústica.


Minha menina, ah minha menina... ao nascer, sua boca lembrava um botão de rosa, pequena e vermelha. Criança resolvida, sempre detestou ser contestada. O dia que eu, em um ataque bravio, achei ruim o chup-chup-coin-coin desgastado do bico, ela não se fez de rogada: na ponta dos pés, jogou fora a tal "pepeta" pela janela do 3º andar e assumiu a própria atitude, sem chorar! Ao se fazer mocinha, diziam, era minha cópia xerox reduzida. E quando, nas coisas da vida, seu caminho não ia de encontro ao alvo, aqueles olhos redondos se enchiam de lágrimas que ela engolia, rapidinho.



Cresceu dependurada em livros. Por isto, fez com que eu comprasse a coleção completa do escritor que mais detesto. Apaixonada pelas letras, perpetrou, nas folhas de papel encadernadas, um mundo introspectivo que só saia da sua cabeça quando, em uma situação semelhante, comparava, em voz alta, o que lia com o que vivia. De cima dos seus 22 anos, minha menina, hoje, tem caminhos curtos, mas muito delicados, pra me dizer o que acha.


Cresceram somente na minha companhia. Mas não foi, como toda família é, até se tornarem meninos grandes.


A vida traz situações que a gente custa acreditar que são boas, bem no final. Falo isto por que não pude ficar com meus filhos até a fase adulta, naquela velha história de “saiu pra casar”.

Na época, as dificuldades financeiras eram enormes e a cidade não oferecia chances de crescimento. Daí, na pré-adolescencia, foi embora um primeiro e logo depois, o outro. Eu assisti estas cenas, minuto a minuto, desolada, sem ação, cada partida, cada despedida. Chorei muito sobre cada objeto esquecido. Trancafiei minha impotência no mais singelo dos silêncios. Confortava-me, dizendo a mim mesma, que eles estariam longe, porém com mais chances: é melhor assim, ter o mundo pra descortinar, enquanto eu ainda faço parte dele.


O tempo passa.... João Victor se fez músico, Máira Vivian, jornalista. Ambos premiados e reconhecidos nas suas profissões. E independente dos meus olhos de coruja, eles tem talento. É nato. Nasceram amando o que se tornaram.


Hoje faço campanha pra ser avó e eles me pedem pra ter juízo. E quando vou visitá-los, hora na casa de um, hora na casa do outro, continuo sendo maiê, aquela que faz a comida que cheira na alma das recordações.




Dedicamo-nos assim; cuidando um do coração do outro, bem no fundinho da alma, no mesmo fundo musical, no jeito de ler e vivenciar as coisas da vida. Aprendemos, juntos, a desvendar as pedras e as flores do caminho. Trocamos idéias, emoções, alegrias e lágrimas. E por isto mesmo, hoje sei, diante da imensidão do que é feito o mundo, que sempre fui e sempre serei tão criança quanto eles.

Cento e setenta e dois quilômetros nos separam,- não é tanto assim - porém 1 MB de velocidade da internet nos mantêm ligados. Meus meninos são meus amigos, minha turma, meu encanto, meu suor e meu bálsamo. E não há nada no mundo que possa mudar isto. Nascemos eternos, um para o outro. Pra sempre, um para o outro.

9 comentários:

  1. Anônimo19:06

    Gracinha. curtindo saudades né maiê?
    Como já te falei não acho que foi falta de grana não. Sempre achei que estava sendo era expulsa de casa, por te alugar demais... hahahahah
    BUT brincadeiras a parte...
    saudades nega
    amo-te
    beijos

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  2. Minha querida amiga número 1000
    Passei aqui para deixar meu carinho.
    Retribuir a sua visita, que foi a surpresa mais feliz que recebi hoje.
    Beijos no Coração
    Alba

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  3. E aêêê,Valéria! Como C bem disse,família
    é muito mais que pais e filhos,tios,
    sobrinhos,primos,netos,avós,tataraisso, tataraquilo,parentes distantes e parentes desconhecidos;tudo incluso,no final,somos todos "vizinhos de coração"
    mesmo;e,tudo junto ou tudo perto,somos mente,espírito,corpo,alma e o quê mais houver... Parabéns pelos seus frutos,
    frondosa árvore;e que seu cerne esteja sempre assim, eterno.

