O Rato e o Amor do Rato


Foto do meu quintal, tirada por mim às 5 da tarde.




O quintal da minha casa dá vistas para um quadro. Bem do alto da varanda, consigo ver, lá no fundo, carros que cruzam o asfalto da BR 365 ligando Montes Claros a Brasília. Se sentada na mesinha da cozinha, contemplo a pintura perfeita que, magistralmente, embaralha todos os tons de verde nas árvores, arbustos, capim e os pés de fruta que brincam com vento sob as bençãos de um céu infinitamente azul. Visualizou? O quintal da minha casa é uma fazenda.

Daí que não é nada incomum que micos, pássaros, cobra-cipó, sapos, aranhas, ratos, saruês e outros bichos venham, volta e meia, fazer uma sondagem, buscar comida ou mesmo abrigo na minha casa. Uns morrem no chinelo, outros espanto com a vassoura, outros, mantida uma certa distancia, espero a hora de convida-los a se retirarem, como numa madrugada em que um saruê resolveu dormir perto de mim, dentro do meu guarda-roupa, na maior folga do mundo.

No caso do saruê esperei o dia amanhecer e pedi ajuda aos vizinhos para providenciarem a sua retirada. Manhã movimentada, muitos gritos de “mata mata, ele come galinha” facilmente derrubados com a minha argumentação óbvia: “deixa ele vivo, a gente também come galinha. E ademais, a única plumada que tem aqui sou eu e a mim ele não fez nada”. Contexto acatado, ânimos acalmados e o bicho foi embora, ileso, com direito a uma espreguiçadela bem na porta de saída. Provavelmente aquela não fora a primeira noite. Sua atitude mostrou que me conhecia muito mais que eu a ele. Sabia que sou de paz e o defenderia. Estava numa boa.

Mas espera ai, eu disse ele o saruê, não os ratos.

Ah, eu detesto rato. Até já matei um e admito, no medo. A aversão é tanta que, se na madrugada, eu precisar levantar para um simples copo de água e suspeitar que existe um na minha cozinha, morro de sede, mas não enfrento o bicho. Além do medo, a birra também é grande, e até faço campanha contra eles. Já distribui gratuitamente veneno contra rato para meus vizinhos humanos, montei pequenas cartilhas falando o mal que ele faz e ainda protagonizo escândalos quando dou de cara com um. Estou sempre em busca de venenos aniquiladores e aberta a novas propostas de extermínio para este dito-cujo.

Mas eis que o melhor desta batalha aconteceu quando, foliando o catalogo de um vendedor deparei-me com uma peçonha digna de um grande algoz. O tal anuncio mostrava um veneno que tinha como atrativo, não o cheiro de queijo ou outra comida. Melhor que isto, ele cheirava a sexo. Explico: o veneno era um afrodisíaco capaz de enlouquecer machos e fêmeas para o amor.

Noite estampada no céu, arma inusitada na mão, mal me continha para testar a eficácia do produto. E assim foi.
Colocado em pontos estratégicos o(a) rato(a) deve ter ficado tão enlouquecido(a) que trocou a rodelinha de lugar várias vezes. Provavelmente, enamorado(a), deu-lhe pequenas mordidelas e por isto a arrastou para cantos libidinosos. Deve ter brincado, abraçado, jurando estar amando e sendo amado. Foi, voltou, se esfregou, amassou, num silêncio que eu arriscaria dizer, amoroso.

Enquanto se esbaldava e se deliciava, entorpecido na dedicação, engoliu pedaços da sua nova paixão. O tóxico então, caiu na corrente sangüínea e como num amor louco, parou seu coração e ele morreu embriagado de paixão e tesão. Quando pela manhã encontrei o bicho morto ao lado do seu amor-veneno fiquei pensando que ele ou ela morreu feliz. Posso jurar mais? O bicho sorria!

Na loja, quando me pedem um “remédio pra rato” e conto a história do falecimento lá em casa, encontro nos meus clientes o mesmo sorriso macabro que o meu. Todo mundo gosta de ver o circo pegando fogo, ainda mais se tiver um rato dentro. E cientificamente falando, - já que cientistas usam ratos para testar a reação humana – a experiência comprova a citação: “cupido é só libido; o resto é literatura”.

26 comentários:

  1. Anônimo00:51

    Saudações!
    AMIGA,
    Que história fascinante!
    Deve ter sido uma experiência e tanto saber que o ratto morreu de amor e ainda sorrindo!
    Um post absoltumante extraordinário!
    Parabéns pelo Post!
    LISON.

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  2. Poderia ser feita uma parceria com os chineses .. exportariamos nossos ratos ...... bem, Brasilia ficaria com medo, muito medo.

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  3. Anônimo01:53

    olá querida. adorei seu texto.
    tadinho do rato...
    :-)

    bjs

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  4. Ai minha amiga... achei fantástico! Já enfrentei diversas vezes a mesma situação, mas não com ratos e sim com as malditas baratas!
    Adorei a história e os detalhes, dei boas risadinhas aqui.

    Grande beijo da amiga Re

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  5. Lindo texto amiga morreu, mais com o seu coração feliz, cheio de amor.
    Abraços forte

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  6. Salve, querida !Confrade!
    AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH
    Eu me considero um bibliófilo e tenho uma certa predileção pelas crônicas, com seu conteúdo jocoso e seu humor mordaz, porém, devo confessar, poucas vezes tive oportunidade de experimentar uma narrativa tão consistente, de rítmo tão cadenciaddo, no discorrer de uma figura de linguagem tão rica e vívida, numa verve de causar inveja a qualquer Mário Prata ou Veríssimo de nosso cânone literário!
    E o grã-finale, então, lembrou-me a morte de Grenouille no liivro "o perfume ", de Patrick Suskind, PERFEITO, PEERFEITOO!
    AHAHAHAHAHAHAH!!!!!
    Um grande e carinhoso abraço cheio da admiração deste teu sofrível fazedor de rimas!
    Este sempre teu Confrade: Max Costa

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  7. Rsrsrsrs morreu de amor!!!
    Mas aqui entre nós, cobras aparecem muito por aí? Eu heim! Tenho paúra só de imaginar.
    Adorei o texto, muito bem contado.

    Bjs

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  8. Anônimo20:56

    Valéria

    Que admirável capacidade que você tem para criar contos. Se você me imaginasse lendo o seu conto, você iria rir muito. Comecei a ler e a história foi me prendendo, aumentando, enormemente, a minha curiosidade e eu ansiava pela conclusão. O final foi, fantásticamente, tragicômico.

    Parabéns por essa magnifica capacidade. Tenho que passar por aqui mais vezes.

    Um abraço.

    Nelson (ProfessorNelsonMS)

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  9. Anônimo07:54

    Extraordinária a tua crónica, adorei!
    Cupido é só libido! ehehehehehhe

    Abraços
    Luísa

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  10. Olá querida amiga Valéria,

    Fiquei encantada com sua crônica muito divertida e maravilhada com a sua forma de escrever.
    Um livro seu, rapidamente se tornaria um Best Seller, com toda certeza.
    Beijos e a paz de Deus.
    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

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  11. Valéria!!!

    Você é muito má minha amiga...

    Pobrezinhos dos ratinhos... Eles são tão bonitinhos...

    Ainda bem que você não fez psicologia... kkkkkk Eu tinha um ratinho chamado Teco, pois o Tico era da minha parceira, e eu me apixonei pelo meu ratinho Teco. Quando acabou aquele semestre das aulas de fisiologia, eu poderia trazer o meu Teco para casa, caso contrário, ele iria para o Butantan e viraria comida de cobras... Infelizmente, eu não pude trazê-lo comigo, e preferi que ele virasse comida de cobras, do que comida de gatos... rsss

    Já pensou como eu ficaria se o Teco fosse engolido pelos meus bichanos???

    Bom, mas mudando de assunto... Que negócio é esse de vir à São Paulo? Quero saber quando vem, quanto tempo vai ficar, e pode ficar na minha casa, pois as portas estarão sempre abertas para você, e tenho quarto sobrando aqui. Me liga pra me contar tudo.

    Adorei!

    Bjs.

    Ro.

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  12. Muito boooom Valéria ! HEHEHE
    Eu não queria mostrar esse meu lado horrível... Confesso que eu também mato ! Arrrrgh ! NÃO ! Mando matar !

    Apesar de pretender seguir na minha vida a não-violência do budismo etc., etc., eu acho sinceramente que não precisa ser ao pé da letra.HEHE

    Pra mim é um exagero patético respeitar a vida a ponto de querer poupar ratos! São uns moooonstros ! Há infinitilhões no mundo ! Que dano traria ao mundo se morresse umzinho ou dois , né?