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  4. Oieee Valéria, por sorte já havia acabado com meu estoque de lágrimas (relendo meu post homenagem pra Mel)senão teria me emocionado com esse post minha amiga. Familia é isso mesmo, eternos um para o outro, mesmo com as brigas inevitáveis . Filhos, ainda não os tenho, mas o que sinto pelos meus sobrinhos , me faz ver o quão coruja seria também com mãe.
    Adorei o post. Demonstrou bem essa ligação que tem com "seus meninos"...

    Beijos minha amiga!
    Márcia Canêdo

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  5. Eu tinha uma amiga do dihitt, a Lena, que nao me esqueço quando ela veio falar comigo o quanto estava sofrendo porque os rapazes dela foram estudar em outra cidade.

    Eu já amarguro isso a cada 7 dias, quando minha filha vai, a contra-gosto, para outra casa e a vejo chorando por isso. Hoje ela não tem escolha, porém nao sei dizer qual será a escolha dela quando maior.

    Que Deus me de força para aguentar tudo, porque ela é minha vida. Nada mais tenho e mais quero senão somente ela. Ela é minha felicidade. A minha felicidade é a dela.

    Entendo, querida, cada palavra linda falando de seus lindos filhos. Eu senti tudo a cada ponto final que findou um sentimento.

    Beijos

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  6. Anônimo23:18

    The Vallery,

    Quanta coisa rolou e agora reina a paz e a harmonia! Que ótimo.

    Uma coisa e certa: rapadura é doce mas não é mole.

    Beijos na sua alma.

    Obs/ MV e JV: vocês tão com tudo na bolsa de valores/afetos da sua mãe! Parabéns!

    Jack

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  7. Oimoça tudo bem obrigado por ler meu diario,é verdade estoupassando por uma situação nada agradavel, mais quemnão esta né, ah a foto foi mai mal é como estou me sentintosabeemmeio a essaloucura todaque estou passando estou todo retalhado só que por dentro sabe
    tenho uma hitória linda e outra que é um pesadelo e não estou conseguindo sairdo pesadelo quanto mais eu tento sair mais eu me aprofundo...mais estamos ai né, fique observavdo e veras o que vempela frente vai está tudo escrito la minha história daria um livrvo interessante...pena que eu não sou muito bom em escrever...hehehe.se não escreveria um livro.

    Bjs... moça fique com DEUS

    Sinceramente: John Paul.

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  8. Oi Valéria! Que lindo vim ler aqui!
    Sei como é isto.Quando saímos de São Paulo eles ainda estavam pra casar e ficamos mais de 800km de distância. Depois de alguns anos, era por email que eu falava com eles. E viva o computador! por isto adoro, aproxima a gente de quem a agente gosta,
    Lindos seus filhos,né? Coisa boa esta benção que a gente teve da vida e de Deus!
    Beijos,Vera.

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  9. Olá!

    Se eu te disser que tenho 22 anos, aos 3 minha mãe precisou mudar de estado pois, prestou concurso e passou, tinha que ir assumir.

    Teve um plano, me deixou com meus avós para me pegar em 6 meses, que era o tempo calculado para se ajeitar mais ou menos. Ao retornar, eu acostumada com meus avós não quis ir, e ela ao ver o sofrimento dos dois, preferiu me deixar com toda a dor em sua alma.

    Sempre passava as férias na cidade dela, mas aquele amor de mãe e filha foi inevitavelmente mais intenso pela minha vó.

    Com o passar do tempo, cá estou com meus quase 23, tendo que sair de casa para casa e fz especialização. Hoje minha vó diz que a história se repete. E eu até agora com 8 dias antes de ir embora, entro em meu quarto e lamento não poder levá-lo comigo.

    Hoje meu coração se encontra apertado e não o que dizer. Os filhos sofrem tanto quanto os pais.

    Belíssimo texto.

    Sucesso aos 3!

    =D

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