    Lembrei-me agora de uma inseto rastejante que apareceu na varanda da meu jardim ENOOOORME com aproximadamente 10cm e GOOORDO com uns 2cm de diâmetro . A coisa mais feeeeia que já vi na minha vida!! Não queira saber o horror ,o pânico que foi ...
    Não é possível que esses invasores tirem a nossa paz temos que estar preparadas ... HEHE
    beijinhos
    Eninha

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  13. Oi,Kit,digo,Valéria... Se vc já viu não sei,mas no filme Rambo I, tem uma cena em que ele fica preso em uma caverna e,centenas de ratos grandões,tipo ratazanas,fazem uma festa em cima dele;
    mordendo,arranhando e sabe-se lá mais o quê ou como; e, dependendo da sua ratofobia,esse filme de Ação,viraria um Terrorzão pra vc... Massssss,
    esse seu medo,tem uma origem com certeza,e quando vc souber disso,de onde ele vem e o por quê dele, dará muitas risadas com a cena do Rambo,que de terror na ação, passaria à ação terrível da comédia, e tu morrerias de rir... Adorei a crônica e tb o seu quintal... Então é isso;vá lá e resolva suas questões pessoais e recarregue as baterias;eu,estarei com meu olho aqui em teu espaço. Um abraço pra vc.

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  14. Que escolha maravilhosa para retratar o quão talentosa és com as letras.
    Ficarei com saudade de suas crônicas, mas sei que é provisório.
    Meu libido por suas palavras serão recompensadas por maginíficas pérolas que trarás na mente e nas mãos.

    Até breve minha querida amiga!!!

    Um forte abraço!

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  15. Amiga Valéria, o seu conto é sensacional. Mas você não é a única a ter medo de ratos, pois a maioria das mulheres têm esse mesmo medo, e também conheço muitos homens que também têm. Mas não precisa exterminá-los dessa forma minha amiga, eles não são tão cruéis quanto parecem ser... rss Parabéns pela postagem. Abraços. Roniel.

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  16. ain pra q ter medo du bichim eles são tão meigos amaveis e simpaticos,
    com akeles dois dentoes amarelos q deixa eles muito gato kkkkk i akele rabinho q coisa mais cute cute e seu pelim macio como plumas(sera q é pelo ou pele aaa tanta fazz), eu sou apaixonada por rato ratinhos e ratoes
    ma gosto tanto deles q quando vejo um grito ma grito mundo se possivel subo em cima de qualquer coisa q me mantenha londe deles sabe pra tipo eu naum cometer uma loucura kkkk
    acho q ja matei algns e susto com meus gritos!!!
    bjo grande

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  17. Sensacional!
    Olha eu tenho uma certa experiência de pegar ratos , ja que durante algum tempo eu trabalhei nessa área de desratização , mas Esse veneno eu não conheço .

    Mas de qualquer forma , adorei sua história .

    abs
    Francisco

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  18. Valéria,

    Parece que hoje é o dia dos "textos das revelações profundas". Primeiro foi o do Sérgio - O tempo leva tudo - e agora o seu, com essa história (não estória) do (a) ratinho (a) que (não) morreu "no veneno" e até morreu sorrindo.

    Confesso que, em vez de ter lido esse e o texto do Sérgio, deveria ter ido fazer alguma outra coisa qualquer, para não acrescentar algo mais a pensar. Não é uma queixa ou lamentação. Às vezes acontecem coisas que não entendemos, mas fazem parte.

    Acredito que não foi por acaso. Fui direcionado aos dois textos para mais reflexões sobre a vida, pessoas, sentimentos e o tempo.

    Tenho o defeito de escrever muito. Não me contento com poucas palavras. Não possuo poder de síntese ainda que o tenha perseguido por toda a vida. Acredito que é um dom, uma virtude de alguns poucos abençoados nesta vida: dizer tudo numa única frase ou palavra.

    Não gosto da palavra despedida - ainda que seja por pouco tempo ou por algum tempo - como também não gosto da palavra saudade. Esse não gostar não é uma aversão, mas todas as vezes que ela está presente parece ter a ver com o que o Sérgio escreveu:

    "Todos nós sofremos traumas. Rugas internas que denotam o quanto somos humanos.

    Qualquer fato que traga à tona o momento gera desconforto e um aperto no coração.

    Esse é um órgão, poucos sabem, cheio de areia, onde palavras sobre alegrias e dissabores são escritas.

    (...) Um sopro do vento, que o tempo traz, provocando as ondas da sabedoria que deslizam nas areias do coração, faz milagres."

    Despedida e saudade parecem formar um conjunto com o tempo e areias depositadas no coração.

    Acredito que cada um de nós precisa de médicos e remédios em certos momentos da vida. Também não gosto, não quero e não vou falar destas coisas. Apenas desejar-lhe um novo coração.


    Abraço do amigo,


    Antonio

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  19. Val, como assim: erros no coração?! Espero que seja força de expressão! Voce usou "no" e não "do".... Não me deixe aflita.

    Eu ri um bocado com seu texto, pq eu faria o mesmo, não suporto ratos e algum deles ter morrido embriagado de amor....kkkkkk... ao menos morreu feliz ! No seu caso, foi correspondido e o amor foi tamanho que parou de respirar! aiiii isso realmente, como sorriram, meio macabro!

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  20. Salve, minha querida e linda Confrade!
    Eu lhe digo com toda a definitiva certeza de que pode ser capaz este ambíguo ser relativo que é o artista ou o amador da arte: Estava e está até hoje absolutamente certo o príncipe Hamlet:"Mais mistérios há ocultos entre o céu e a terra..."
    Porque me refiro a este fato? Porque houve neste dia, toda uma conjuntura de convergências que culmiram por me colocar à frente do PC neste dia e nesta hora, para que eu pudesse mais uma vez, desfrutar o prazer de absorver tua verve primorosa e poder te enviar ao vivo, o meu sincero carinho antes que te ausentes de nosso convívio virtual!
    Mais um vez parabéns! E, por favor, seja breve em seu retorno!
    O Cavaleiro Virtual te abraça com ternura!
    Este sempre teu Confrade: Max Costa
    P.S. Eu te envei uma mensagem particular, se puder, leia e me responda!

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  21. Tá vendo só, Valéria? Esta tal libido é mesmo uma coisa muito séria, eu já sabia!!
    E, quero te contar que, o único bicho que é pior que rato pra mim, é o morcego, pois é o danado do rato com qsqs e pior! enxerga no escuro ( uma vantagem sôbre mim!).
    Vou te mandar pelo email o meu telefone. Me liga se eu puder ajudar em alguma coisa. Boa sorte minha amiga e até breve!
    Beijo
    Vera.

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  22. Ai Valéria,eu rí muito aqui mesmo morrendo de dor de estômago que hoje num tá me dando trégua. Não te imaginava tão maquiavélica assim viu..kkkkkk Não simpatizo com ratos, baratas e afins, mas matar também num sei..espanto eles pra longe apenas..rs
    Minina me explica que raios de bicho é esse que tava no seu armário? nunca ouvi falar desse bicho não.
    Adorei a crônica,o rato morrer sorrindo foi no mínimo tragicômico, mas tudo bem..rs No mais sobre sua ida a SP vai dar tudo certo e na medida do possível acredito que sempre nos brindará com boas histórias senão aqui em outros ambientes.
    Beijos no coração
    Márcia Canêdo

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  23. Olá minha querida!
    Adorei a sua narrativa...simplesmente envolvente! Até eu queria matar o rato e o pior: sorri quando ele morreu de amor e ainda sorrindo! kkkkk
    Querida, só gostaria de entender melhor o motivo de sua "ausência". Somos recém conhecidas...rs...então estou um pouco por fora! Seu blog é um encanto!
    Grande beijo,
    Jackie

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  24. joana08:32

    Valeria
    Fiquei muito feliz por saber que voce vai,mas volta,sua presença nos faz bem,adoro ler suas postagens!!!!
    Quantos aos bichos,sou como voce:odeio ratos e rastejantes e aranhas.......foram poucas as vezes que me encontrei com ratos:fico paralizada de medo.tive sorte,porque sempre estava acompanhada...se não desmaiava...rsrsrsrs...
    Um dia estava na fazenda dos meus avós,e notei algo que se mexia entre as folhas das couves...era uma ratazana.nunca tinha visto tão, grande,concerteza que estava prenha...ela virou-se com os olhos fitos em mim...imagine só ...me agarrei á laranjeira e subi por ela acima....e desatei aos gritos...rsrsrsrs...e ela continuava no mesmo sitio...imagine a gozadeira que foi...quando meu marido e amigos chegaram...mas o certo é que deram cabo dela...rsrsrs...

    Bem, querida amiga,tudo vai dar certo com voce,vai correr tudo bem,e voltará aqui renovada e feliz!!!!...

    Te espero!!!!...

    Beijnhos e um xi-coração!!!!

    joana

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  25. Valéria, vc tem um jeito especial de nos conduzir ao clímax. Quanto ao comentário do Joselito, esse veneno ão serve pra Brasília. Eles não merecem tanta felicidade!
    E ficamos sem saber o nome da maravilha. Será que tem pra humanos?
    Por que estou perguntando? Por nada, por nada!...
    Espero que volte logo, viu?!..

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  26. Como diz um amigo: " Ri à desbragada!"

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